Os atuais níveis de pressão sobre o sistema planetário poderão levar a uma emergência humanitária com o aumento das crises ambientais, econômicas, sanitárias e sociais em escala global. É necessário, nesse momento, uma grande mobilização social para enfrentar esses problemas e buscar as transformações necessárias para melhorar a vida em sociedade.
Nesse contexto, é fundamental que as pesquisas científicas não apenas analisem as transformações necessárias para a sustentabilidade como, também, contribuam ativamente para que elas aconteçam. A ciência da transformação busca inovações em diferentes âmbitos, como nas metodologias de pesquisa, na produção participativa de conhecimentos e na capacitação dos pesquisadores e instituições para essas formas de fazer ciência.
Para discutir com a comunidade científica, atores institucionais e sociedade as potencialidades e os desafios desta abordagem, o Programa Biota/Fapesp realizou, no dia 25 de outubro de 2022, o webinário “Transformação e coprodução de conhecimento para a sustentabilidade“.
“O objetivo deste evento é procurar entender como a biodiversidade e seus processos podem ser solução para problemas socioambientais e como podemos co-construir soluções juntamente com a sociedade e órgãos ambientais” explica Jean Paul Metzger (IB/USP), da coordenação do Programa Biota. A temática é um dos eixos centrais do Plano Estratégico de Ação – BIOTA 2030 e, segundo o pesquisador, “tem como objetivo principal uma expansão do conhecimento sobre o papel da biodiversidade como elemento central da transição para sustentabilidade de sistemas sociecológicos”. Neste processo, a coprodução de conhecimento é reconhecidamente uma via importante. “Compreendida como um modo de interação entre atores científicos e não científicos, visando a identificação de problemas que demandam processos colaborativos para avançar no conhecimento e a proposição e implementação de soluções, a coprodução estrutura-se na integração de diferentes saberes e na aprendizagem coletiva”, reforça Gabriela Di Giulio (FSP/USP), da coordenação do Programa Biota.
Dentre as características da ciência da transformação está a possibilidade de produção de conhecimentos acionáveis. Segundo a palestrante Maria Carmen Lemos, professora da School for Environment and Sustainability, University of Michigan (Estados Unidos), conhecimento acionável é aquele que pode ser incorporado dentro de decisões e varia entre o que o cientista acredita que é útil e o que o tomador de decisão sabe que precisará. “Para ser acionável, o conhecimento precisa estar acessível na época, no lugar e no meio de comunicação que o tomador de decisão utiliza”, explica a pesquisadora. Entre as formas para aumentar a possibilidade de uso dos conhecimentos destacadas por Maria Carmem Lemos está a utilização de mecanismos de participação na co-criação desse conhecimento, a disseminação do conhecimento co-criado e agregação de impacto por meio da coprodução envolvendo tomadores de decisão cujas ações impactam uma grande parcela da sociedade.
O palestrante Lucas Garibaldi da Universidad Nacional de Río Negro (Argentina), e co-chair do Transformative Change Assessment do Painel Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), analisou a implementação de transições produtivas sustentáveis com ênfase na biodiversidade e na produção de alimentos saudáveis destacando a importância da inclusão nos processos de transformação da sociedade. “Em nossa experiência percebemos que as transformações são feitas de forma gradativa, foram importantes a abertura para a inclusão de novos agricultores e empresas ao longo do tempo e a compreensão de que esse é um processo que nunca acaba, que vai melhorando e ampliando”, analisa Lucas Garibaldi.
Além de conhecer diferentes iniciativas da abordagem da ciência de transformação, o evento também teve como objetivo iniciar o debate para a construção de uma chamada na área para o Programa Biota, a ser lançada no primeiro semestre de 2023. Para Luiz Eugênio Mello, Diretor Científico da Fapesp, a convocação da sociedade como um todo, e não só da comunidade científica, é essencial para um endereçamento das questões socioambientais. “E seguindo uma tradição já de várias décadas, a Fapesp tem buscado ouvir a sociedade e os especialistas de maneira a construir as melhores formulações de chamadas e de editais de pesquisa”, reforça Luiz Mello.
A gravação do webinário está disponível Canal do YouTube da Agência Fapesp: https://youtu.be/TDQc4lmwQvQ