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Capa da Biota Neotropica número 20 é parte das celebrações dos 20 anos do Programa Biota/Fapesp

Fig03_S__barbatus_Itanhaem_SP_Foto Ricardo MC Castro2

Por Carlos Joly e Érica Speglich

O ano de 2019 marca os 20 anos da criação do Programa Biota/Fapesp. Uma quantidade de tempo que permite lembranças, avaliações e o surgimento de novas questões e desafios. Afinal, com quantas ideias e quantas ações se faz (e se mantém) um Programa de Pesquisas? Criar, ampliar e manter a revista Biota Neotropica é uma dessas ações.

A criação do Programa aconteceu em março de 1999, quando houve, também, a formalização da Coordenação BIOTA na FAPESP. No entanto, um grupo de pesquisadores reunia-se desde 1996 para discutir os objetivos do que viria a ser o Biota/Fapesp e para ampliar a discussão nas universidades a respeito da importância dessa ideia. Um desses pesquisadores é o professor Ricardo Macedo Corrêa e Castro da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto/USP, que também foi um dos criadores da revista Biota Neotropica. É o artigo publicado por Ricardo Castro e Carla Polaz – Peixes de pequeno porte: a porção maior e mais ameaçada da fauna megadiversa de peixes de água doce neotropicais – que é fonte da imagem da capa da atual edição comemorativa da Biota Neotropica.

Figura da capa do Vol. 20(1): Scleromystax barbatus Quoy & Gaimard, 1824 (Actinopterygii, Siluriformes, Callichthyidae), espécie endêmica dos riachos da Mata Atlântica do sudeste e sul do Brasil. Foto: Ricardo M. C.
Castro

Logo após a formalização do Programa, a coordenação se debruçou sobre quatro questões que haviam sido levantadas nos anos anteriores e exigiam uma rápida solução e implementação.

As duas primeiras questões tem ligação com o objetivo do Biota de integrar dados coletados por diferentes pesquisas relacionadas à biodiversidade. Uma das preocupações dos pesquisadores na época (é sempre bom lembrar que a internet chega ao ambiente universitário brasileiro em 1989 e apenas em 1994 começa a internet comercial no país) era como ter acesso a todos os dados gerados dentro do Programa e antes dele para conseguir uma caracterização adequada da biodiversidade do Estado. Para responder a esse objetivo foi proposta a criação do Sistema de Informações do Biota (SinBiota), um banco de dados disponível online com essas informações.

Para alimentar o SinBiota foi necessário, antes, discutir e finalizar uma Ficha Padrão de Coleta. A definição dos campos obrigatórios dessa Ficha de Coleta exigiu uma discussão detalhada com a equipe de cada projeto aprovado no âmbito do Programa visto que tais campos deveriam ser utilizados por todos os estudos, de microoganismos a angiospermas, de mamíferos a algas. Este processo se estendeu por quase 2 anos até que 9 campos foram considerados obrigatórios e são utilizados até hoje.

A segunda questão que envolvia a alimentação de dados do SinBiota era viabilizar a inclusão dos dados dos acervos de museus, herbários e diferentes tipos de coleções biológicas no SinBiota. Essa proposta visava recuperar a informação coletada por mais de 200 anos antes do inicio do Programa. Este aspecto foi solucionado com o Projeto Sistema de informação distribuído para coleções biológicas: a integração do Species Analyst e SinBiota que acelerou a digitalização dos dados das coleções biológicas, inicialmente do Estado de São Paulo, mas expandindo-se rapidamente para outros estado e países.

A terceira questão dizia respeito a base cartográfica do Estado de São Paulo integrada com o SinBiota para mostrar, por exemplo, a distribuição espacial das coletas realizadas no âmbito do Programa. Este aspecto foi solucionado através de uma parceria com o Instituto Florestal da Secretaria de Meio Ambiente. Desta forma os pesquisadores passaram a ter em mãos uma base cartográfica altamente confiável, de alta resolução (1:50.000) e com camadas (remanescentes de vegetação nativa, Unidades de Conservação, hidrografia, áreas urbanas, malha viária, entre outors) que podiam ser adicionadas on the fly, ou seja o usuário podia customizar o mapa com as informações mais relevantes para o seu trabalho.

A quarta questão urgente se referia à publicação dos resultados dos projetos desenvolvidos no âmbito do Programa, considerando o reduzido número de revistas nacionais com uma abordagem ampla de caracterização, conservação e uso sustentável da biodiversidade. Desta preocupação nasceu, em 2001, o periódico científico Biota Neotropica.

Desde o início, a revista se caracteriza por ser on-line e open source, isto é, está totalmente disponível para download e leitura, sem a cobrança de taxas. Essa é uma característica que se relaciona fortemente com o objetivo do Programa de acesso rápido e gratuito às informações geradas pelas pesquisas em biodiversidade. O formato exclusivo on-line permite que os autores publiquem artigos e listas de espécies recheadas de imagens. Balancear a qualidade dos PDFs disponíveis com o tamanho dos arquivos foi um desafio difícil de ser resolvido em 2001 com a baixa velocidade da internet da época. Batalhar para que as novas espécies descritas em revistas exclusivamente on-line fossem aceitas nos registros oficiais de espécies foi outro desafio, também já resolvido.

Em função de ter adotado, desde o seu lançamento, uma rígida política editorial e de ampliar seu escopo para toda a região Neotropical (isto é, não publicar apenas resultados de pesquisas desenvolvidas no âmbito do Biota), a revista rapidamente se se tornou uma referência na região. Da publicação de apenas um número em 2001 para a publicação de 4 números anuais a partir de 2008, passando pela ampliação da Comissão Editorial, que hoje conta não somente com especialistas brasileiros, mas também com experts de outros países da América Latina, dos Estados Unidos e da Europa. Essas ações permitiram sua indexação no Web of Science/ISI e que chegasse em seu número 20 com fator de impacto de 1.27, um dos mais elevados entre revistas congêneres brasileiras.

A capa do número 20(1) celebra todas essas ações e funciona como agradecimento, por meio da imagem do artigo de Ricardo Castro, a todos que participam e constroem o Programa Biota. A nova revista com a capa comemorativa estará disponível a partir da segunda semana de janeiro de 2020 no Scielo e no site da revista.