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Conservação e seus sentidos em zoológicos e aquários

A análise das diferenças entre os discursos do público e funcionários sobre conservação pode auxiliar na elaboração de estratégias de educação

Zoológicos e aquários são espaços frequentemente lembrados pelo público como um local privilegiado de atividades científico culturais e assumem-se como espaços importantes para a educação não formal voltada à conservação da biodiversidade. Entre os discursos dos materiais e atividades institucionais desses locais e os dos visitantes há diferenças de sentidos e significados atribuídos ao conceito de conservação.

E é em busca de compreender essas diferenças e as potencialidades de trabalho que emergem delas que está organizado o projeto “Conservação da Biodiversidade em exposições de zoológicos e aquários: da informação ao engajamento”, coordenado pela pesquisadora Alessandra Bizerra (Instituto de Biociências/USP),  dentro da chamada para projetos em educação e divulgação do Programa Biota/Fapesp.

Exposição “O Pulo do Sapo” no Zoológico de São Paulo (Foto: Tiago Tardelli)

 

Em projeto piloto no Zoológico de São Paulo a pesquisadora e a aluna de mestrado Hélen Nomura constaram que o discurso do público sobre conservação se aproxima do discurso expresso na exposição da instituição. Entretanto, ambos estão bem distantes do discurso dos profissionais e curadores do Zoológico. Os profissionais da instituição entrevistados apresentam uma perspectiva complexa da conservação em seus discursos, incluindo a articulação entre fatores sociais e ecológicos. Já o discurso expositivo, ou seja, aquilo que é apresentado ao público por meio das placas de sinalização, cartazes e dioramas das exposições analisadas, abordam quase que exclusivamente os aspectos biológicos e ecológicos da conservação, sem incorporar outros aspectos como os sociais, culturais e estéticos, por exemplo. No discurso dos visitantes, por sua vez, a palavra “conservação” não aparece diretamente na relação com as exposições estudadas, muito embora aspectos relevantes e relacionados ao conceito tenham aparecido nas conversas que surgem durante a visitação aos espaços.

Para Hélen Nomura, essa análise não pretende destituir os conhecimentos científico-naturalísticos de sua importância, mas dá elementos para avaliar a importância de incorporar nas exposições outros aspectos. Aspectos sociais, éticos, culturais e estéticos, entre outros, auxiliam a ampliar as possibilidades de compreensão e de conexão do público com a temática. Também não se trata de apresentar e defender uma única visão para a conservação mas de promover a discussão a partir de diferentes pontos de vista, de oferecer ferramentas para que o público faça sua própria reflexão.

Em outra frente pesquisa foram coletados dados no Zoológico de Sorocaba. “Percebemos que em Sorocaba o discurso do visitante está bem mais estruturado, mas em ambos os casos, São Paulo e Sorocaba, talvez não haja um repertório conceitual para falar sobre o assunto”, analisa Bizerra. A ideia de repertório conceitual leva em consideração a atribuição de significados aos termos e as relações que as pessoas estabelecem entre eles. Ou seja, não basta o termo circular entre as pessoas, não basta apenas falar sobre conservação, é preciso atribuir significado e sentidos a ele. “Percebemos que as pessoas entrevistadas compreendem os problemas relacionados à conservação, atribuem esses problemas à ação antrópica, se colocam como pessoas que agem a favor da conservação, mas não encontram as palavras para falar sobre conservação, que é diferente de falar sobre biodiversidade”.

“Uma das coisas que buscamos neste projeto é olhar para diferentes possibilidades de se atribuir significado e sentido à conservação, tentando ajudar na elaboração de ações educativas em zoológicos”, reforça Bizerra. Algumas propostas surgem a partir dessas análises, nunca como soluções únicas e isoladas, mas como um conjunto de possibilidades. Entre elas, as abordagens interativas, a mediação por parte dos educadores das instituições, a maior exploração do domínio afetivo e de experiências emocionais positivas como ponto de partida para despertar o interesse das pessoas, a promoção de experiências estéticas e o estímulo para que os visitantes se posicionem frente a diferentes conflitos.

Referência

Nomura, Hélen Akemi de Queiróz. A conservação da biodiversidade em exposições de zoológicos: diálogos entre públicos e instituição. Dissertação de Mestrado. Programa Interunidades no Ensino de Ciências, Universidade de São Paulo, 2015.

 

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