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Cientistas buscam mapear e caracterizar a biodiversidade dos campos naturais de São Paulo

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Projeto Biota Campos visa tirar ecossistemas da invisibilidade e fortalecer bases para a formulação de políticas de conservação dos campos paulistas

Os campos naturais são ecossistemas invisíveis para a ciência, para os tomadores de decisão, para a imprensa e para a sociedade como um todo. Eles não são nem mesmo mapeados, sua biodiversidade não é constatada, os fatores que os mantêm não são compreendidos e sua importância não é reconhecida. Para preencher essas lacunas, um grupo de cientistas está empenhado em mapear e trazer à luz conhecimentos sobre a biodiversidade dos campos naturais do Estado de São Paulo, assim como os fatores ambientais e de distúrbio que os mantêm.

Flores de Pleroma oleifolium em campo úmido da Estação Ecológica de Santa Bárbara, no município de Águas de Santa Bárbara, em São Paulo. Foto: Giselda Durigan.

O grupo, que é formado por biólogos, engenheiros florestais, ecólogos e outros pesquisadores, integra o Biota Campos, projeto temático financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A principal missão dele é cartografar os campos naturais, inserindo-os no mapa da vegetação nativa de São Paulo. Uma vez identificados os campos, os pesquisadores caracterizam os solos, a vegetação e a fauna que os compõem, buscando compreender a biodiversidade do ecossistema.

Giselda Durigan, pesquisadora do Instituto de Pesquisas Ambientais e líder do projeto Biota Campos, destaca a importância dessas atividades para dar visibilidade aos campos naturais. Depois de explorar mais de 200 áreas, o grupo descobriu que cerca de metade desses ecossistemas não estava mapeada. “Nos campos de cerrado, encontramos em média 15 espécies de plantas por metro quadrado, sendo mais de 80% delas nunca avaliadas quanto ao risco de extinção. Achamos plantas que nunca haviam sido coletadas em São Paulo, outras que foram vistas há 80 anos… são tesouros perdidos, que ninguém conhece, no meio desses campos abertos”, conta.

Além do mapeamento e da caracterização da biodiversidade, o grupo se dedica a outras atividades. Entre elas, estão: datar e reconstruir o crescimento de plantas pequenas dos campos naturais, entendendo a influência das variáveis ecológicas e climáticas nesse processo; caracterizar a dinâmica das transições de floresta para campo em diferentes regiões; indicar espécies e ecossistemas ameaçados e avaliar áreas prioritárias para a conservação; e manejar o fogo para conservar e restaurar os ecossistemas naturais campestres.

“De forma geral, buscamos suprir boa parte das lacunas de conhecimento relativas aos campos naturais, visando melhorar a contextualização espacial e ecológica dos campos paulistas”, explica a pesquisadora do IPA, Natália Ivanauskas, que também integra o projeto Biota Campos. “Esperamos, com este projeto de pesquisa, expandir e disseminar o conhecimento sobre os campos naturais e, assim, fortalecer as bases para a formulação de políticas públicas conservacionistas voltadas a esses ecossistemas no estado de São Paulo”.

Ameaças ao campo

Os campos naturais ocupam cerca de 20% da superfície terrestre. Apesar disso, são mal compreendidos em todas as regiões tropicais do planeta. Eles geralmente são vistos como resultado de degradação de florestas, quando, na verdade, sempre tiveram a formação de ecossistemas abertos. Apenas recentemente, por conta das elevadas taxas de degradação e perda de biodiversidade registradas nos campos naturais, é que surgiram as primeiras preocupações quanto à sua conservação e restauração.

Mas, com ou sem inquietações, os campos continuam ameaçados. Em março, a Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou uma versão modificada do PL 364/2019, que remove a proteção ambiental da vegetação nativa nas “áreas não florestais” em todo o Brasil. Esse projeto facilita a conversão de campos nativos de todos os biomas brasileiros em áreas agrícolas, vulnerabilizando cerca de 48 milhões de hectares de campos naturais, o equivalente às extensões somadas do Rio Grande do Sul e do Paraná.

“O PL 364/19 vem como um golpe fatal, como uma ameaça iminente e instituída legalmente para desproteger completamente os ecossistemas campestres. Por isso é tão importante o conhecimento sobre a biodiversidade, a raridade e o papel ecológico desses ecossistemas. Se a gente não sabe nada sobre eles, como é que a gente vai argumentar que eles têm que ser preservados? Precisamos nos armar com conhecimento, com ciência, para defender esses campos, mostrando aos tomadores de decisão que esses ecossistemas existem e são extremamente importantes”, conclui Giselda.

O Biota Campos conta com 40 colaboradores, entre pesquisadores associados, pós-graduandos, estudantes de iniciação científica e treinamento técnico e funcionários de apoio técnico e administrativo. A equipe é composta por representantes do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Universidade Estadual Paulista (Unesp) e outras instituições nacionais e internacionais. O projeto teve início em fevereiro de 2022 e tem previsão de término em janeiro de 2027.

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