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Conversa do mês – setembro/2013

O Prof. Dalton de Souza Amorim (Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Entomologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo) fala sobre a experiência de manter uma página sobre o Programa em uma rede social.

1 – Como surgiu a ideia de montar uma página no Facebook sobre Entomologia?
Algumas grandes instituições de pesquisa e ensino já têm páginas em mídias sociais, além de manterem webpages próprias, mais comuns, e blogs. As páginas no Facebook cumprem um papel eficiente de comunicação interna, mas servem muito bem como interface com um público mais amplo. Em outras palavras, essas páginas acabam por ser também um instrumento de extensão universitária.

2 – Qual o público que vocês esperavam alcançar? Houve alguma surpresa nesse processo?

ProgramaPosEntomologia1Ainda estamos aprendendo com o processo, particularmente avaliando que tipo de publicações na página (http://www.facebook.com/posgraduacaoentomologiausprp) desperta mais interesse nos assinantes. Temos postado notícias de naturezas muito diferentes: trabalhos publicados por alunos e orientadores, palestras, períodos de matrícula e normas para inscrição no Programa, trabalhos publicados de interesse mais amplo, fotos de diferentes grupos de insetos, realização de defesas de Dissertação e Tese, visitas de alunos e orientadores a outros laboratórios, participações em congressos etc. O interesse despertado, de fato, nos surpreendeu. Para uma comunidade de menos de 100 alunos e 27 orientadores do Programa, já temos quase 300 pessoas que curtiram a página e que, portanto, recebem regularmente as notícias postadas. Esse número já é, dessa maneira, apenas poucos meses depois de lançada a Página, quase três vezes maior que o tamanho da comunidade interna do Programa, indicando um interesse bastante amplo nas matérias. A isso, adiciona-se a comunidade alcançada indiretamente. As métricas mostram que, para uma comunidade dessas dimensões, em alguns períodos o chamado ‘alcance viral’ das postagens acumulado em 28 dias ultrapassou 5.000 pessoas—número que varia, evidentemente, em função do número de postagens. A parte administrativa da página permite verificar a distribuição das visitas no Brasil e no exterior. No Brasil, há visitas de dezenas de cidades de todas as regiões e visitas regulares de mais de 15 países (Estados Unidos, Alemanha, Finlândia, além da América Latina, África, Austrália etc.).

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3 – Como a página é mantida? Há um envolvimento de todos os pesquisadores (de diferentes níveis) nas atualizações?

A Secretaria do Programa de Pós-Graduação em Entomologia faz uma parte das postagens, mas a Coordenação do Programa faz a maior parte delas. De qualquer maneira, está-se criando uma cultura em que os alunos e orientadores sabem que algumas matérias despertam interesse e nos enviam sugestões, postadas imediatamente.

4 – Quais as possibilidade de colaboração que vocês enxergam?

As mídias sociais têm um funcionamento interessante. Há diversas comunidades especializadas de caráter científico, além de páginas institucionais. Assim, há uma grande quantidade de material de conteúdo acadêmico disponível a ser compartilhado—de fato, a própria ideia de compartilhamento é um dos pilares da cooperação subjacente a essas comunidades. Com isso, a quantidade de material interessante que pode ser disponibilizada é imensa. O compartilhamento de material postado por uma página institucional, como a nossa, carrega a informação de sua fonte. Esse é efeito ‘viral’ resulta em visibilidade institucional, muito importante como expressão no ambiente externo à universidade e entre universidades daquilo que é produzido.

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5 – Em 2011 pesquisadores da Universidade de Toronto utilizaram o Facebook para auxiliar na identificação de espécies de peixes de uma pesquisa de campo na Guiana. Isso gerou discussões a respeito do uso das redes sociais na ciência e também sobre a autoria dos trabalhos. Como você analisa essa experiência?

Dependo do nível de complexidade do problema, da expertise requerida e da exatidão necessária da informação, o apoio mútuo entre pesquisadores através das mídias sociais pode se tornar um meio muito útil de compartilhamento de conhecimento. Algumas das páginas de sistemática de grupos de insetos (por exemplo, “Diptera”, http://www.facebook.com/groups/179895332035235/, ou “Hymenoptera”, http://www.facebook.com/groups/HymenopteristsForum88/, ou “Coleoptera”, http://www.facebook.com/groups/30749256655/, ou “Insetos da Índia”, http://www.facebook.com/groups/InsectIndia/) aceitam a postagem de fotos com pedidos de identificação, depois feita por especialistas. A identificação com base em fotos é relativamente fácil até o nível de família para alguém com algum conhecimento aprofundado no problema; requer muito conhecimento para a identificação ao nível de gênero; mas é quase impossível uma identificação segura ao nível de espécie—apenas a ordem Diptera tem 188 famílias, mais de 10.000 gêneros e mais de 150.000 espécies no mundo. Ou seja, em um nível de exigência muito alto, os meios de cooperação mais seguros não são através das redes sociais, ainda que permitam os passos iniciais que às vezes realçam a importância de algum material, o ineditismo de alguma observação etc.

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6 – Vocês têm algum plano para usar o Facebook (ou qualquer outra rede social) também no processo de produção da ciência?

O objetivo da página do Programa de Entomologia da FFCLRP no Facebook é primariamente de comunicação interna e de difusão de informação. De modo geral, os conteúdos de projetos de pesquisa não chegam à página (até porque a postagem é feita apenas pela administração da página), de modo que o ganho maior, pelo menos neste momento, não está relacionado à produção da ciência, mas à difusão de seus resultados entre pares e à educação para a ciência. Em médio prazo, é possível que tenhamos meios de tornar disponível para um público mais amplo uma quantidade enorme de material que possa ser útil não apenas para especialistas, mas para professores e alunos de graduação e do Ensino Básico. Se chegarmos a esse patamar, estará mais do que justificado o uso dessa ferramenta.

(por Érica Speglich)