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Pesquisador recebe título de cidadão honorário de Angatuba/SP em reconhecimento às pesquisas desenvolvidas

O município de Angatuba, no sudoeste do estado de São Paulo, homenageou nesta semana o pesquisador Luciano Verdade pelos trabalhos de pesquisa realizados no município. Luciano Verdade é pesquisador do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA/USP) e fez parte da coordenação do Programa Biota entre 2009 e 2020. Também dentro do Biota, coordenou dois grandes projetos temáticos: Mudanças socioambientais no estado de São Paulo e perspectivas para a conservação (entre 2008 e 2013) e Fauna em paisagens agrícolas: padrões e processos (iniciado em 2018 e em andamento até 2023).

As pesquisas realizadas procuram compreender a paisagem tanto do ponto de vista da história natural como da humana. “A região de Angatuba é muito rica nessa relação entre história humana e natural”, explica Luciano Verdade. A região experimentou um forte crescimento econômico e se transformou em um local de grande relevância política no final do século XIX com as fazendas de café e algodão. Esse auge despencou juntamente com a queda da bolsa de 1929 e a ascensão de Getúlio Vargas ao poder.

O pesquisador ressalta que, atualmente, a região tem uma população menor e uma quantidade de vegetação natural maior do que cem anos atrás: “entre 1930 e 1970 houve um processo de regeneração natural muito grande e mesmo com a nova expansão agrícola após 1970, a região ainda possui mais áreas de vegetação nativa do que antes de 1930”. A silvicultura e a pecuária são os principais usos atuais da terra sendo que esse histórico acabou gerando um ambiente com grandes alterações mas, ainda assim, com pouca perda de animais de grande porte.

Compreender o papel das áreas agrícolas na conservação da fauna é um dos pontos principais dessas pesquisas. Para Luciano Verdade, “obviamente não dá para comparar a diversidade que permanece nessas áreas com aquelas de áreas de conservação, porém é importante ressaltar que a fauna que resiste nessas áreas agrícolas é importante, não é descartável”.

As pesquisas identificaram padrões mais ricos em biodiversidade nas áreas agrícolas do que o esperado e, especialmente, variações desse padrão com tempo. Assim, os pesquisadores envolvidos se dedicaram a compreender os processos evolutivos e de relações entre espécies que moldam esses padrões ao longo do tempo. “Verificamos que a perda maior de espécies é de mamíferos de pequeno porte: cerca de 80% das espécies dos pequenos roedores se perde frente a cerca de 30 a 40% das espécies maiores. As espécies que permaneceram foram as que se adaptaram, assim temos uma perda de diversidade mas um aumento de abundância e esse aumento acaba sustentando os grandes predadores. Essa é a cadeia trófica simplicada que encontramos nessas paisagens, ou seja, o manejo da cultura acaba influenciando a diversidade de fauna e flora e a complexidade de suas interações”, explica Luciano Verdade.

São padrões e processos que, para os pesquisadores envolvidos, começaram a mostrar caminhos para um aprimoramento da conservação da fauna, na relação com as paisagens agrícolas. Manter as orientações atuais do Código Florestal que tem áreas agrícolas e áreas de vegetação natural é um dos caminhos apontados. Aumentar a biomassa da vegetação nativa e, com isso aumentar a abundância de presas e, por sua vez, a riqueza de predadores é outro caminho. Para Luciano Verdade, “nossas pesquisas reforçam não apenas a importância da existência das áreas de vegetação nativa nas áreas agrícolas mas, sobretudo, da importância da sua biomassa. Isso é uma justificativa importante para o fortalecimento da recuperação e revegetação dessas áreas”

 

Título de cidadão honorário

“É uma homenagem muito tocante, por se tratar do reconhecimento da população local pelas ciências, em especial às que possibilitam um aprimoramento na relação entre seres humanos e a biodiversidade em paisagens agrícolas e silviculturais”, comenta Luciano Verdade, “esse reconhecimento é particularmente gratificante nestes tempos desafiantes por que passamos e só existiu graças ao suporte que recebi do Programa Biota/Fapesp e do CENA/USP. Creio por isso que essa homenagem se estenda a essas instituições”.

Para Bárbara Heliodora Soares do Prado, técnica da Estação Ecológica de Angatuba, os trabalhos coordenados pelo pesquisador colocaram Angatuba no mapa da pesquisa em conservação ambiental. “Isso aconteceu devido à dedicação do professor Luciano e de suas equipes, por meio de inúmeros artigos científicos, livros e outras publicações nacionais e internacionais, principalmente por meio dos projetos temáticos de pesquisa”.

Já para Maria Aparecida Morais Lisboa, historiadora que fez seu mestrado e doutorado sobre Angatuba, “elo do professor Luciano Verdade com nosso município é essencial para compreender essa região e, assim, continuar projetando Angatuba no cenário ambiental sustentável”.