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VIII Reunião de Avaliação do Programa Biota

Pesquisadores apresentam sínteses dos resultados de 65 projetos de pesquisa realizados no período 2011-2014 e discutem possibilidades futuras para o Programa Biota/Fapesp

Pesquisadores, alunos e o Comitê Avaliador do Programa Biota/Fapesp se reuniram novamente entre os 07 e 12 de dezembro para avaliar e discutir os últimos anos e também para pensar os caminhos futuros.
A integração dentro dos projetos de pesquisa e entre diferentes projetos é o conceito chave deste evento. Nos primeiros três dias os alunos e pesquisadores transitaram pelo Simpósio entre cursos de curta duração, palestras dos membros do Comitê Avaliador e a apresentação de posteres integrados de seus projetos. Assim, os trabalhos individuais foram apresentados sempre dentro do contexto de cada grande projeto, proporcionando uma visão mais ampla das conexões e contribuições de cada um para o projeto como um todo.
Esse caminho também foi seguido na Reunião de Avaliação. Os coordenadores de projeto se reuniram em reuniões preparatórios ao longo do segundo semestre de 2014 que culminaram em apresentações síntese das diferentes áreas de escopo do Programa.
Ao todo, 65 projetos apresentaram os resultados alcançados no período de 2011 a 2014 sendo que alguns desses projetos já estão finalizados e outros ainda estão em andamento.

 

Projetos de Longo Prazo
Os projetos “Gradiente Funcional da Mata Atlântica”, “Biodiversidade Marinha de Araçá” e “Dimensões da Biodiversidade Amazônica” tem em comum o objetivo de estabelecer protocolos de de pesquisa e acompanhamentos de diferentes áreas a longo prazo.

Na Mata Atlântica, Parcelas Permanentes foram criadas em 2003 em diferentes níveis da Serra da Mar e, desde então, diferentes estudos vem sendo realizados nesses pontos. Outros locais e diferentes perspectivas foram incorporadas ao longo dos anos com a ampliação do projeto. Atualmente, a proposta “ECOFOR: Biodiversidade e funcionamento de ecossistemas em áreas alteradas pelo homem nas Florestas Amazônica e Atlântica”, financiada pela Fapesp e NSF, incorpora o uso dessas Parcelas Permanentes e ainda outros pontos de estudo distribuídos no país. O projeto foca no impacto das alterações humanas no funcionamento dos ecossistemas, procurando comparar áreas alteradas e não alteradas pelo homem, analisando como tais áreas se modificam conforme a intensidade do impacto. O grupo de pesquisadores procura compreender as consequências complexas das modificações humanas para a biodiversidade em diferentes paisagens.

A Baía do Araça, em São Sebastião (SP), tem atenção especial dos pesquisadores do Programa Biota. A proposta é integrar a gestão das demandas de uso do local (retirada e transporte de petróleo, uso do porto, moradores, Unidade de Conservação), processos biológicos e processos físico-químicos. Os pesquisadores, que já fazem parte de Conselhos locais, querem fornecer informações para decisões sobre o futuro do local propondo uma forma integrada de estudo e planejamento de uso de um ecossistema a longo prazo (veja mais na revista Biota Neotropica).

Outro projeto financiado conjuntamente pela Fapesp e NSF é o “Dimensões da Biodiversidade Amazônica” que pretende construir uma novas síntese evolucionária e ambiental para a Amazônia por meio de estudos interdisciplinares, procurando caracterizar a biodiversidade de alguns grupos, compreender sua história evolucionária e reconstruir a história biogeográfica da Amazônia. Aves, plantas, borboletas e primatas são os grupos estudados por meio de coletas e digitalização de dados de museus biológicos.

 

Microorganismos

Os microorganismos foram o foco de nove projetos no período 2011-2014 do Programa Biota, com motivações como a degradação de biomassa, taninos, herbicidas e inseticidas; a produção de antibióticos; a avaliação de qualidade de água; fitopatologia e saúde humana e animal.

A metogenômica de organismos que vivem em diferentes ambientes foi a abordagem da maior parte dos projetos, que atuaram pesquisando em mangues, trato digestivo de insetos, reservatórios de água doce, compostagem e folhas de cana de açúcar, por exemplo.

Outro ponto foi o inventariamento de espécies em ambientes como o da protozoofauna do Rio Atibaia e dos vírus em diferentes espécies de plantas. Diversas novas espécies e cepas foram encontradas e estão em processo de descrição.

Além disso, houve o levantamento do potencial biotecnológico de algumas das espécies, tanto a partir da identificação de moléculas bioativas produzidas pelos microorganismos como para diferentes usos dos próprios microorganismos em processos industriais.

