Scroll Top

Dimensões da vida marinha

Projeto pretende abordar o estudo da vida marinha de modo transversal, investigando padrões e processos em diferentes níveis biológicos relacionando variáveis tempo e espaço em suas várias escalas

 

Integrar biologia do desenvolvimento, ciclos de vida, a especiação, filogeografia, genética de populações, modelagem ecológica de nicho, taxonomia, biogeografia, estudos faunísticos pela perspectiva da micro e macroevolução da vida marinha. Este é o ousado objetivo do projeto temático que utiliza como objeto de estudo os cnidários planctônicos e bentônicos, grupo de animais com ampla distribuição, ciclos de vida e desenvolvimento muito variáveis. Trata-se do projeto temático “Dimensões da vida marinha: padrões e processos de diversificação em cnidários planctônicos e bentônicos” aprovado na chamada para projetos de taxonomia, sistemática e filogeografia. É coordenado pelo Dr. Antonio Carlos Marques, professor associado do Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências da USP/SP. “A ideia é estudar desde o tempo de desenvolvimento de um organismo em questões de ciclo de vida e evolution-development (o que venho tratando com colegas fisiologistas, embriologistas, biólogos do desenvolvimento) até questões sobre a origem e extinção de grupos tão antigos quanto a origem dos animais em si (o que venho tratando com colegas paleontólogos, geólogos e geofísicos). Na escala do espaço, isso varia desde as interações bióticas ou da biologia dos animais (o que venho tratando com colegas ecólogos, bioquímicos e bioinformatas) até escalas espaciais de distribuições amplas, mundiais, que estão no campo da biogeografia (o que venho tratando com colegas oceanógrafos da área física e biológica). O que alinha estas visões, e que busca compreender a diversificação em questões tão abrangentes, é a Evolução” explica Marques.

Chrysaora lactea
Scyphozoan. Foto cedida por Alvaro Migotto.

 

Paralelamente Marques coordena outro auxílio pesquisa regular, cujo título é “Síntese e lacunas do conhecimento sobre os organismos da zona costeiro-marinha Brasil”. Este integra o conjunto de projetos aprovados na chamada para projetos do SisBiota. Portanto, trata-se de um projeto que participa simultaneamente do Programa Biota e do Sisbiota (Fapesp e CNPq). “Neste projeto, a proposta é investigar as consequências dos processos de biodiversidade, analisando criticamente não apenas o conhecimento catalográfico, mas seus desdobramentos em enfoques extras de filogenia, filogeografia, biogeografia, conservação, história natural, bioprospecção, biomonitoramento, etc. todos estes componentes derivados do mesmo processo macroecológico evolutivo” esclarece o pesquisador. A ideia é gerar uma síntese do conhecimento e identificar lacunas. Este estudo derivou de dois trabalhos: um preparado para o MCT e outro para o MMA, ambos na década passada.

Segundo o biólogo marinho, existe a necessidade de atualização dos procedimentos de estudo em biodiversidade, que vá além do conhecimento catalográfico, de forma a englobar abordagens moleculares, evolutivas e biogeográficas baseadas em metodologias formais de análise que considere todos estes componentes derivados do mesmo processo evolutivo. Estes resultados devem repercutir na qualidade do ensino superior até aplicações práticas em conservação e uso sustentável. Para isso, a ideia é disponibilizar bases de dados para futuros monitoramentos, planejamentos, avaliações, etc. Espera-se com isso, atualizar e ampliar o conhecimento sobre os diagnósticos já existentes por meio de uma ação descentralizada de avaliação de especialistas nos diferentes grupos taxonômicos.

A interpretação deste vasto conjunto de informações é vital para planejar conservação com qualidade, e não apenas criar áreas de conservação por razões cênicas ou políticas, afirma Marques. “Com o desenvolvimento dos projetos, já estamos com capacidade de associar parâmetros descritores da biodiversidade, como sua riqueza e seu endemismo, com aspectos dinâmicos da mesma, como por exemplo, o fluxo gênico entre populações relacionado à existência de fases mais ou menos dispersivas em seu ciclo de vida e a parâmetros oceanográficos. Ou seja, dados primariamente científicos podem subsidiar a compreensão de quão única é a história evolutiva de uma determinada área, ou quais são os componentes ecológicos/adaptativos que podem influir em sua composição, etc.”

A equipe de colaboradores dos projetos já conseguiu reunir um banco de dados de 250 mil registros de organismos marinhos na costa brasileira. Este dado será sobreposto com a capacidade de recursos humanos e logísticos das diferentes regiões do país. Desta forma, espera-se visualizar quais as áreas ou ecossistemas estão mais ou menos amostrados, quais têm mais profissionais e em que grupos taxonômicos trabalham, etc. Informações desta natureza são estratégicas para  planejar com qualidade, a conservação e uso sustentável da biodiversidade.

Sobre a participação no Programa Biota, Marques finaliza, “acho importante o vínculo e fortalecimento de um programa comum de pesquisa em biodiversidade, algo que mostre que a comunidade acadêmica tem uma capacidade de organizar-se e agregar informações, usando-as de maneira conjunta e concertada e revertendo em produtos científicos que tenham, eventualmente, aplicações em benefício da sociedade. Isso não se faz sozinho devido à complexidade inerente dos problemas, sejam estes sociais, ambientais, ou científicos. É necessário um programa para isso”

Por Paula Drummond de Castro