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Conheça o Sistema de Monitoramento da Costa Brasileira – SiMCosta

Rede de monitoramento de parâmetros meteorológicos e oceanográficos na zona costeira brasileira visa estabelecer padrões, tendências e modelar cenários climáticos causados por efeitos naturais e antrópicos.

 

Em tempos de mudanças climáticas globais, o monitoramento ambiental, tem cada vez mais se tornado uma ferramenta decisiva na tomada de decisões políticas. Dessa forma, o uso e o aprimoramento das ferramentas para o monitoramento ambiental vêm se tornando uma demanda da sociedade.

O monitoramento ambiental é um processo de coleta de dados, estudo e acompanhamento contínuo e sistemático dirigido a alguns poucos indicadores e parâmetros, com o objetivo de identificar e avaliar – qualitativa e quantitativamente – as condições dos recursos naturais em um determinado momento, assim como as possíveis tendências de mudanças longo do tempo.

Sistema de monitoramento da costa brasileira, Portal SimCosta
http://www.simcosta.furg.br/portal/

Em ambientes costeiros e marinhos, a coleta de informações é um dos importantes desafios. Os ambientes costeiros sofrem pressões resultantes da ocupação humana e das mudanças climáticas, e em muitos ambientes a falta de informação disponível pela inexistência de estudos faz com que seja muito difícil avaliar e distinguir alterações naturais e antrópicas. Essa é uma realidade global, e em várias partes do mundo têm sido criados sistemas observacionais permanentes e multidisciplinares, que permitem análises em diversas escalas de tempo.

Uma das formas de aperfeiçoar a coleta de dados é construindo uma rede de monitoramento. A rede é capaz de fornecer uma base de dados comparativa, tanto em relação ao próprio local amostrado quanto a outras regiões. O sistema de coleta de dados aumenta o conhecimento sobre uma determinada região, o que permite tomadas de decisões mais acertadas e um planejamento ambiental mais adequado.

Para a criação e estabelecimento de sistemas observacionais costeiros eficientes é fundamental a ação de redes de pesquisas integradas e interinstitucionais, bem como a aplicação de tecnologias modernas. Nesta perspectiva, foi concebido o Sistema de Monitoramento da Costa Brasileira (SiMCosta), financiado em 2012 pelo Fundo Nacional sobre Mudanças Climáticas (Fundo Clima) do Ministério do Meio Ambiente(MMA).

O SiMCosta foi projetado segundo os objetivos da Sub-rede Zonas Costeiras da REDE CLIMA e INCT para Mudanças Climáticas. Discussões sobre a relevância e estratégias de criação de Sistemas observacionais costeiros no Brasil aconteceram durante o II “Workshop sobre Mudanças Climáticas em Zonas Costeiras”, realizado em Salvador (BA) em Novembro de 2011  (veja aqui o documento completo). Os pesquisadores da Sub-rede Zona Costeira deliberam após discussões de um Grupo de Trabalho pela implantação do Sistema de Monitoramento da Costa Brasileira (SiMCosta), com abrangência nacional.

esquema boia2
Esquema da boia meteorológica. (c) SiMCosta.

Assim nasceu o SIMCosta, com o objetivo de viabilizar a construção de uma rede de monitoramento de parâmetros meteorológicos e oceanográficos na zona costeira (região de plataforma interna e estuários) brasileira para estabelecer padrões de variabilidade climática, tendências de longo período e modelar cenários possíveis causados por efeitos naturais e/ou antrópicos.

Com isto, espera-se que se consiga estabelecer um sistema de alerta para casos de ocorrência de eventos extremos; antever os processos ligados aos efeitos climáticos, como os eventos de El Niño/La Niña; identificar tendências de longo período; mapear vulnerabilidades da zona costeira; prever impactos sobre os meios físico, biótico e sócio-econômico da zona costeira; gerar cenários futuros; avaliar as alternativas de mitigação; fornecer informações para modelagens e análises de variáveis e estado dos ecossistemas costeiros e expandir da capacidade nacional de desenvolver e administrar sistemas de observação oceanográfica.

