Biota Transformação
A atividade humana sempre esteve relacionada às alterações no meio ambiente. Porém, é inquestionável que o ritmo de degradação ambiental e de comprometimento dos recursos naturais foi impulsionado pela Revolução Industrial no século XVIII e acelerado nos séculos posteriores com a expansão da população mundial e do consumo. Como resultado desse processo, destaca-se principalmente a perda da biodiversidade e suas consequências negativas para a provisão de serviços ecossistêmicos relacionados à produção de alimento, à regulação do clima e ao suprimento de água potável, por exemplo.
Os atuais níveis de pressão sobre o sistema planetário poderão levar a uma emergência humanitária com o aumento das crises ambientais, econômicas e sociais em escala global. A mobilização social para a superação dos grandes problemas da contemporaneidade passa, necessariamente, por uma investigação transdisciplinar que possibilite encontrar, nas fronteiras do conhecimento, soluções baseadas na natureza para melhorar a vida em sociedade. Assim, um pacto entre sociedade e ciência, com uma relação mais sólida entre as lideranças dos diferentes setores, é central para a superação dos problemas. Vale ressaltar que essa ideia ganha impulso a partir dos anos 1980, com o lançamento do Relatório Brundtland, Our Common Future, um marco importante para a agenda do desenvolvimento sustentável, que converge para os lançamentos recentes de planos globais de ação pela ONU para proteger o meio ambiente e o clima e acabar com a pobreza, incluindo aqui os “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável” e o Global Biodiversity Framework, da Convenção da Diversidade Biológica. Todos esses planos envolvem problemas complexos que exigem ações transdisciplinares.
Diante deste contexto, a ciência da transformação tem por objetivo contribuir para as transições em direção à sustentabilidade. Tal ciência é orientada para questões sociais, reconhecendo as dinâmicas e inter-relações de sistemas complexos, visando fomentar novas formas de pensar e de agir que possam contribuir para mudanças transformadoras. Esta nova abordagem vai para além da compreensão do problema, pois visa gerar conhecimento prático e válido dentro e fora da academia, ou seja, baseia-se na colaboração ciência-política-sociedade, agregando diferentes disciplinas e abordagens de pesquisa para contribuir para as transições para a sustentabilidade.
Desde a sua origem, o Programa Biota tem promovido o diálogo entre tomadores de decisão e acadêmicos, estimulando a pesquisa voltada para solução de problemas ligados à conservação da biodiversidade, subsidiando políticas públicas e a tomada de decisão. Essa base estabelecida é um campo fértil para que o Programa Biota alavanque iniciativas de ciência da transformação para a sustentabilidade, olhando tanto para a questão de governança (i.e., como tomar decisões) quanto para questões temáticas e práticas, envolvendo prioridades de ações no tempo e no espaço.
Objetivo Principal
Expandir o conhecimento transdisciplinar sobre o papel da biodiversidade como elemento central da transição para a sustentabilidade dos sistemas socioecológicos.
Desafios a serem superados
- Ampliação da capacidade de organizações públicas, privadas e da sociedade civil de gerenciar, monitorar, proteger, restaurar e utilizar sustentavelmente a biodiversidade;
- Aprimoramento das bases teóricas e práticas da governança socioambiental;
- Subsídio à tomada de decisão sobre planos, políticas e projetos a fim de garantir o desenvolvimento sustentável em sistemas adaptativos complexos, em diferentes setores da sociedade, na perspectiva de promover os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, além de outras agendas nacionais e internacionais;
- Desenho de cenários socioambientais e avaliação de suas consequências na sociedade e no ambiente, assim como das potencialidades e desafios de diferentes medidas mitigadoras e de adaptação;
- Experimentação e proposição de estratégias de comunicação e coprodução do conhecimento com a sociedade e com tomadores de decisão sobre as características, desafios e consequências da crise da biodiversidade, e sobre a efetividade de ações para lidar com esta crise;
- Aumento da integração das diferentes áreas das ciências naturais, e entre elas e as ciências sociais, para que haja um avanço no conhecimento sistêmico e transdisciplinar de sistemas socioecológicos que permita a transição para a sustentabilidade. Essa integração pode ocorrer por meio de iniciativas de síntese, como já exposto, mas pode ocorrer por meio de outras abordagens ou dinâmicas de pesquisa. Isso perpassa a interação entre o Programa Biota e outros Programas da Fapesp, como o Mudanças Climáticas, eScience, Bioen, Pesquisa Inovativa e Políticas Públicas, no sentido de criar oportunidades inovadoras para inserir a biodiversidade como tema propulsor do desenvolvimento sustentável.
Ações
- Estimular a pesquisa inter e transdisciplinar orientada para a soluções de problemas baseadas na natureza através de Chamadas específicas;
- Disseminar os princípios e objetivos do Biota Transformação, integrando cientistas e organizações públicas, privadas e sociedade civil de forma a estimular a elaboração de projetos nessa temática;
- Propiciar o aprendizado e a prática de diferentes abordagens da transição sustentável pautadas na biodiversidade, focando em jovens pesquisadores;
- Promover a disseminação de iniciativas de transição sustentável por meio do Programa Biota, Agência Fapesp e Revista Fapesp.
Metas
- Lançar pelo menos uma Chamada de Transformação a cada dois ou três anos;
- Apoiar pelo menos quatro Chamadas de Escolas de Ciência Avançada, com foco na ciência da transformação;
- Estimular pelo menos quatro Chamadas transdisciplinares voltadas à coprodução de políticas públicas e de conhecimento para a gestão e conservação da biodiversidade, em colaboração com parceiros governamentais e não-governamentais;
- Promover pelo menos um workshop ou evento similar a cada dois anos para disseminar a ciência da transformação e estimular parcerias colaborativas e transdisciplinares;
- Promover pelo menos uma publicação anual de disseminação de iniciativas de transição sustentável, de preferência junto com outros programas temáticos da Fapesp.
Para mais informações, acesse o Plano Biota 2030 completo.