O estudo da biodiversidade enfrenta inúmeros desafios cotidianamente. Talvez o mais premente seja a coleta de dados e a metodologia de análise, muitas vezes o coração de uma pesquisa científica. Estas questões têm origem alógena (externa), como a supressão de áreas naturais e extinção de habitats e espécies; e origem autógena (interna), inerentes aos próprios desafios impostos pelo avanço do conhecimento. Os desafios alógenos muitas vezes estão além da atuação do pesquisador por si, mas da sua interação com tomadores de decisão. Já os desafios de origem autógena evoluem à medida que a ciência se desenvolve, ou seja, criando novas técnicas que possibilitam responder velhas perguntas e criar outras tantas novas. Este movimento progressivo de pergunta-resposta-pergunta desenha ao longo do tempo uma grande espiral que representa a incessante busca do ser humano por novos conhecimentos. É disso que se trata a ciência.
Neste Boletim Biota Highlights, apresentamos um conjunto de projetos que têm como desafios a coleta de dados e a proposição de novas metodologias que correspondam às necessidades específicas da compreensão dos mecanismos relacionados à conservação da biodiversidade. Retratamos também um projeto que alerta para a degradação do uso do solo e a relação com a conservação da biodiversidade.
A reportagem Mergulho nos Mares Profundos traz a experiência do projeto Biodiversidade e Conectividade de Comunidades Bênticas em Substratos Orgânicos (ossos de baleia e parcelas de madeira) no Atlântico Sudoeste Profundo no desenvolvimento de inovações metodológicas para a pesquisa em mar profundo, com a adaptação de instrumentos de coleta para uma melhor amostragem e com menor custo.
Árvores, Arvoredos e Florestas apresenta o livro de mesmo nome no qual os autores procuram abordar os conceitos, princípios e fundamentos da quantificação florestal deixando clara a relação estreita entre medir, estimar e modelar nas pesquisas da área.
Na matéria Promissora ferramenta para identificação, comparação e avaliação de diversidade microbiana, o Dr. Edson Rodrigues Filho relata as dificuldades de identificação de micro-organismos. Inicialmente esta atividades era realizada pela análise macro e micro morfológica dependendo (e carecendo) de intensa especialização profissional. Posteriormente, aprimorou-se a identificação por meio das poderosas técnicas de biologia molecular. Essas duas estratégias, ou combinações delas, são sempre muito demoradas e às vezes inconclusivas. Os MSPs (main spectrum) são usualmente tratados como uma impressão digital do micro-organismo surgem como mais uma proposta para atender esta demanda dos taxonomistas de micro-organismos.
No caso dos ambientes costeiros e marinhos, a coleta de informações é um dos importantes desafios. Os ambientes costeiros sofrem pressões resultantes da ocupação humana e das mudanças climáticas, e em muitos ambientes a falta de informação disponível pela inexistência de estudos faz com que seja muito difícil avaliar e distinguir alterações naturais e antrópicas. Essa é uma realidade global, e em várias partes do mundo têm sido criados sistemas observacionais permanentes e multidisciplinares, que permitem análises em diversas escalas de tempo. A matéria sobre o Sistema de Monitoramento da Costa Brasileira – SiMCosta apresenta um sistema observacional costeiros que otimiza esta coleta de informações por meio de uma rede de informações. Para coletar estes dados, foram instalados equipamentos chamados de boias meteo-oceanográfica. A ideia é disponibilizar à comunidade científica e aos gestores públicos todos os seus dados tendo com premissa o contínuo e livre acesso aos dados e às análises geradas.
A reportagem Conservação logo abaixo dos nossos pés: como a conservação do solo pode ser uma grande aliada na conservação da biodiversidade? traz discussões sobre como o uso e ocupação do solo de forma predatória altera propriedades naturais do solo, tendo como base um projeto de pesquisa que objetiva avaliar a degradação ambiental em bacias hidrográficas urbanas tomando como base indicadores pedológicos, florestais e hidrológicos buscando entender a dinâmica territorial do distrito de Barão Geraldo (Campinas-SP).
Outras notícias que compõe a página do Programa Biota também se interligam a essa discussão, como a sobre a importância das infraestruturas eletrônicas para biodiversidade para a integração das diversas iniciativas globais e para o alcance de uma grande e livre troca de dados, ferramentas e tecnologia.
Tais caminhos de pesquisa tem reflexos diretos em iniciativas como a Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, que inicia seu projeto piloto de construção de diagnósticos regionais e sobre degradação e restauração ambiental com a participação de diversos pesquisadores brasileiros (veja a notícia Jovens pesquisadores brasileiros serão co-autores dos diagnósticos da IPBES e 1° Avaliação Regional-Américas da IPBES).
Aproveitamos para ressaltar os novos movimentos de divulgação do Programa Biota/Fapesp. Tendo como foco um público mais amplo que os pesquisadores envolvidos, a home page do Programa e o perfil oficial no Facebook passam a ter um processo cotidiano de atualização de dados, projetos e temas de interesse para a pesquisa e conservação em biodiversidade.
por Paula Felício Drummond de Castro e Érica Speglich