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“É preciso fugir da visão maniqueísta de ciência básica e aplicada”, diz Alexander Turra, novo membro da coordenação Biota

Alexander Turra – IO/USP

O especialista em ecologia marinha e gerenciamento costeiro, Alexander Turra, professor titular do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO/USP), é o mais novo membro da Coordenação do Programa Biota. Agora a coordenação conta com seis membros: Carlos Joly (Unicamp), Jean Paul Metzger (USP), Letícia Lotufo (USP), Simone Vieira (Unicamp), Vanderlan Bolzani (Unesp) e, agora, Alexander Turra (USP).
Como o próprio pesquisador se define “estou me especializando em sair das caixinhas”. O ecólogo marinho atua ativamente em diversas iniciativas que conjugam pesquisa, tomada de decisão, governança dos espaços territoriais costeiros, divulgação científica, empreendedorismo e arte sempre relacionando com as questões do oceano. Grande parte destas atividades ocorrem sob a égide da Cátedra UNESCO para Sustentabilidade do Oceano (IEA/USP e IO/USP), criada em 2018. Esta iniciativa tem papel estratégico para o país, sobretudo porque estamos vivendo a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável, proclamada pelas Nações Unidas entre 2021 e 2030.
Sua participação na coordenação contribuirá não somente para trazer maior protagonismo para o tema do oceano no Programa Biota, mas também para reforçar, por meio da experiência do pesquisador, a prática de abordagens transdisciplinares e o diálogo com diferentes atores que são frequentemente abordadas em práticas de gestão participativa. “Quando atuamos com gestão territorial é preciso se colocar no lugar do outro e para isso, exercitamos a comunicação com diferentes grupos e a valorização da inter e transdisciplinaridade”. Além disso, Turra têm a expectativa de que a Fapesp, como ditadora de tendências em meio a outras agências de financiamento, possa transbordar a pauta do oceano para outras instituições, de modo a multiplicar novos instrumentos de financiamento e arranjos institucionais para tratar do tema.

Se hoje Turra se envolve com múltiplas frentes de atuação e engajamentos públicos para promover a cultura oceânica no país, no início de sua carreira, o pesquisador passou treze anos estudando o solitário caranguejo ermitão. Nesta aparente contradição, reside o fato de que, ao longo de suas visitas ao litoral paulista, o pesquisador começou a interagir com outras pesquisas e a ampliar sua percepção sobre os elementos do entorno das praias e costões rochosos. Ali nascia sua inquietação para buscar mecanismos capazes de conjugar os sistemas natural e social.
Quando finalizou seu doutorado, Turra passou um breve período dando aulas em uma universidade particular em São João da Boa Vista (SP). Em seguida, mudou-se para Ubatuba onde criou uma organização não governamental, o Instituto Costa Brasilis – Desenvolvimento Socioambiental, cujo propósito era combinar conhecimento científico em ações de gestão local. Foi neste período que começou a se envolver mais profundamente em processos participativos, conhecer diferentes realidades do litoral paulista e a identificar as interfaces entre ciência, gestão pública e participação popular.
Em 2006 Turra foi aprovado no concurso para o Instituto Oceanográfico da USP. Desde então, o biólogo acumula cerca de 200 artigos publicados, orientou mais de 40 teses e dissertações de mestrado e publicou centenas de textos em jornais e revistas. Além disso, Turra vem integrando as principais iniciativas globais e nacionais sobre a qualidade do oceano.

Reunião comunitária para o diagnóstico participativo das particularidades da Baía do Araçá por ocasião da construção colaborativa do Plano Local de Desenvolvimento Sustentável no âmbito do Projeto Biota/Araçá realizado de 2012 a 2016.

Sua participação no Programa Biota/Fapesp iniciou-se há mais de 20 anos, como doutorando em Ecologia na Unicamp participando do “Projeto Biodiversidade marinha bêntica no Estado de São Paulo”, coordenado por Antonia Cecília Zacagnini Amaral e, na ocasião, foi orientado pela Dra. Fosca Pedini Pereira Leite. “Foi neste período que presenciei uma conexão maior entre cientistas de diferentes áreas buscando uma visão mais ampla visando a tomada de decisão”, relembra o pesquisador que posteriormente também participou do Projeto “Biodiversidade e funcionamento de um ecossistema costeiro subtropical: subsídios para gestão integrada”, o Biota/Fapesp-Araçá (2012-2017).
Após tantas experiências na interface entre ciência e tomada de decisão, Turra ainda percebe que há um desafio importante a ser superado na prática científica de maneira geral, “é preciso fugir da visão maniqueísta de ciência básica e aplicada e rumar para a visão de ciência contextualizada que traz benefícios em curto, médio e longo prazos”. Segundo o novo membro da coordenação, a ciência contextualizada nos direciona para a construção de um futuro desejado, como por exemplo, para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). “O que me motiva na ciência é a perspectiva clara de um futuro capaz de superar dificuldades, inclusive políticas e institucionais com as quais nos digladiamos diariamente tanto no ambiente nacional quanto no internacional”, finaliza Turra.