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Inventário histórico publicado na Biota Neotropica reforça a linha de pesquisas em vírus de plantas

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Quando aparece uma doença inédita em variedades de plantas na agricultura o primeiro passo é isolar e, em seguida, identificar o agente causador para, então, buscar uma solução para o seu controle e reduzir os impactos decorrentes. As plantas, como todos os seres vivos, são suscetíveis a diversos vírus. Embora não causem danos dramáticos e extensos às atividades humanas como alguns vírus humanos e animais, os vírus de plantas possuem uma ação sutil que pode causar perdas consistentes e constantes na qualidade e quantidade da maioria das plantas cultivadas.

Para uma identificação adequada do vírus e da doença, um passo importante é contar com boas fontes de informação. A área de virologia na agricultura pode contar agora com mais uma fonte de informação de registros históricos da área: uma lista dos vírus e viroides de plantas descritos para o Brasil entre 1926 e 2018 acaba de ser publicado na revista BiotaNeotropica. O autor é o professor Elliot Kitajima, da Esalq/USP, que iniciou a coleção de artigos em virologia de plantas agrícolas em 1958, quando começou a trabalhar na área.

“A intenção da linha de pesquisas em virologia na agricultura é conseguir identificar o vírus causador da doença, avaliar sua importância e desenvolver estratégias para o seu controle”, explica Kitajima, “a identificação é um dos momentos iniciais, por isso a importância dos inventários, eles nos auxiliam nesse processo”.

Micrografia eletrônica de transmissão de uma preparação purificada, contrastada negativamente, do vírus do mosaico verde suave do fumo (Tobacco mild green mosaic virus- TMGMV, gênero Tobamovirus, família Virgaviridae), de Nicotiana glauca Graham experimentalmente infectada. Foto: Elliot Watanabe Kitajima

De acordo com o artigo, de 1926 a 2018 foram registradas no Brasil 213 espécies de vírus e 6 de viroides de plantas, pertencentes a 57 gêneros e 22 famílias e 6 ordens, oficialmente reconhecidas internacionalmente. Os artigos, teses, dissertações, resumos de congressos, textos de divulgação, boletins, entre outros documentos que serviram de base para esse levantamento totalizam cerca de dez mil referências. Esses materiais estão sendo digitalizados em formato PDF e, em breve, também estarão disponíveis para consulta online.

Após a identificação do vírus é preciso estudar as formas de transmissão (como os pulgões, por exemplo), formas de cultivo que auxiliem a diminuir o impacto da doença (como a rotação de culturas) e experimentar com diferentes variedades para encontrar quais as mais resistentes. Os mecanismos de controle da disseminação dos vírus de plantas são prioritariamente preventivos, assim como os vírus de animais e humanos. “Temos que evitar que o organismo se dissemine de uma planta para outra por meio de medidas fitosanitárias e minimizar efeitos da doença por meio da manutenção da saúde geral da planta, melhorando a adubação, por exemplo”, explica Kitajima.

Criar variedades de plantas resistentes aos vírus é uma das soluções de longo prazo para a agricultura. Essa criação pode ser dar por meio do uso da tecnologia de transgenia ou por meio de cruzamentos entre variedades mais utilizadas na agricultura e outras menos utilizadas ou, ainda, variedades pouco conhecidas e não cultiváveis mas que tenham resistência às infecções virais. “Conhecer e preservar a diversidade de plantas alimentícias é muito importante para garantir a possibilidade de encontrarmos variedades resistentes”, ressalta Kitajima.

Além do inventário de espécies, o artigo traz elementos importantes para reconstruir a história da ciência na área de virologia no Brasil e no mundo, iniciada com os estudos sobre o vírus do mosaico do tabaco, ao final do século XIX. Pesquisadores da época identificaram que o agente causador do mosaico do tabaco continuava a infectar outras plantas mesmo após passar por filtros que retém bactérias e continuaram os estudos até o início de 1930 quando conseguiram isolá-lo e o final da mesma década quando puderam visualizá-lo por meio dos primeiros microscópios eletrônicos.

No Brasil, a pesquisa em virologia de plantas começou na década de 1930 e um dos casos mais emblemáticos da importância das pesquisas na área foi o controle da doença chamada de “tristeza dos citros”, causada pelo vírus Citrus tristeza virus (CTV) especialmente nos cultivos de laranja do estado de São Paulo. A doença chegou a atingir cerca de 90% das plantas da região e graças às pesquisas subsequentes a citricultura paulista se reestruturou e hoje é a maior produtora mundial de suco industrializado de laranja.

O estudo estará disponível na revista BiotaNeotropica a partir de 08 de maio em português e inglês.

A Agência Bori e a Agência Fapesp apoiaram a divulgação deste artigo.