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Dois anos do desastre ambiental na Bacia do Rio Doce

Pesquisas finalizadas e em andamento apontam graves problemas e futuro incerto

Desde as primeiras notícias sobre o desastre do rompimento das barragens da mineradora Samarco na Bacia do Rio Doce, o Grupo Independente para Avaliação do Impacto Ambiental (GIAIA) se articula para produzir pesquisas de qualidade e análises da situação ambiental da Bacia e sua foz. Durante os dois últimos anos o esforço de coleta de amostras foi grande, assim como a rede de colaboradores. Alguns resultados e análises já dão indícios sobre o ocorrido e como pensar o futuro e muitos materiais ainda estão em compasso de espera, aguardando brechas nos orçamentos dos laboratórios e pesquisadores colaboradores.

“O ano de 2017 foi planejado para o fechamento e consolidação dos dados coletados e avaliados até aqui, mas enfrentamos atrasos nas análises ocasionados pela crise financeira nas universidades”, explica Flávia Bottino, da equipe gestora do Giaia, “trabalhamos até aqui com muitas parcerias para ampliar o alcance dos recursos obtidos no financiamento coletivo que fizemos logo após o desastre. Mas o corte de verbas das universidades faz com que fique muito difícil para os pesquisadores conseguirem realizar as análises dos materiais coletados”. A escolha é por aguardar para continuar a garantir a qualidade do trabalho realizado.

Foto de Dante Pavan, em Itapina, ES (Abril/2016)

Ainda assim, o grupo Giaia continua trabalhando. Uma parceria com pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa finalmente trouxe ao escopo do projeto a análise dos peixes da região. E com a Universidade Federal do Espírito Santo, o monitoramento dos corais na região de Abrolhos e os possíveis impactos da lama do Rio Doce nos mesmos.

Em setembro, Flávia Bottino e colaboradores publicaram um artigo sobre os efeitos do rejeito de minério de ferro sobre a fisiologia de plantas aquáticas. Para ambas as espécies de plantas estudadas, o resíduo derivado da ruptura da barragem de mineração de ferro aumentou as taxas de crescimento, mas afetou o alongamento da planta negativamente e, consequentemente, a acumulação de biomassa e o desenvolvimento de brotos vegetativos. As algas verdes e angiospermas apresentaram a mesma estratégia de crescimento em um ambiente contaminado com crescimento rápido até certo ponto, seguido pela interrupção do crescimento provavelmente devido à toxicidade de diferentes elementos químicos na lama.

O trabalho foi realizado dentro do escopo do Giaia, que financiou o trabalho de campo. “A meu ver, essa publicação mostra a importância de trabalhos colaborativos, principalmente no tocante ao financiamento coletivo”, finaliza Bottino.

Lançamentos marcam os dois anos da tragédia

Ao longo do segundo semestre de 2017 muitos foram os materiais, eventos e produções a respeito deste desastre ambiental.
O livro “Vozes e Silenciamentos em Mariana: crime ou desastre ambiental?”, organizado pela Profa. Graça Caldas, é um dossiê escrito coletivamente por 35 alunos do Laboratório de Jornalismo Científico da Unicamp com diferentes olhares sobre as dimensões políticas, econômicas, sociais, ambientais e culturais do desastre.

A Universidade Federal do Espírito Santo também produziu um livro com diferentes análises sobre a situação: “Desastre no Vale do Rio Doce – Antecedentes, impactos e ações sobre a destruição”. Escrito por 36 pesquisadores, a obra procura documentar as várias dimensões das perdas sofridas com o desastre.

Uma parceria entre a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Universidade Regional de Joinville e Univali, o Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), a Sala Verde e as Escolas Sustentáveis resultou em oficinas na região do desastre e na produção do curta-metragem “Além da Lama: Memórias, Ausências, História”. O foco do filme são as histórias dos atingidos pelo desastre e como vivem e se sentem, dois anos depois.