O SiMCosta pretende disponibilizar à comunidade científica e aos gestores públicos todos os seus dados tendo com premissa o contínuo e livre acesso aos dados e às análises geradas. Outro objetivo é proporcionar aos educadores, de distintos níveis da educação, material didático e ferramentas para o uso e interpretação dos dados. As perspectivas são de que essas informações sejam usadas para difusão de conhecimento desde escolas da região até grandes projetos de pesquisa do país. Os dados estão disponíveis no Portal do SiMCosta

Para coletar estes dados, são instalados equipamentos chamados de boias meteo-oceanográfica. Trata-se de estruturas flutuantes com sensores meteorológicos e oceanográficos, presas por uma corrente ao fundo do mar. A primeira boia instalada foi em São Sebastião, na área de abrangência do CEBIMar.

 

SiMCosta e o Programa Biota

Transporte e alocação da boia meteo-oceanográfica utilizadas no SimCosta. SimCosta (c)
Transporte e alocação da boia meteo-oceanográfica utilizadas no SimCosta. Copyright: SimCostaSimCosta (c)

À frente do SiMCosta, estão o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT para Mudanças Climáticas) e a Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima), por meio da sub-rede Zonas Costeiras, com sede no Instituto de Oceanografia da Universidade Federal do Rio Grande (Furg). A coordenação geral do SiMCosta é do Prof. Dr. Carlos E. Garcia da FURG. A iniciativa reúne especialistas em observação oceanográfica, com experiência em pesquisas em zonas costeiras e oceânicas, conduzidas por plataformas flutuantes (navios oceanográficos) e fixas (e.g., boias meteo-oceanográfias e fundeios).

Para manter um sistema deste porte e suas pesquisas é necessário captar recursos continuamente. Em 2012, foi aprovado um projeto junto ao CNPq que possibilitava parceria com instituições canadenses. Isto garantiu o pagamento de consumíveis para a instalação das quatro primeiras boias e recrutamento de recursos humanos por meio de bolsas de formação técnica e de pós-graduação.

A Fapesp também apoia este sistema de monitoramento por meio do projeto “Collaborative analysis of the modes of Brazilian coastal oceanographic variability using the sistema de monitoramento da costa brasileira (SIMCOSTA)”, coordenado pela Dra. Aurea Maria Ciotti, do Centro de Biologia Marinha (CEBIMAR). Universidade de São Paulo (USP). O projeto é uma colaboração internacional com a Dalhousie University (Canadá), na figura do Dr. Marlon Ray Lewis. A colaboração tem uma forte ênfase na interação científica por meio de troca de expertises e intercâmbios de alunos, técnicos e pesquisadores entre as duas instituições.

Transporte e posicionamento da boia meteorológica. (c) SiMCosta.
Transporte e posicionamento da boia meteorológica. (c) SiMCosta.

Embora o projeto não participe oficialmente do Programa Biota, a pesquisa buscou sobrepor a área de estudo, priorizando o Canal de São Sebastião, onde também está sendo conduzido o projeto temático FAPESP Biota-Araçá (“Biodiversidade e funcionamento de um ecossistema costeiro subtropical: subsídios para gestão integrada”, coordenado pela Dra. Antonia Cecília Zacagnini Amaral, do Instituto de Biologia da UNICAMP). Com isso, o ganho da integração entre os projetos é amplificado. “Por um lado, o SiMCosta fornece informações de extrema relevância para o projeto Biota Araçá, por outro, essas informações são analisadas e discutidas por pesquisadores de forma eficiente. Além disso, o diferencial do projeto Biota-Araçá com a participação efetiva de agentes sociais vai engrandecer muito o desenho de produtos que estarão disponíveis no futuro e facilitar o desenho das páginas de web com dados e informações de fácil entendimento para diversas aplicações práticas”, completa Ciotti.

Por Paula Drummond de Castro