Pesquisa desvenda como a impermeabilização do solo afeta diretamente a biodiversidade e nosso cotidiano
Muitas vezes, engolidos por nossas rotinas, já não percebemos os locais que ocupamos nas cidades e seus entornos. As ruas, os prédios, os condomínios, os rios canalizados lentamente vão apagando os contornos do relevo original de outrora. Afora a cobertura vegetal suprimida, outra questão relevante que vem à tona quando o assunto é ocupação humana é a a conservação do solo.
O solo é considerado um dos principais recursos naturais com características únicas e grande potencial de uso. O processo de urbanização acelerado tem provocado um excesso de superfícies impermeabilizadas ou que tornam nossos solos compactados, lixiviados, deficientes em nutrientes, sem atividade biológica, que se transformam em um grande percalço também para a conservação da biodiversidade.
O uso e ocupação do solo de forma predatória impactam diretamente as propriedades naturais do solo. Via de regra, essa ocupação se dá em um primeiro momento como área rural, e, em seguida, como área urbana e industrial. Ambas podem impactar o solo e os recursos hídricos quando mal manejadas. A primeira, por meio da compactação, lixiviação, erosão e assoreamento hídrico. Já a concentração urbana e industrial sem planejamento provoca a intensa impermeabilização do solo que acarreta na redução da infiltração de águas das chuvas, aumentando os riscos de erosão, compactação e deslizamentos de solos, bem como alagamentos de córregos e ruas, resultando em enormes prejuízos sociais e também possíveis contaminações seja por resíduos industriais e ou urbanos.
Quando se trata de recuperação da biodiversidade, a conservação do solo é um assunto que não pode ficar de fora. Normalmente, um projeto de restauração da biodiversidade, se preocupa do solo pra cima, ou seja, com a cobertura vegetal e seus dispersores naturais, todavia, a resposta pode estar no solo. Por vezes, a simples recuperação do solo, pode ser suficiente para possibilitar a sucessão ecológica em áreas onde as condições ambientais favoráveis se apresentam. A recuperação pode envolver remodelar o terreno, utilizar técnicas adequadas de preparo, adequar o uso de adubação verde, química e orgânica, e claro, depende igualmente da proximidade com a matriz florestal.
Foi focando na questão da conservação do solo que a pesquisa intitulada “Indicadores de degradação ambiental em remanescentes florestais urbanos na região metropolita de Campinas, SP: estudo de caso na Bacia Rio das Pedras” se inspirou. O auxílio pesquisa regular é coordenado pela Dra. Regina Márcia Longo, do Centro de Ciências Exatas, Ambientais e de Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) e tem sua finalização prevista para agosto de 2015. O objetivo é de avaliar a degradação ambiental em bacias hidrográficas urbanas tomando como base indicadores pedológicos, florestais e hidrológicos buscando entender a dinâmica territorial do distrito de Barão Geraldo(Campinas-SP), onde está inserida a Bacia do Rio da Pedras, um dos afluentes do Rio Anhumas. “A expectativa é que consigamos estabelecer indicadores de solo, água e vegetação que apontem o grau de degradação desses espaços urbanos e com isso possamos avançar nas discussões acerca da implantação das técnicas mais adequadas para sua manutenção e/ou recuperação de áreas florestadas”, explica Longo.
O distrito de Barão Geraldo, onde se localizam campi da Universidade de Campinas (UNICAMP) e da PUC-Campinas, passou por significativas mudanças desde o seu estabelecimento. Antes caracterizado como rural em razão das grandes fazendas e terras férteis destinadas ao uso agrícola, agora já bastante urbanizado e com grandes polos tecnológicos e de pesquisa o que promoveu um grande impacto ambiental em seus recursos naturais. Atualmente, esta localidade vive uma forte pressão imobiliária, sujeita a crescente impermeabilização do solo e seus impactos.
A pesquisa dá continuidade a um trabalho já executado entre 2011 e 2012, quando a pesquisadora e sua equipe trabalharam com a quantificação da degradação ambiental nas áreas de borda de importantes remanescentes florestais dessa bacia (Mata de Santa Genebra e Mata do Quilombo) nos quais foram incluídos indicadores hidrológicos e de vegetação, além de indicadores no interior de remanescente florestais para comparação. “Com a fragmentação da cobertura florestal original, a matriz antrópica foi aumentada – estradas, cultivos agrícolas, Estação de Tratamento de Esgoto, expansão de bairros e condomínios -, consequentemente potencializando as pressões sobre as florestas urbanas remanescentes. Esse maior contato possibilita também maior frequência de encontros entre a população e a fauna. Dentre os impactos frequentes observados tanto no meio urbano como no rural, a degradação do solo, como erosão, compactação e ocorrência de metais pesados são problemas comuns”, explica a pesquisadora.
Até o presente momento a pesquisa já realizou uma avaliação de impacto ambiental, das Matas de Santa Genebra e Mata do Quilombo, localizadas na Bacia do Rio das Pedras. A avaliação consiste no levantamento de dados sobre o solo de área de borda no campo, posteriormente é feita uma análise de laboratório que subsidia um modelo de gestão. Estas matas têm uma diferença importante. A Mata do Quilombo é uma área aberta, sujeita a intervenções diversas, agravadas pela estrada que corta o interior da mata. Já a Mata de Santa Genebra é uma ARIE (Área de Relevante Interesse Ecológico, categoria de Unidade de Conservação) Municipal, portanto uma área fechada que conta com uma gestão e fiscalização. O grau de impacto ambiental é bem maior na aberta. Além do que, no primeiro caso, não se tem muito para quem direcionar as demandas de recuperação das áreas degradadas, diferentemente da gestão da ARIE.
O projeto ainda conta com a colaboração de dois mestrados que estão investigando o uso e ocupação do solo da Bacia do Rio das Pedras e as relações entre infiltração da água do solo e a qualidade da água do rio. Além destes, há 10 iniciações científicas que foram realizadas e uma inicial parceria com a Prefeitura de Campinas.