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Estudo mapeia a composição do mel branco do Rio Grande do Sul e as abelhas nativas sem ferrão que o produzem

Um mel floral, de sabor delicado e de cor e odor específicos são as principais características do Mel Branco, produzido na região de Cambará do Sul (RS). Um estudo publicado na revista Biota Neotropica (https://www.scielo.br/bn) identificou a principal flor fonte desse mel e as diferentes espécies de abelhas nativas sem ferrão que produzem méis com as mesmas características.

Operária de Melipona bicolor schencki Lepeletier, 1836 (Hymenoptera, Apidae) em um pote de mel branco, em Floresta de Araucária do município de Cambará do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil. Foto: Fernanda Kluwe Dias

O estudo foi liderado pela pesquisadora Sidia Witter, da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural/RS, em colaboração com pesquisadores da USP, UFSCar, PUC/RS e Universidade Luterana do Brasil.
“O mel é obtido a partir do néctar das flores, coletado pelas abelhas”, explica a pesquisadora Vera Imperatriz-Fonseca (IB/USP), que também fez parte dos estudos, “a análise dos grãos de pólen encontrados no mel nos auxilia a identificar qual planta produz o néctar que é a fonte do mel”. Esse tipo de estudo é chamado de Palinologia: a parte da botânica que estuda os grãos de pólen.
Os pesquisadores avaliaram os pólens presentes nos méis produzidos por cinco espécies de abelhas nativas sem ferrão. Embora tenham encontrado pólens de 36 espécies de plantas diferentes nessa análise, em todos os méis avaliados havia grande predominância (acima de 45%) do pólen da espécie Clethra scabra, popularmente conhecida como “carne de vaca”. Uma planta pioneira que cresce em habitats de 950 a 2500m de altitude, nativa também nos Andes orientais e nas florestas montanhosas. Com ocorrência natural na Floresta de Araucária e na Floresta Nebular, da região sul do Brasil até a Bahia.
Essa predominância caracteriza o Mel Branco como um mel unifloral, o que auxilia não apenas na identificação das características físico-químicas do mesmo e no aumento do valor agregado do produto, como no manejo das colmeias associado a áreas de floração específicas. Além disso, o estudo identificou, entre as espécies de abelhas nativas estudadas, que a Melipona bicolor schencki, a abelha guaraipo, é a mais especializada na coleta de pólen de Clethra scabra sendo, portanto, bastante indicada para a produção de Mel Branco.
Este estudo pode subsidiar a indicação geográfica na forma de Denominação de Origem (DO) para Mel Branco de Cambará do Sul/RS. As indicações geográficas são ferramentas coletivas de valorização tradicional de produtos vinculados a determinados territórios com a função de agregar valor ao produto e proteger o região produtora. A valorização do mel branco de Clethra scabra e, consequentemente, das espécies de abelhas associadas à sua produção, pode constituir uma oportunidade para a sua conservação, uma vez que a planta e algumas espécies de abelhas encontram-se na lista de espécies ameaçadas de extinção do Rio Grande do Sul.
Além disso, essa identificação permitiu a construção de projetos futuros, coordenados pela equipe da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul. “Na área estudada está prevista a implantação do projeto “Meliponicultura como alternativa de conservação da biodiversidade e agregação de renda à pequena propriedade”, para aplicação do conhecimento obtido: a planta pode ser amplamente multiplicada e disseminada entre os criadores de abelhas, aumentando a produção de mel de alta qualidade”, completa Vera Imperatriz-Fonseca.

Artigo: Witter, S.; Lopes, L.; Silva, C. Imperatriz-Fonseca, V.; Lisboa, B. Blochtein, B. & Mondin. C. Geographical origin of white honey produced by stingless bees in the Araucaria Forest in Southern Brazil.

Divulgação em parceria com a Agência Bori