O desafio deste grupo para os próximos anos será não apenas a continuidade das pesquisas básicas mas uma ligação maior com a indústria, no caso das pesquisas com potencial de aplicação, para que tais pesquisas cheguem ao mercado na forma de produtos e processos.

 

Vegetação e Ecossistemas Terrestres

Doze projetos estão envolvidos na temática “Vegetação e funcionamento dos ecossistemas terrestres” que tiveram, como eixo principal, estudos de alguma forma relacionados aos processos de restauração de ecossistemas.

Medidas de biodiversidade locais e regionais são fundamentais para a compreensão do funcionamento dos ecossistemas e essenciais para basear as medidas de viabilidade e o sucesso dos processos de restauração. Seis projetos se debruçam sobre essas questões, especialmente procurando estabelecer protocolos de restauração e indicadores de qualidade dos processos.

Outros projetos trabalham com genética de populações e comunidades de plantas, também procurando compreender a diversidade genética dessas populações e seu impacto em áreas em processo de restauração.

O projeto REFLORA, em fase final, mereceu destaque pelo trabalho de repatriação de informações de coleções biológicas essenciais para o trabalho de identificação de espécies. Coleções de espécies brasileiras de algumas famílias depositadas nos Herbários como o de Kew e Paris tiveram suas informações analisadas e digitalizadas, disponíveis on-line. Este projeto é financiado conjuntamente pelo CNPq e outras FAPs estaduais, além da Fapesp.

O trabalho científico com foco na recuperação de áreas degradas e no monitoramento e avaliação da recuperação de ecossistemas sempre foi um dos grandes desafios do Programa Biota. Os projetos nesta etapa do Programa surgem como respostas a essa demanda.

 

BIOprospecTA

A rede Biota de Bioprospecção e Bioensaios (BIOprospecTA) foi criada em 2003 e chega ao seu décimo ano nesta rodada de avaliação. No período 2011-2014 foram onze projetos em andamento que incluíram 150 dissertações e teses defendidas, mais de 200 publicações de artigos em periódicos, 8 capítulos de livros e 3 livros completos, além da participação em 53 artigos voltados para a divulgação científica.

Como característica ímpar, os projetos envolvidos na BIOprospecTA trabalham em rede, não só trocando conhecimento mas também processos e trabalhando conjuntamente na implementação de protocolos e realização de bioensaios.

As atividades biológicas de substâncias pesquisadas pelo grupo compreendem: ações de combate à leshimaniose, vírus, microorganismos em geral, esquistossomose, epilepsia, úlcera, câncer, inflamações e epilepsia. E também para a inibição da esporulação e do crescimento de plantas. Processos como fermentação, produção de combustíveis, produção de biofilmes e bioremediação ambiental são o foco de alguns dos estudos. E nove grupos de enzimas (como lipases e celulases, por exemplo) estão sob investigação mais atenta.

Novamente, o desafio indicado pelo Comitê Avaliador é a ligação mais estreita com a indústria para que as moléculas bioativas sigam para as próximas etapas dos protocolos de teste e se transformem em remédios comerciais.

 

Algas

Macro e microalgas marinhas e de água doce foram estudadas a partir de diferentes perspectivas oito projetos financiados no período 2011-2014: inventariamento e taxonomia; criação e manutenção de coleções de algas, o uso sustentável das mesmas na marinocultura e educação ambiental.

A diversidade das macroalgas vermelhas foi tópico de três desses projetos, variando seus objetivos entre diversidade intereespecífica, morfologia e distribuição e filogenia das algas de interesse ecológico e econômico. A manutenção de um canco de germoplasma de microalgas de água doce, a diversidade química de algas de interesse econômico e a caracterização da produção de biomassa do fitoplancton foram os objetivos dos demais projetos.

Os dois projetos relacionados à educação ambiental tiveram como foco, além das algas, o ambiente marinho como um todo, por meio do desenvolvimento de propostas didáticas tanto para uso dentro de escolas como por meio de uma trilha marinha subaquática.

Os projetos envolveram 42 pesquisadores e 63 alunos de graduação e pós em suas atividades que contaram com a colaboração de cientistas de diversas regiões do Brasil.

 

Invertebrados marinhos e Vertebrados marinhos e de água doce

Oito projetos compões esta área de investigação, sendo sete em ambientes marinhos e um de ambientes de água doce.

O projeto “Inventário dos Characiformes da América do Sul” (Projeto SACI) encontrou 2 novos gêneros e 15 novas espécies em 280 coletadas ao longo de 4 grandes expedições. Amostras de tecidos também foram coletadas para estudos moleculares e todas as informações estão disponíveis no site do projeto.

