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Pesquisas apoiadas pela FAPESP ampliaram o conhecimento sobre os oceanos

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Balanço de 300 projetos financiados pela Fundação desde 1972 aponta contribuições para a compreensão da vida marinha, principalmente após o início do Programa BIOTA, em 1999. Um dos desafios para o futuro é expandir os estudos em águas profundas

André Julião | Agência FAPESP – Ainda que continuem menos conhecidos do que a Lua, os oceanos receberam bastante atenção dos cientistas nas últimas décadas. Uma parte importante dos estudos foi realizada com o apoio da FAPESP, conforme atesta um levantamento conduzido por pesquisadores das universidades de São Paulo (USP), Federal do ABC (UFABC) e Estadual Paulista (Unesp) publicado na revista Biota Neotropica. O artigo é parte de uma edição especial dedicada aos 60 anos da FAPESP, comemorados em 2022.

Maré baixa na Praia da Fortaleza, em Ubatuba, litoral paulista: maior parte das pesquisas marinhas ainda tem como foco as áreas costeiras (foto: Mariana Cabral de Oliveira/USP)

Entre os 300 projetos analisados desde 1972, 46 foram apoiados no âmbito do Programa BIOTA, que foi lançado em 1999 e ampliou significativamente o número de pesquisas dedicadas a explorar o oceano. Esse aumento se deu principalmente a partir de 2010. No ano anterior, foi lançada uma chamada específica para projetos dedicados à compreensão desse ambiente, ampliando desde então o escopo do programa. Ainda constam 13 projetos no âmbito do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG), lançado em 2008.

“O trabalho não pode ser visto como o estado da arte da área marinha ou oceânica no Brasil, porque temos um recorte bem específico. Não olhamos o conjunto total das pesquisas oceanográficas no Brasil e nem mesmo no Estado de São Paulo, uma vez que não incluímos nas análises projetos financiados pelo CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico] e outras agências de fomento à pesquisa. Por outro lado, de certa maneira, o levantamento reflete o que é feito em São Paulo e no resto do país”, conta Mariana Cabral de Oliveira, professora do Instituto de Biociências (IB) da USP, que foi membro da coordenação do BIOTA entre 2009 e 2018 e coordenou o estudo.

A USP, universidade mais antiga do Estado e que já existia na época da criação da FAPESP, em 1962, ainda detém a maior proporção dos projetos na área marinha financiados pela Fundação. São 66% para a instituição, seguidos de Unesp e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com 9% cada, e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com 6%.

Até os anos 1980, porém, essa desigualdade era maior, com a USP concentrando 82% dos projetos. O aumento da fatia do bolo das outras instituições se deu em parte pela criação de novos centros, como o Câmpus do Litoral Paulista da Unesp (CLP), em São Vicente, criado em 2002; a UFABC, em 2005 e o Instituto do Mar (IMar) da Unifesp, de 2007. Historicamente, 47 instituições públicas e privadas tiveram projetos financiados pela FAPESP na área marinha.

Desafios futuros

Para os autores, a importância da FAPESP na área marinha reflete a força da instituição em todos os campos da pesquisa no Estado de São Paulo, influenciando a ciência em nível nacional e internacional. Isso porque a Fundação tem como princípios a pesquisa multidisciplinar, fornecimento de infraestrutura, níveis relativamente estáveis de financiamento e colaborações no Brasil e no exterior.

“A criação da modalidade de projetos temáticos, em 1990, foi importante por financiar projetos de longo prazo, em redes, com equipes maiores, de forma a responder questões que não seriam possíveis em projetos regulares, que duram dois anos”, pontua Oliveira.

Essa visão, refletida ainda no lançamento dos programas Genoma (1997-2008), BIOTA e de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais, junto com acordos bilaterais de financiamento com instituições estrangeiras, foi importante para mudar a abordagem prevalente até então, de pesquisa incremental, para projetos mais ambiciosos tanto do ponto de vista teórico quanto voltados à resolução de problemas. Com o BIOTA, traz-se ainda uma visão mais integrativa da biodiversidade como uma conexão entre elementos biológicos e culturais.

Para o futuro, os autores identificam como lacuna a ser preenchida a pesquisa sobre oceanos profundos. O Brasil tem uma das maiores zonas econômicas exclusivas do mundo e, portanto, demanda um programa para dar conta da amplitude e complexidade desse ecossistema. A maior parte das pesquisas atuais tem foco em águas costeiras.

Ainda que a FAPESP tenha financiado dois navios oceanográficos – Alpha Crucis e Alpha Delphini –, o custo diário dessas estruturas é um dos maiores empecilhos para a ampliação das pesquisas, o que poderia ser resolvido com a integração de pesquisadores, promovendo redes de diferentes instituições.

Além de Oliveira (20/09406-3), assinam ainda o artigo Antonio C. Marques, do IB-USP, Alvaro Migotto e Marcelo V. Kitahara, do Centro de Biologia Marinha (Cebimar) da USP (21/06866-6), Gustavo Muniz Dias, do Centro de Ciências Naturais e Humanas (CCNH) da UFABC (19/15628-1), e Tânia Marcia Costa, do Instituto de Biociências do CLP-Unesp (20/03171-4).

O artigo Marine and coastal biodiversity studies, 60 years of research funding from FAPESP, what we have learned and future challenges está disponível gratuitamente em: www.scielo.br/j/bn/a/ykDqKPkjNfW3DrpxWwyVdrg/.