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Taxonomia E Conservação

Taxonomia é necessária para a conservação das espécies

Em um artigo publicado na PLoS Biology em 14 de março de 2018 (Taxonomy based on science is necessary for global conservation), 184 taxonomistas (incluindo pesquisadores e professores da Unicamp, Unesp, UFSM, USP, UFPR, UFRB, UnB, FioCruz, Instituto de Botânica/SP & UFMS) de 37 países escreveram sobre suas preocupações em relação a uma recente proposta sobre uma revisão radical da maneira como os animais e as plantas são nomeados e definidos.

A proposta, detalhada em um artigo na revista Nature  de autoria de Stephen T. Garnett e Les Christidis, argumenta que as abordagens tradicionais para classificar a biodiversidade prejudicam seriamente os esforços de conservação. Eles propõem que, ao contrário de outras disciplinas científicas onde as hipóteses são propostas e testadas sem governança externa, as hipóteses taxonômicas devem estar sujeitas a diretrizes uniformes e sob governança internacional. Em sua proposta, os não cientistas que se apossam das consequências da mudança taxonômica – como advogados, antropólogos e sociólogos – devem compor um órgão de governo internacional encarregado de minimizar as rupturas que as mudanças taxonômicas “arbitrárias” ou “mal justificadas” podem causar aos esforços de conservação.

De uma certa maneira, pode-se considerar que as espécies são as unidades fundamentais da vida e suas nomeações e definições confiáveis são fundamentais para os cientistas e gestores que estudam e conservam a biodiversidade. A conservação das espécies – incluindo o manejo das plantas e dos animais nos quais os seres humanos dependem – exige uma compreensão clara de quem são as espécies e o que as distingue umas das outras. A clareza na taxonomia também é essencial para definir leis sobre quais espécies são protegidas. Globalmente, espécies descritas de forma imprecisa levam a uma má gestão da pesca, ao desperdício de recursos para a conservação e podem proteger equivocadamente espécies não ameaçadas.

Atualmente, a perda de espécies está se acelerando, a distribuição da maioria está diminuindo e ainda assim, cerca de 85% das espécies terrestres e 90% das espécies marinhas permanecem sem nome. Em uma recente publicação no New York Times, o famoso biólogo evolutivo Edward O. Wilson, com razão, define este como um problema de suma importância para a humanidade. A comunidade taxonômica do mundo todo está preocupada com o fato de que uma governança não-científica levará à diminuição na precisão taxonômica e deve retardar o progresso taxonômico quando este precisa ser urgentemente acelerado. Os críticos da proposta de Garnett e Christidis afirmam que, porque as espécies não são entidades fixas, mas grupos de organismos vivos e em evolução, o processo de definição de espécies deve permanecer flexível e aberto para incorporar novos dados para ser o mais preciso possível. Eles acreditam que a descoberta taxonômica, como outros empreendimentos científicos, avançará de forma mais rápida e eficiente por meio de testes de hipóteses iterativos, revisão pelos pares acadêmicos e sendo internamente arbitrado, visando o consenso sobre a validade das propostas taxonômicas.

Ambos os lados deste debate concordam que a conservação da biodiversidade requer pesquisa taxonômica robusta e que a falta desta pesquisa está afetando gravemente a conservação. No entanto, os taxonomistas acreditam que a falta de governança externa não é uma das causa dessa crise. Em vez disso, os taxonomistas argumentam que os verdadeiros problemas para esta disciplina são os apoios insuficientes das grandes agências de financiamento e oportunidades inadequadas de treinamento para novos profissionais na área. Enquanto isso, os taxonomistas mais experientes estão envelhecendo, se aposentando e não estão sendo substituídos na mesma proporção. Assim, a proposta de Garnett e Christidis iria somente limitar a liberdade taxonômica, agravando ainda mais esses problemas.