Visando fomentar a inovação na área de biodiversidade, o Programa Biota incluiu em seu Plano Estratégico de Ação – Biota 2030 um eixo estruturante focado em inovação. A ideia é que o Programa possa promover, incentivar e identificar oportunidades de inovação em bioprodutos e serviços ecossistêmicos. “As oportunidades de inovação a partir da biodiversidade se ampliaram muito, mas ainda são sub-exploradas quando comparadas à inestimável riqueza de recursos biológicos e serviços ecossistêmicos”, aponta Letícia Lotufo, professora da USP e membro da coordenação do Programa Biota.
A iniciativa visa expandir o entendimento de que inovar na área de biodiversidade se resume à novidades advindas da bioprospecção. “A ideia de inovar em biodiversidade ainda está muito restrita a bioprodutos, mas a tradição do país neste campo ainda é incipiente”, explica Lotufo.
Inovação, no Plano Biota 2030, é entendida como a criação de novos negócios, empresas ou abordagens socioambientais pautadas na identificação e desenvolvimento de soluções baseadas na natureza para transformar a sociedade. Por exemplo, oportunidades de negócios e avanços nas estratégias de monitoramento ambiental (como equipamentos, sensores, plataformas), técnicas de manejo e ações de educação e comunicação. Além disso, o Plano 2030 encoraja a inovação com o envolvimento dos povos indígenas e comunidades tradicionais, sempre na perspectiva do compartilhamento equitativo dos benefícios derivados da natureza. “Esse conjunto de iniciativas pode aumentar a resiliência de ambientes terrestres e aquáticos e fomentar o desenvolvimento de uma economia sustentável, ressaltando ao mesmo tempo a importância da biodiversidade e de sua conservação”, pontua o documento.
Neste sentido, o Programa Biota quer fomentar iniciativas que conjuguem o empreendedorismo e estímulo à conservação da biodiversidade. “Temos muito potencial no microbioma, no manejo florestal e de pesca, nas PANCs [Plantas Alimentícias Não Convencionais], ou ainda no seu valor imaterial, como no turismo”, complementa Lotufo. Para a pesquisadora, é preciso inovar também a partir de novos modelos de organização do trabalho, tirando o foco do caráter exploratório da biodiversidade e ampliando a conservação dos recursos naturais. “Temos que inovar também para restaurar e conservar”, salienta Lotufo.
Em 2021, o Programa organizou o Ciclo de Webinários Biota Empreendedorismo com o objetivo de debater as oportunidades para o empreendedorismo baseado em ativos da biodiversidade em serviços ecossistêmicos, controle biológico na agricultura e na indústria de cosméticos.
“Às vezes ficamos fechados demais só pensando na [carreira na] academia e existem várias formas de você empregar esse conhecimento que você desenvolveu. É isso é especialmente importante para mim. Sempre trabalhei com questões de pesquisa aplicada.” relatou Renato Cruizelles, doutor em ecologia e atualmente diretor científico da MOMBAK, uma startup focada em créditos de carbono a partir do reflorestamento, no webinário Biota Empreendedorismo em serviços ecossistêmicos.
Na trilha da inovação em biodiversidade
A atuação do Programa Biota na interface da inovação se iniciou há 20 anos, com a criação do subprograma BIOprostecTA, em 2003, cujas metas iniciais eram focadas na busca por substâncias biologicamente ativas da biodiversidade do estado de São Paulo para futuras investigações farmacológicas e toxicológicas. Desde então foram mais de 60 projetos atuando na pesquisa de compostos da biodiversidade.
Em 2016, o Programa Biota lançou o concurso BIOTA Empreendedorismo com a ideia de fomentar a criação e o desenvolvimento de modelos de negócios em biodiversidade baseados em pesquisa em caracterização biológica e química, conservação, restauração e uso sustentável da biodiversidade brasileira. O processo incluiu um processo de treinamento dos participantes e aperfeiçoamento dos projetos. Foram dezenas de inscritos e 12 finalistas. O projeto ganhador propôs a utilização de espécies vegetais nativas com potencial biológico e econômico como opção para o reflorestamento em áreas de Reserva Legal e de Proteção Permanente, previstas no novo Código Florestal, de modo a estimular uma cadeia produtiva sustentável de insumos vegetais.
Pela primeira vez, desde sua criação em 1999, o Programa Biota cria um plano estruturado para atuar em longo prazo e de forma planejada e ampla no incentivo à inovação no campo da biodiversidade. O Plano 2030 abarca diferentes frentes de atuação para fomentar desenvolvimento tecnológico com base na biodiversidade e nos serviços ecossistêmicos na perspectiva do compartilhamento equitativo dos benefícios derivados da natureza. Entre elas ressalta-se o incentivo à parceria entre pesquisadores e empresas, estímulo à criação de pequenas empresas (startups), promoção do empreendedorismo socioambiental e incentivo à cadeias produtivas pautadas na inclusão social.
Para isso, o Programa Biota pretende estimular projetos de inovação, articular parcerias entre os diferentes setores na cadeia de inovação e promover a cada três anos pelo menos uma Chamada junto com os programas PIPE, PIPE-TC ou PITE voltada à inovação com ativos da biodiversidade.