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Projeto discute soluções baseadas na natureza para ambientes urbanos e periurbanos

Buscar caminhos para estabelecer os melhores critérios e indicadores para implantação e monitoramento de Soluções Baseadas na Natureza voltadas à adaptação aos efeitos das mudanças climáticas de áreas urbanas e periurbanas de São Paulo foi o foco de um encontro de imersão do Projeto Biota Síntese do Programa Biota/Fapesp. Dezesseis integrantes – entre cientistas e gestores públicos de secretarias do estado e municípios – se reuniram de 2 a 5 de abril, em Juquitiba-SP. Para o grupo, que trabalha junto desde agosto de 2022, a definição desses critérios e indicadores é um passo importante para a implantação correta e a avaliação da eficiência das intervenções, bem como sua adoção pelos tomadores de decisão e aquisição de financiamentos internacionais.

O Biota Síntese tem o objetivo de subsidiar políticas públicas relacionadas a questões socioambientais do Estado de São Paulo. Para isso, faz uso de três princípios: a ciência de síntese; a coprodução de conhecimento, que envolve a união entre academia e gestão pública; e as Soluções Baseadas na Natureza (SBNs) – que são soluções inspiradas, apoiadas ou copiadas da natureza, capazes de proporcionar benefícios ambientais, sociais e econômicos.

A equipe de trabalho reúne pesquisadores da USP (incluindo Faculdade de Saúde Pública, Instituto de Estudos Avançados, Instituto de Biociências e Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) e da Universidade de Waikato (Nova Zelândia) e técnicos da Secretaria Estadual do Verde Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (SEMIL) e de Secretarias Municipais de Santos (Meio Ambiente), Campinas (Verde, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável) e São Paulo (Verde e Meio Ambiente e Urbanismo e Licenciamento).
Foto: Rodrigo Victor

No entendimento do grupo, a manutenção e ampliação de uma rede de Soluções Baseadas na Natureza, além de contribuir para a solução de problemas específicos, traz diversos cobenefícios. Por exemplo, uma rede de jardins de chuva estrategicamente localizados, além de reduzir a quantidade de água que escoa para as áreas mais baixas, evitando alagamentos, também permite que a água infiltre no solo, contribui para amenizar o microclima local, cria ambientes atrativos para a fauna e embeleza a região. Quando integrada a outras soluções, como parques lineares, telhados verdes e arborização de rua, esses benefícios são ainda maiores.

Para o coordenador do Biota Síntese e professor do Instituto de Biociências da USP, Jean Metzger, presente no encontro, é fundamental que o grupo consiga demonstrar a ampla gama de benefícios de uma rede de SBNs e compará-los com as limitadas contribuições de soluções que foquem apenas em infraestrutura cinza, ou seja, infraestruturas pavimentadas, como os piscinões de retenção de água de chuva, por exemplo.

Dentre os cobenefícios, foi consenso no grupo considerar diferentes dimensões, ambientais, sociais e econômicas. Gabriela di Giulio, pesquisadora da Faculdade de Saúde Pública da USP e coordenadora do grupo, reforçou a importância de incluir os critérios de justiça climática ao pensar a implantação das SBN, priorizando ações em áreas tradicionalmente mais excluídas.

A partir da imersão, foram elencados quatro eixos de trabalho para serem desenvolvidos a médio e longo prazo. Os dois primeiros eixos, de médio prazo, visam fazer um inventário das SBN já implementadas no Estado e a identificação de relações entre problemas centrais, possíveis redes de SBN e cobenefícios para diferentes territórios. Os outros dois, de longo prazo, envolvem a construção de indicadores chave para o monitoramento de SBN implantadas e a valoração dos benefícios.

Coprodução de conhecimento

Apesar da cooperação entre academia e gestão pública ser algo que existe há muito tempo, em diferentes formatos, essa relação tão estreita de trabalho é algo inovador. “Muitas vezes a universidade vem até nós para levantar dados, mas depois não dá um retorno para a secretaria”, explica Patrícia Sepe, geóloga que trabalha há 32 anos na prefeitura de São Paulo, sendo os últimos na Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento, “aqui [no Biota Síntese], eu sinto que estamos produzindo juntos”, complementa. Para Patrícia Ruggiero, pós-doutoranda do Biota Síntese que pesquisa a coprodução de conhecimento, “se nós mostrarmos que esse trabalho [do Biota Síntese] está funcionando, ele poderá ser um modelo para outros projetos”.

Segundo Ângela Guirao, diretora do Departamento do Verde e do Desenvolvimento Sustentável da SVDS de Campinas, essa aproximação do gestor com a academia é muito importante, ela espera conseguir “trazer subsídios técnicos para uma discussão que muitas vezes é politica”, buscando a valorização das SBN entre as soluções adotadas pela cidade.