Projeto insere a botânica na era da e-ciência
Informações científicas disponíveis para todos para avançar a ciência. É neste mote que o projeto “Resgate histórico e científico das plantas do Brasil depositadas nos herbários de Kew e Paris: Clado urticóide (Cannabaceae, Moraceae, Ulmaceae e Urticaceae)”, liderado pelo Prof. Dr. Sergio Romaniuc Neto, do Instituto de Botânica (Secretaria do Meio Ambiente – SP) foi delineado.
A pesquisa visa resgatar e disponibilizar para o Brasil e para o mundo imagens e informações das Urticineae (grupo de plantas que reúne as figueiras, embaúbas, urtigas, cânhamo, etc.) da flora brasileira, coletadas desde o século XVIII, XIX até XX por missões estrangeiras, que atualmente estão depositadas no Royal Botanic Gardens de Kew (RBGK) da Inglaterra, e
Muséum National d’Histoire Naturelle de Paris (MNHN), França. A ideia é trazer uma nova dimensão para a botânica brasileira, inserindo-a na era da e-ciência, da e-taxonomia, e especialmente, estimulando a formação de novos taxonomistas. Em outras palavras, é fazer a conexão entre a botânica que se fazia há séculos atrás à botânica atual e à do futuro.
O projeto de resgate histórico e científico do grupo das Urticineae integra simultaneamente dois programas de pesquisa: o Programa Biota/Fapesp e o Programa Reflora (CNPq e FAPs) O programa Reflora é um convênio entre governo federal, Fundações de Amparo à Pesquisa estaduais e empresas cujo objetivo é resgatar e disponibilizar imagens e informações da flora brasileira depositados no RBGK (Inglaterra) e MNHN (França). No âmbito do Programa Biota/Fapesp, o projeto aprofunda nos estudos sobre a biodiversidade paulista além de divulgar toda a informação gerada de maneira ampla, rápida e livre, um dos objetivos do Biota/Fapesp. “Trata-se de repatriar a informação e não os objetos” ressalta Romaniuc, “de pensarmos numa ciência que é generosa em seus aspectos de divulgação e ampliação do acesso à informação”.
O projeto que trata das Urticines é composto por pesquisadores do Instituto de Botânica e da UNESP (Botucatu) que investigam aspectos relacionados à hermenêutica da Botânica e da implementação do herbário virtual (em breve online pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro). O projeto já atingiu a marca de 9 mil espécimes digitalizados compondo a maior coleção digital de Urticineae do século XIX nas Américas. “Não se trata apenas de um resgate de imagens e metadados e, sim, de um processo de transformação dessas imagens e dados em objetos de trabalho e do desenvolvimento de tecnologias que se configurem como uma nova forma de trabalhar com a taxonomia” complementa Romaniuc. Um dos impactos que se espera desse processo de divulgação dos dados históricos da flora brasileira é que o pesquisador abrevie uma etapa da pesquisa de levantamento de dados primários possibilitando a elaboração de questões mais complexas para o avanço da ciência.
Por tratar-se uma coleção histórica, referentes aos séculos XVII, XIX, e XX, a contextualização dos dados presentes nas etiquetas de herbário, por meio de uma análise hermenêutica, é fundamental. Desta forma o conjunto da coleção ganha em qualidade de informações associadas. Para tornar uma coleção botânica útil para consultas em variados domínios da ciência e aspectos socioculturais, é importante que esta coleção possa ser disponibilizada, de forma a reunir informações que vão além da revisão e atualização nomenclatural dos exemplares botânicos resgatados.
Ao contrário do que se poderia se imaginar, a disponibilização do material dos herbários europeus na internet não reduziu o número de visitas às instituições: “quando as pessoas descobriram o material on line o intercâmbio aumentou, pois os pesquisadores mudaram de foco. As visitas deixaram de ser para localizar o material botânico, mas para o intercâmbio científico”, comenta o Romaniuc, “não se trata de não ter mais essa etapa, pois a ida ao herbário é insubstituível, mas o pesquisador passou a chegar com questões muito mais elaboradas”, completa o pesquisador.
O Instituto de Botânica é pioneiro na metodologia que atualmente está sendo utilizada nacionalmente pelo CNPq para repatriar coleções de interesse histórico-científicas. O projeto “Herbário Virtual A. de Saint-Hilaire” , financiado pela Fapesp e disponível atualmente na internet, é a base do programa Reflora do CNPq e foi fruto da parceria entre o Instituto de Botânica, o CRIA (Centro de Referência em Informações Ambientais) e o Muséum National d’Histoire Naturelle de Paris, para repatriar a coleção do naturalista Auguste de Saint-Hilaire que visitou o Brasil entre 1816 a 1822.
Os resultados alcançados até o momento revelam a importância e eficácia do projeto Reflora no incremento do conhecimento das Urticineae no Brasil. O Instituto de Botânica e o Biota/Fapesp cumprem seu papel como vetores do conhecimento, propiciando o resgate histórico e científico desta importante coleção, até agora restrita aos herbários europeus. Todas essas informações serão fundamentais no avanço do conhecimento da biodiversidade brasileira, bem como, fornecerão subsídios para políticas públicas de conservação no Estado de São Paulo e no Brasil.
(por Paula Drummond de Castro)