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Girinos do Brasil

Com padronização de coletas, integração de dados, divulgação científica e a organização de um workshop internacional, projeto mapeia diversidade de girinos e auxilia na ampliação de estudos sobre essa fase de vida dos anuros no Brasil.

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Identificar e estudar as primeiras fases de vida dos anfíbios, considerada de difícil compreensão, é o desafio do projeto “Girinos de Anuros da Mata Atlântica, Floresta Amazônica, Pantanal, Cerrado e Ecótonos do Nordeste: morfologia, distribuição espacial e padrões de diversidade”. Financiado conjuntamente por Fapesp, CNPq e CAPES, o projeto é coordenado pela pesquisadora Denise C. Rossa-Feres, da UNESP de São José do Rio Preto.

“Nosso principal objetivo foi avançar no conhecimento sobre a diversidade e ecologia dos girinos do Brasil, por meio de amostragens em campo em diferentes biomas”, comenta Denise. A morfologia e a ecologia dos girinos são os focos principais do banco de dados construído a partir desse projeto, o qual será futuramente aberto a toda a comunidade científica. O trabalho foi realizado em uma escala geográfica ampla e, especialmente, com metodologia padronizada para as coletas, assim como os indicadores de caracterização dos ambientes. Para chegar a essa padronização foram necessárias várias reuniões entre os especialistas envolvidos no projeto e muita discussão. E rendeu frutos: “a padronização dos dados e das descrições nos permitiu um processo de identificação mais rápido das espécies mas, principalmente, nos permitiu montar esse banco de dados no qual todas as informações e coletas conversam e, assim, as possibilidades de análise se ampliam”, explica Denise.

Para que essa padronização acontecesse com o cuidado e a amplitude necessárias para o projeto, o primeiro momento de trabalho foi destinado à montagem dessa metodologia e integração entre as equipes. O banco de dados foi, então, organizado a partir de cinco conjuntos de dados:

  1.  riqueza de espécies (para cada corpo d’água)
  2. composição de espécies e abundância (para cada corpo d’água)
  3.  morfologia externa (56 caracteres nominais para todas as espécies de cada bioma)
  4.  morfometria (19 morfométicos para 2 a 10 girinos, por espécie, de cada corpo d’água)
  5.  variáveis ambientais (12 variáveis de corpos d’água e três de paisagem circundante)

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Só depois de terem a metodologia discutida e organizada é que os pesquisadores se dedicaram ao trabalho de inventariamento e identificação das espécies. “Além das amostragens em ampla escala espacial, nós realizamos um mapeamento das coleções biológicas, o que nos permitiu identificar lacunas geográficas no conhecimento dos girinos”, ressalta Denise. Foram mais de mil corpos d’água examinados em todo o Brasil, além da digitalização das informações museológicas. O mapeamento da distribuição geográfica das espécies, portanto, foi feito tanto por meio das coletas quanto por meio do trabalho de digitalização dos dados das coleções biológicas.

“Como as amostragens foram realizadas em áreas lacunas de conhecimento, muitos girinos coletados não estavam ainda formalmente descritos”, explica Denise, äté o momento, foram publicadas as descrições dos girinos de 14 espécies e outros girinos estão em fase de descrição”. A base de dados em morfologia e o projeto tiveram como um dos principais objetivos desmistificar essa fase da vida dos anuros, cujo estudo é ainda considerado difícil, disseminando o conhecimento sobre sua morfologia e facilitando sua identificação.
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O segundo momento foi a utilização desses dados para a compreensão de processos biológicos, ecológicos e evolutivos como, por exemplo, as análises a respeito dos padrões de diversidade em múltiplas escalas, e de processos responsáveis por formar as comunidades de girinos, associados tanto ao nicho ecológico e interações entre as espécies, quanto a processos de dispersão entre diferentes habitats, o que é influenciado pelo tipo de matriz circundante aos habitats (pastagem ou monocultura, por exemplo).

Outro fruto do projeto é uma coleção com seis livros destinados à divulgação científica. Já em fase de impressão gráfica, esses livros se destinam a crianças e adolescentes . A coleção está organizada por Bioma e cada livro trata de um aspecto da vida dos girinos. Tudo isso recheado com muitas fotos e ilustrações. Os livros serão disponibilizados em formato PDF no site do Programa Biota/Fapesp e seus títulos são: (1) Do girino ao adulto há muitas histórias para contar: apresentando os girinos do Brasil; (2) Girino de todo o jeito! Conhecendo os girinos da Mata Atlântica; (3) Diferentes formas de nascer: conhecendo os girinos da Amazônia; (4) Girinos comilões: conhecendo os girinos do Pantanal e do Chaco; (5) Salvando a pele: conhecendo os girinos do Cerrado; (6) Histórias de vida: conhecendo os girinos da Caatinga

Um outro livro, este com os dados acadêmicos do projeto, especialmente a caracterização morfológica e fotos dos girinos conhecidos para o Brasil, está em fase de produção e deve ser lançado até o final de 2015.

Workshop internacional

Um dos produtos deste projeto é o “Workshop Internacional sobre Girinos: integrando morfologia, biologia, ecologia e sistemática” que acontecerá entre os dias 16 e 17 de março de 2015 na UNESP de São José do Rio Preto. A proposta do Workshop é reunir pesquisadores brasileiros e estrangeiros para discutir as lacunas ainda existentes no conhecimento sobre Girinos do Brasil e criar estratégias para preencher essas lacunas.

“É a primeira vez que pesquisadores renomados na área como Richard Wassersug, da Salhousie University (Halifax, Canadá) vem ao Brasil e queremos aproveitar a oportunidade para reunir grandes especialistas nessa fase da vida dos anuros, visando ampliar as cooperações científicas tanto com outros paises como dentro do Brasil, integrando diferentes visões e perspectivas”, diz Denise, que também é organizadora do Workshop.
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A idéia do Workshop é estimular a troca de informações e as discussões entre profissionais e estudantes de graduação e de pós-graduação, sobre a grande potencialidade dos girinos para estudos de campo e experimentais sobre ecologia de populações e comunidades, quanto para estudos de sistemática, morfologia evolutiva e como organismos alvo para estudos de impacto ambiental (em áreas de desmatamento ou poluição, por exmeplo).
As inscrições estão abertas até o dia 6 de março (as vagas são limitadas) e as informações detalhadas estão disponíveis no site: https://tadpolesbrazil.wix.com/tadpolesworkshop. Dúvidas podem ser enviadas diretamente para o email: tadpoles.brazil@gmail.com

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