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Palmeiras são mais abundantes nas florestas tropicais das Américas

Euterpe edulis Mart (Arecaceae)

As palmeiras são plantas icônicas da floresta tropical, as imagens de cartão postal de coqueiros inclinados sobre praias de areia branca não capturam a impressionante diversidade de palmeiras e sua importância para os seres humanos e os ecossistemas. Existem mais de 2.500 espécies de palmeiras e muitas são usadas pelos seres humanos para alimentação, abrigo, remédios e artesanato. Além de serem espécies chave, pois um grande número de animais depende de seus frutos e flores. Um novo estudo que contou com a participação de pesquisadores do Programa Biota/Fapesp fez um levantamento do número real de palmeiras nas florestas tropicais ao redor do mundo: o artigo “The global abundance of tree palms” publicado hoje, 06 de julho de 2020, na revista Global Ecology and Biogeography. Mais de 200 co-autores de 48 países contribuíram para o artigo científico liderados por Bob Muscarella, da Universidade de Uppsala, na Suécia, e Thaise Emilio, da Universidade Estadual de Campinas (SP).

Os pesquisadores utilizaram os dados de parcelas florestais existentes ao redor do mundo, entre elas, as 25 parcelas acompanhadas continuamente desde 2005 na Mata Atlântica paulista dentro do Programa Biota/Fapesp. Essa parcelas florestais são espaços demarcados por pesquisadores para o acompanhamento da dinâmica das florestas a longo prazo, essenciais para gerar tanto dados para estudos pontuais como para contribuir para trabalhos de síntese, como o apresentado aqui. Os pesquisadores analisaram dados de 2.548 parcelas e depois quantificaram o número de palmeiras em relação a outras espécies de árvores existentes nesses espaços. Bancos de dados de parcelas permanentes foram utilizados para o levantamento dessas informações incluindo, por exemplo, o forestplots.net, PPBio, Rainfor e AfriTRON, o que reforça a importância dessas ferramentas no suporte à produção de conhecimento científico e sínteses de conhecimento a respeito de grupos de seres vivos ou de grandes áreas geográficas. No Estado de São Paulo, adicionalmente os dados também estão armazenados no Sistema de Informações do Programa Biota – SinBiota, que tem sido utilizado para subsidiar políticas públicas de conservação.

Euterpe edulis – palmito jussara no Núcleo Picinguaba do Parque Estadual da Serra do Mar – Foto: Simey Fish

Os resultados do estudo mostram que nas florestas tropicais das Américas (como a Amazônia e a Mata Atlântica) as palmeiras são cinco vezes mais numerosas do que em florestas semelhantes asiáticas e africanas. Simone Vieira (Nepam/Unicamp), uma das autoras do artigo, ressalta que em florestas da África e Malásia as palmeiras foram encontradas em menos de 20% das parcelas estudadas, na Austrália e Oceania apareceram em cerca de 40% das parcela. “O que impressiona”, comenta Simone Vieira, “é que nas florestas neotropicais (América do Sul e Central) elas aparecem em mais de 80% das parcelas e são um componente importante e diverso da paisagem”.

As florestas tropicais são frequentemente vistas como sinônimo de biodiversidade, no entanto, essa diversidade não é distribuída uniformemente e a maioria das plantas em uma determinada área pertence a apenas um grupo de espécies. A biomassa total na floresta amazônica é distribuída entre menos de 300 espécies de árvores – incluindo várias espécies de palmeiras. Identificar quais são as espécies dominantes nas florestas tropicais é essencial para compreender como as florestas funcionam e os possíveis impactos das mudanças climáticas globais. Além disso, é importante incluir a proporção de palmeiras nos cálculos do potencial armazenamento de carbono nessas florestas.

Simone Vieira explica que “existem desde palmeiras muito esguias (como ao palmito jussara – Euterpe edulis) até palmeiras grandiosas em termos de volume (como a Attalea speciosa) e elas tem impactos diferentes na biomassa da paisagem”. Carlos Joly (IB/Unicamp), também um dos autores do artigo, complementa tomando como exemplo a Mata Atlântica do estado São Paulo: “nessa região as palmeiras arbóreas, principalmente o palmito jussara podem representar 25% dos indivíduos e correspondem a cerca de 5% da biomassa”.

Em outro estudo, na região do limite sul da Amazônia, Simone Vieira e outros pesquisadores avaliaram o impacto das grandes palmeiras na biomassa da paisagem. “O que percebemos é que quando o local possui essas palmeiras muito grandes elas diminuem a quantidade de biomassa do local. As palmeiras, por serem monocotiledôneas, estocam menos carbono num mesmo diâmetro de tronco quando comparadas com as árvores, então elas impactam fortemente a biomassa do local”, explica a pesquisadora.

Sabe-se, também, que muitas palmeiras preferem terrenos com um bom suprimento de água subterrânea e o novo estudo confirmou que as palmeiras eram mais abundantes em áreas mais úmidas, com solos menos férteis e águas subterrâneas mais rasas. “Na região de São Luiz do Paraitinga, por exemplo, ocorreu uma alta mortalidade das palmeiras em função da grande crise hídrica do estado de São Paulo em 2014-2016”, explica Carlos Joly. “E se pensarmos em climas futuros, talvez mais secos como reflexo das mudanças climáticas globais, pode haver um impacto bastante grande na composição das florestas e um componente que podemos perder são essas espécies de palmeiras”, completa Simone Vieira.

Referências:

Muscarella R, Emilio T, Phillips OL, et al. The global abundance of tree palms. Global Ecol Biogeogr. 2020;00:1–20. https://doi.org/10.1111/geb.13123

Marcos A.S. Scaranello, Bruno S. Castro, Renato A. Farias, Simone A. Vieira, Luciana F. Alves, Henrique S. Robortella & Luiz E. O. C. Aragão (2016) The role of stand structure and palm abundance in predicting above-ground biomass at local scale in southern Amazonia, Plant Ecology & Diversity, 9:4, 409-420, DOI: 10.1080/17550874.2016.1264015