Em sua fase inicial o Programa Biota/Fapesp apoiou diversos projetos que preencheram lacunas no conhecimento básico sobre a biodiversidade do estado São Paulo e no país. Três artigos publicados no número especial da Revista Biota Neotropica sobre os 60 anos da Fapesp detalham os trabalhos de inventários, taxonomia, sistemática e história natural que resultaram em um melhor conhecimento de invertebrados terrestres, algas e mamíferos.
Com relação aos invertebrados terrestres, até a metade de 2023, o Programa Biota contou com 26 projetos em todo o Brasil, com ênfase no estado de São Paulo, gerando mais de 1.140 publicações em periódicos de alto impacto. Essas pesquisas resultaram na descrição original de 1.187 espécies e 76 gêneros, além de informações complementares sobre 350 espécies. Fernando Noll (IBILCE/UNESP) e colaboradores também destacaram o papel fundamental do Programa na criação e adaptação de instalações de pesquisa científica, bem como no treinamento de novos taxonomistas. Segundo os autores, os grupos de invertebrados terrestres mais estudados incluem os Insecta das ordens Hymenoptera, Lepidoptera e Diptera, e os Arachnida das subclasses Araneae e Acari. Também foram citadas as contribuições para a identificação de organismos úteis como agentes de controle biológico e para a elaboração de mapas para políticas públicas.
Já as algas foram alvo de um processo intensivo de coleta que foi desenvolvido exatamente para abordar lacunas importantes na pesquisa, seja em rios e riachos como em lagos do Estado de São Paulo. Carlos Bicudo (SEMIL), autor do artigo e de grande parte dessas pesquisas, destaca que os resultados do estudo revelaram aumentos notáveis sobre o conhecimento da biodiversidade de diferentes grupos de algas, sendo que um deles (Bacillariophyceae ou Diatomáceas) chegou a aumentar até 7 vezes. O autor ainda destaca dois resultados dessas pesquisas: a publicação do livro “Gêneros de algas de águas continentais do Brasil: chave para identificação e descrições” e a “Flora Ficológica do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga”, que pode ser considerada a flora ficológica mais completa já realizada no país, contando com a descrição de 919 táxons. A Flora começou a ser publicada em fascículos em 1991 e deve ser finalizada até o final de 2024.
O Estado de São Paulo tem as melhores informações espaciais sobre a biodiversidade de mamíferos no Brasil, que são estudados na região há mais de um século. A partir de 8 conjuntos de dados disponíveis, Mauro Galetti (UNESP Rio Claro) e colaboradores compilaram uma lista dos mamíferos, analisando sua riqueza e distribuição nas 22 regiões hidrográficas do estado. “Esses conjuntos de dados forneceram informações sobre 11.037 registros, de 173 espécies, sendo que a maior diversidade é encontrada nas florestas da Serra do Mar e áreas dos municípios de Ribeirão Preto e Jundiaí, principalmente associadas às Unidades de Conservação”, destacam os autores.
Entre as diversas análises sobre o futuro dos mamíferos no estado mais populoso do país, os autores sugerem que a coexistência entre humanos e mamíferos selvagens requer uma agenda social e ecológica integrada, com foco na transformação de conflitos em soluções vantajosas para todos. Ainda segundo os autores, a caça, as colisões entre animais e veículos e a disseminação de doenças zoonóticas estão entre os conflitos mais desafiadores para o estado de São Paulo.
Sobre a Biota Neotropica Especial
Em comemoração aos 60 anos da FAPESP a Revista Biota Neotropica, publicada pelo Programa Biota/Fapesp, reúne artigos que analisam a contribuição da Fundação para a área de pesquisa em conservação, uso sustentável e restauração da biodiversidade. O número especial conta com 24 revisões temáticas originais disponíveis na página da revista (https://www.biotaneotropica.org.br) e do SciELO (https://www.scielo.br/j/bn/).
Segundo o editor-chefe da revista, Carlos Joly (IB/Unicamp), a proposta é destacar os avanços no conhecimento científico desde 1962 (data de fundação da Fapesp), “creio que esta é uma excelente oportunidade de sintetizarmos a enorme contribuição dada pela Fapesp para a grande área temática que a caracterização, conservação, restauração e uso sustentável da biodiversidade abrange. Evidentemente, destaque é dado aos projetos desenvolvidos no âmbito do Programa Biota, de 1999 até o presente”.
Desde seu lançamento em 2001 a Biota Neotropica segue a política de acesso livre, isto é, todos os artigos estão disponíveis em formato on-line sem custos para os leitores. E a partir de janeiro de 2022 os dados dos artigos aprovados começaram a ser publicados em repositórios públicos , em consonância com o processo de alinhamento às práticas da ciência aberta promovido pela Rede SciELO.