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Museu Nacional (1818* – 2018†)

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Milhões de registros de todo o Holoceno, 200 anos de história, primeira instituição científica do Brasil, o fóssil humano mais antigo das Américas (Luzia, descoberta na década de 70, em Minas Gerais), o primeiro dinossauro de grande porte montado no país (Maxakalisaurus topai) junto com o maior e mais importante acervo indígena daqui.

Toda a história, todos os registros que fazem de nós uma civilização, que construíram nossa cultura e conhecimento são cinzas desde a noite do último domingo (2), quando um incêndio de mais de cinco horas destruiu a maior parte do acervo do Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Dizem que não há vítimas, mas esqueceram de perguntar aos pesquisadores e aos cerca de 400 alunos dos seis cursos de pós-graduação que neste momento ajudavam a construir mais uma parte da nossa cultura e que viram queimar o suor, o trabalho e toda a dedicação aos quais se empenharam durante os anos de estudo.

O acervo com muitas espécies que estavam sendo descritas pela primeira vez morreu. Outras já descritas, como os lepidópteros (borboletas e mariposas), também foram vítimas. Estas tinham sua importância histórica por se tratar de “coletas dos anos 1920, 30, 40 na Amazônia, em lugares onde nunca ninguém voltou, como ao longo do Juruá; ou de material do Rio de Janeiro, quando a área urbana ainda não tinha engolido a baía da Guanabara” conta André Victor Lucci Freitas, professor da Universidade Estadual de Campinas.

Além destes, o acervo de aracnologia (aranhas e escorpiões) e mais de 1300 holótipos (espécime único usado pelo taxonomista para a descrição da espécie) de besouros foram totalmente queimados, assim como parte da malacologia (moluscos) e da carcinologia (crustáceos) que estava em fase de triagem e catalogação. Há ainda as vítimas dos catálogos online. Ainda que “ter e manter as coleções digitalizadas preservem sua memória e facilitem o intercâmbio de informações”, como afirma a professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Maria Alice S. Alves, essas espécies podem ter seu “registro invalidado pela perda do espécime que o corrobora”, diz Eduardo Hajdu, professor associado do Museu e da UFRJ.

Segundo José Pombal Jr, pesquisador do Museu, “fora do Palácio Imperial (prédio principal do Museu) e, portanto, preservados estão os Departamento de Vertebrados (incluindo a Herpetologia), o Departamento de Botânica, Biblioteca central, parte de salas de aulas, uma parte menor da arqueologia, e alguns laboratórios de invertebrados.” O pesquisador afirma ainda que “no momento estamos nos reorganizando e apertando as salas e laboratórios para recebermos os sem teto, sem acervo, sem documentos, sem nada….”

A causa? Também dizem que é desconhecida, mas novamente não perguntaram aos visitantes ilustres como o físico alemão Albert Eistein (1879-1955), a química francesa Marie Curie (1867-1934) e o antropólogo belga Claude Lévi-Strauss (1908-2009) que sabiam a importância do investimento na geração de conhecimento. Também não perguntaram à feminista, bióloga e pesquisadora do Museu Nacional, Bertha Lutz (1894-1976), que escreveu “A função educativa dos museus”. Este, aliás, deveria ser leitura obrigatória dos presidenciáveis que, na sua maioria, não possuem política de museus em seus programas de governo, embora sob a Lei 11.904, o Estatuto de Museus exista desde 2009.

De janeiro a agosto deste ano o governo desembolsou R$ 98 mil para o museu, uma redução de 85% em relação ao mesmo período de 2013, quando o pagamento havia sido de R$ 666 mil. O incêndio da primeira instituição de pesquisa do país torna-se um marco infeliz da falta de política e investimento científico.

“O museu tem servido a inúmeras instituições nacionais e internacionais, além da sociedade. Resta o alento de não terem sido lambidas pelas chamas as coleções científicas de vertebrados, pouquíssima coisa de invertebrados, a Botânica e a biblioteca, por estarem em construções de cerca de duas décadas, afastadas do prédio principal destruído. Estas coleções, que têm se mantido a duras penas e com recursos cada vez mais escassos, são vitais para o avanço da ciência, assim como o restante do acervo que se perdeu é de valor inestimável para a sociedade como um todo, por ser uma parte considerável da nossa história. O MNRJ foi determinante para muitos pesquisadores e biólogos que se inspiraram desde crianças ou adolescentes nas experiências aí vivenciadas, o que foi determinante para direcionar suas carreiras profissionais. Além disso, como ficarão as crianças desta e das futuras gerações com essa lacuna de potenciais experiências, de conhecimento e de cultura?” desabafa a professora Maria Alice da UERJ.

Este foi apenas mais um capítulo do descaso do governo em relação à educação, ciência e cultura do povo brasileiro. Darcy Ribeiro já dizia que “a crise da educação no Brasil não é uma crise, é um projeto”. Esse projeto tem marcos em 2010, com o incêndio no Instituto Butantã, seguido pelos incêndios no Memorial da América Latina (2013), no Museu da Língua Portuguesa (2015) e na Cinemateca Nacional (2016).

Este é um pequeno desabafo e uma manifestação de solidariedade da Coordenação do Programa BIOTA/FAPESP, em nome de seus pesquisadores, alunos e ex-alunos que tiveram no Museu Nacional do Rio de Janeiro a base científica e cultural de suas formações.

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