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Sobre a diversidade de encontros com o oceano

TrilhaSubaquatica

Como influenciamos o oceano e como o oceano nos influencia? Como construir uma educação ambiental voltada ao oceano que leve em consideração a diversidade – cultural, ambiental, social? Como avaliar as ações realizadas? Essas e outras questões são abordadas no livro Educação Ambiental costeira e marinha (Coastal and Marine Environmental Education), lançado no início de 2019 pela Editora Springer dentro da coleção “Brazilian Marine Biodiversity”.

Os pesquisadores Natalia Ghilardi-Lopes (UFABC) e Flávio Berchez (IB-USP) organizaram a publicação que começou a ser planejada em 2017, dentro da Rede de Monitoramento de Habitats Bentônicos e Costeiros (ReBentos). “O grupo de trabalho em educação ambiental envolve diversas pessoas no Brasil que trabalham nos ambientes costeiros e desenvolvem trabalhos na área”, explica Ghilardi-Lopes, “e nossa motivação foi divulgar para dentro e fora do Brasil essas experiências inovadoras e de qualidade”.

Para Berchez o livro mostra a importância da educação ambiental como processo pedagógico dentro das escolas públicas, “é precisar chamar a atenção e dar importância à educação e às escolas públicas dentro da academia, nas políticas públicas e em todos os espaços da sociedade. Além disso, reforçar a importância do trabalho conjunto entre escolas e outros espaços da sociedade, organizados por meio de redes que auxiliem na manutenção dos projetos a longo prazo ”, completa o pesquisador. Um dos capítulos aborda seis experiências emblemáticas de educação ambiental no Brasil. Experiências como o projeto Tamarzinho, Golfinho Rotador, Trilha Subaquática, Aquário da Paraíba, Projeto ProMar e o programa de ciências marinhas aplicadas à educação do Instituto Federal de Santa Catarina enfatizam a importância da diversidade de públicos e metodologias para a construção de novas relações com o oceano.

A alfabetização oceânica é um dos conceitos abordados no livro: uma pessoa alfabetizada no oceano seria capaz de compreender a influência do oceano sobre a humanidade e as influências da humanidade sobre o oceano. “A insistência em utilizar oceano no singular diz respeito à compreensão do oceano como uma unidade interligada” afirma Ghilardi-Lopes, “e esse é um dos princípios para a proposta de alfabetização oceânica, assim como o princípio de que é a existência do oceano que permite à Terra ser habitável,  o de interligação entre seres humanos e oceano, entre outros”.

Professores da Rede Pública participando de atividade de observação utilizando instrumento construído com cones de rua na Trilha Subaquática – llha Anchieta, Ubatuba. Foto: Suzana Ursi

As políticas públicas são tratadas em diferentes momentos ao longo da publicação. Embora a educação ambiental não esteja colocada nas políticas púbicas ambientais ou educacionais de forma explícita, os autores procuram as brechas e espaços existentes. “Na Base Nacional Comum Curricular o uso da palavra sustentabilidade vem com a ideia de abarcar a educação ambiental  mesmo que ela não esteja explícita”, explica Ghilardi-Lopes,  “acredito que os educadores ambientais podem se apropriar do conceito de sustentabilidade compreendendo-o como tema transversal e complexo ou como tema gerador para o trabalho em sala de aula”.

Outro aspecto considerado fundamental pelo grupo e tema central de um capítulo é a avaliação. Dada a complexidade da educação ambiental, a avaliação de projetos e ações, segundo os editores, deve levar em conta não apenas a aquisição de conhecimentos mas também a análise de diferentes perspectivas, como as atitudes, habilidades, conscientização a respeito da temática e, especialmente, o processo de aprendizagem em todas as suas etapas.  Para Rosana Silva e Suzana Ursi, ambas professoras da USP e co-autoras do capítulo, os focos para a avaliação em educação ambiental podem ser três: a interação entre os sujeitos antes, durante e depois das ações realizadas, a ação em si e as interações entre sujeitos e ambiente antes, durante e após as ações. Diferentes formas de medir os resultados obtidos podem ser escolhidas, seja a construção de indicadores ou o uso de conjuntos variados de instrumentos de avaliação. O essencial, para as autoras, é que a avaliação seja formativa, parte do processo educativo e utilizada ao longo dele e não apenas informativa e ao final das ações.