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Cinturão verde de São Paulo traz benefícios para a metrópole

Expansão urbana e poluição são as principais ameaças

São Paulo – Construções às margens da Represa Billings, um dos principais reservatórios de água da região metropolitana de São Paulo (Rovena Rosa/Agência Brasil)

Um estudo da organização World Resources Institute reuniu diversos trabalhos científicos que apontam para a forte dependência das cidades em relação às florestas – sejam elas dentro, próximas ou distantes dos centros. Nesse sentido, o cinturão verde da Região Metropolitana de São Paulo tem papel fundamental: garante água potável, alimento, madeira, lazer e controle de temperatura para a região.

Este grande cinturão em volta do maior aglomerado urbano do país, que abriga 21 milhões de habitantes, é formado por unidades de conservação, como os Parques Estaduais  Cantareira e Serra do Mar e a Reserva Biológica da Serra do Japi, entremeado por pequenas propriedades rurais e aglomerados urbanos.

Além disso, de acordo com o Inventário da Fauna Silvestre do Município de São Paulo – 2022, entre áreas rurais e urbanas do Município, já foram catalogadas ao menos 223 espécies de animais ameaçados de extinção. Esse número representa 16,7% do total das espécies documentadas, indicando que o Município abriga muitas espécies de grande interesse para a conservação.

Mas, nem tudo são flores no cinturão: a expansão urbana transforma a floresta em concreto e áreas agrícolas em asfalto. Este processo muitas vezes gera degradação de corpos d’água e impermeabilização do solo. “Muitos dos processos que nutrem a cidades com benefícios ecossistêmicos estão na franja periurbana. Isso é uma questão muito forte para São Paulo, mas ela ocorre em vários outros lugares do mundo”, destaca Rodrigo Victor, assessor técnico da Fundação Florestal e ex-coordenador executivo da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo (RBCV), nome dado a essa área mais verde que engloba a Região Metropolitana de São Paulo e da Baixada Santista. Periurbana é a área de transição entre urbano e rural, que não tem limites definidos mas apresenta características dos dois ambientes.

Segundo o livro  Serviços Ecossistêmicos e Bem-Estar Humano na Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo, a capacidade de produzir alimentos na RBCV vem sendo afetada pela redução das áreas agrícolas onde se expande a urbanização. Isso modifica as características rurais do cinturão, diminui a oferta de alimentos produzidos na região e coloca em risco a segurança alimentar das populações que dependem desses cultivos. Só na RMSP existem 5.083 estabelecimentos agropecuários, dos quais, 65% são familiares.

Caminhos para uma transição verde

Sistema agroflorestal em estágio inicial, implantado sobre uma área que antes servia de depósito de entulho.
Foto: Simone Bazarian/Sítio Amaranto

Rodrigo Victor faz parte do projeto Biota Síntese, que reúne gestores públicos, cientistas e sociedade civil e cujo objetivo é propor soluções baseadas na natureza para a resolução de problemas socioambientais do estado de São Paulo. Em seu primeiro encontro, o grupo identificou que há espaço para restauração da vegetação nas áreas periurbanas do estado, mas, é preciso encontrar formas de incentivar a adesão dos proprietários destas terras.

Iniciativas que melhorem a visibilidade dos produtores rurais da região podem ser um caminho para assegurar a permanência dessas áreas. Um exemplo é o Sampa+Rural, da prefeitura de São Paulo, uma plataforma que reúne iniciativas de agricultura, turismo e alimentação saudável do Município. Outra iniciativa é o Pagamento por Serviços Ambientais  (PSA), que possibilita a remuneração de proprietários rurais que restauram ou preservam a vegetação natural e adotem práticas agrícolas sustentáveis, como os sistemas agroflorestais (SAFs).

“Diferente da agricultura convencional, os sistemas agroflorestais colaboram para a regeneração do solo”, afirma a bióloga e agricultora Simone Bazarian. Em 2019, Simone optou por uma solução ousada para recuperar uma parte do seu sítio, em São Roque (a 50 km de São Paulo), que estava coberta com entulho de construção: com ajuda de um mutirão, plásticos e outros resíduos foram retirados, os blocos maiores de concreto foram quebrados e a área foi coberta com insumos orgânicos, como o substrato utilizado na produção de cogumelos, troncos de bananeira e outros restos de podas (galhos triturados e folhas). Sementes e mudas de plantas de diferentes portes e necessidades de luz foram adicionadas ao solo. O SAF formado, que já produziu alface, couve, cebola, morango e outros alimentos, atualmente é ocupado com plantas aromáticas e medicinais de onde são extraídos óleos essenciais.

O Pagamento por Prestação de Serviços Ambientais tem sido muito utilizado para a facilitar a proteção de  áreas de mananciais do Município de São Paulo, que ficam na área periurbana da metrópole. Esses pagamentos se unem a outras iniciativas para a garantia da qualidade da água da região, “a gente sabe que as APPs [áreas de proteção permanente às margens de corpo d’água] têm um papel muito especial para a proteção hídrica, porque elas têm um papel de impacto mais direto nos cursos de água. Mas, na verdade, o ideal é você proteger a bacia como um todo”, explica Rodrigo Victor.