Dois projetos envolvem vertebrados marinhos, um investiga a biodiversidade de comunidades bênticas em substratos orgânicos no fundo oceânico e outro a ocorrência, sazonalidade, distribuição e movimentos de cetáceos ao longo da costa do estado de São Paulo, incluindo também coletas de tecido para análise genética, de isótopos estáveis e dos níveis de contaminação das espécies.

Os outros cinco projetos focam no estudos de invertebrados: medusas, poliquetas, moluscos e crustáceos. Inventariamento, taxonomia, ciclos de vida e dinâmica populacional são algumas das temáticas estudadas nestes projetos. No caso das lulas, o impacto da pesca artesanal nas populações é um dos objetivos de estudo (ver a reportagem “Lulas em foco”).

 

Invertebrados Terrestres

Ácaros, mosquitos, formigas e borboletas são o alvo dos pesquisadores do Programa Biota. O menor número de projetos de uma área – apenas quatro – chamou a atenção para a necessidade de fomentar uma maior participação de pesquisas sobre invertebrados terrestres dentro do Programa.

Compreender a diversidade de ácaros que vivem em aves no Brasil é o desfio de um dos projetos, já que tais animais foram pouquíssimo. Além da descrição de novas espécies e gêneros, um dos principais resultados deste projeto foi a construção de uma rede de colaboração e treinamento em sistemática desse grupo de ácaros

Os mosquitos das áreas verdes da cidade de São Paulo foram estudados tendo a saúde pública como pano de fundo. Já para as formigas cortadeiras o olhar dos pesquisadores é em busca dos processos de especiação, além da caracterização da biodiversidade e potencial biotecnológico (veja a reportagem “Evolução recente das formigas cortadeiras”).
O outro projeto estuda a estrutura funcional e filogenética das borboletas, além de sua filogenia e sistemática e a evolução das interações entre borboletas e formigas. O destaque deste projeto é para a rede de colaboração construída ao longo dos anos, que envolve pesquisadores e estudantes de diferentes estados do Brasil e da Colômbia, além da colaboração com outros grupos de pesquisa no Brasil e no exterior e da integração de dados com outros seis projetos (cinco deles do próprio Programa Biota).

 

Vertebrados

Em comum, os sete projetos que trabalham com vertebrados, estudam e descrevem padrões e inferem processos utilizando esses animais como modelos. Áreas como ecologia, evolução, genética, embriologia, sistemática e conservação são tratadas e peixes, anfíbios, cobras, lagartos, mamíferos e aves são estudados em seus diferentes estágios de vida.

Usando métodos como coletas e monitoramento de campo, coleções de espécimes e de tecidos, bioacústica, morfometria, variação isotópica, e técnicas de análise molecular, os pesquisadores se propõem a responder questões como: qual o papel dos predadores de topo de cadeia nos diferentes ecossistemas? Quais são as bases moleculares para a diversidade fenotípica dos vertebrados? Quais são os processos históricos e ecológicos responsáveis pela diversidade e distribuição dos vertebrados? Como é possível contribuir para a conservação desses animais usando dados de história natural, sistemática e genética populacional?

 

Projetos conjuntos Biota – SISBiota

O Sistema Nacional de Pesquisa em Biodiversidade (SISBiota) é uma iniciativa do CNPq em conjunto com as FAPs Estaduais. Três são os projetos financiados conjuntamente entre Fapesp e CNPq e que fazem parte tanto do SISBiota quanto do Programa Biota/Fapesp:

  1. Rede Cerrado Microcrustáceos: com objetivo de inventariar esse grupo e analisar as mudanças em diversidade e riqueza entre as épocas secas e úmidas; identificar as variáveis ambientais que influenciam a diversidade e distribuição desses grupos; produzir guias e chaves de identificação e o banco de dados do Sistema de Informações sobre Biodiversidade Brasileira (do Ministério de Ciência e Tecnologia) além de treinamento de recursos humanos e apresentação dos resultados para as comunidades locais.
  2. ReBentos (Rede de Monitoramento de Habitats Betônicos Costeiros) – cujo objetivo principal é criar uma rede integrada de estudos dos habitats betônicos costeiros para estabelecer séries de estudo de longo prazo como estratégia para detectar os efeitos das mudanças climáticas globais.
  3. SISBiota Mar (Rede Nacional de Pesquisa em Biodiversidade Marinha) – com o objetivo central de fazer uma análise crítica do conhecimento atual sobre a biodiversidade marinha do Brasil.
  4. Girinos do Brasil – o principal objetivo é avançar no conhecimento sobre a diversidade e ecologia dos girinos do Brasil, por meio de amostragens em campo em diferentes biomas.

 

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