Grupo Independente para Avaliação do Impacto Ambiental do desastre de Mariana organiza nova viagem de coleta no final de março e pesquisadores interessados em auxiliar nas análises podem solicitar amostras.
Após o desastre do rompimento das barragens de dejetos de mineração da empresa Samarco em Mariana (MG) as informações sobre o ocorrido e o impacto ecológico do mar de lama que assolou o Rio Doce e suas margens eram desencontradas. Um grupo de pesquisadores se reuniu com o objetivo de fazer uma avaliação independente do desastre e suas repercussões tanto biológicas como sociais.
Sabendo da importância desta avaliação e da necessidade de troca de informações e de experiências entre pesquisadores para a análise dos dados, o Boletim de Programa Biota/Fapesp trará, a partir desta edição, um acompanhamento dos trabalhos que estão sendo realizados no âmbito do GIAIA. A proposta é divulgar, dentro da comunidade acadêmica de pesquisa em biodiversidade, as possibilidades de inserção e trabalho conjunto entre pesquisadores do Programa Biota e do GIAIA, assim como as demandas e necessidades de análise de dados e de discussões apresentadas pelo GIAIA.
Após a criação do Grupo, houve um projeto de financiamento coletivo (crowdfunding) e esses recursos estão sendo utilizados para as coletas e viagens
de campo. Fora isso, todo o trabalho – do tempo dos pesquisadores em campo às análises realizadas – são voluntários, explica André Cordeiro dos Santos, professor da UFSCar/Sorocaba e integrante do grupo de trabalho “Águas e Comunidades Aquáticas” e responsável pelas análises de fito e zooplâncton. “A proposta é gerar dados e discutir não apenas esses dados, mas também os divulgados pela Samarco e os da Agência Nacional de Águas, assim como de outros grupos de pesquisa que trabalham ou que já trabalharam na região”, destaca Santos. E essa geração e discussão de dados tem como foco não apenas as pesquisas e a comunidade acadêmica, mas também a gestão e o esclarecimento da população.
A primeira coleta de amostras foi realizada em novembro de 2015, no final do período da seca e logo após a tragédia, abrangendo desde a cabeceira do Rio Doce até a Foz. Não houve coleta, naquele momento, no estuário e na região marinha.
Essas amostras foram distribuídas em diversos laboratórios que se prontificaram a fazer as análises e compartilhar os resultados de forma aberta, para que todos possam usar. Para Santos, este é o principal requisito para participar do GIAIA: “querer participar dentro de um esquema de Open Science, isto é, colocando os dados a disposição de todos para análise e trabalho coletivo”.
A próxima coleta acontecerá no final do período de chuva, entre os dias 29 de março e 08 de abril. Todos os pontos de coleta anteriores serão revisitados para amostras que tem como foco analisar a água, sedimentos, fito e zooplâncton, comunidade bentônica, além de coleta de amostras específicas para analisar o genoma das bactérias presentes na água do Rio Doce. Peixes e aves farão parte de uma coleta posterior e o Grupo busca pesquisadores interessados na área de ictiologia.
A coordenação da viagem de coleta é de Flávia Bottino, da UFSCar, e pesquisadores que queiram colaborar nas análises dessas amostras ou tenham interesse em amostras específicas podem entrar em contato diretamente com o GIAIA pelo e-mail giaia.riodoce@gmail.com. Segundo Bottino, para solicitar amostras é preciso enviar um plano de trabalho, o protocolo de coleta das amostras que necessita e um documento de garantia de que os dados serão entregues ao Grupo. Para quem quiser auxiliar a fazer as análises das amostras já organizadas, entrar em contato pelo mesmo e-mail.
Além dos novos dados coletados e em processo de coleta, o GIAIA necessita de dados anteriores à catástrofe da Bacia do Rio Doce para poder fazer comparações e um histórico da área, para isso solicitam a pesquisadores que tenham realizado pesquisas anteriores na área que entrem em contato e enviem os trabalhos que possuem.
Primeiras impressões
As primeiras impressões do pesquisador André Cordeiro dos Santos dão a dimensão da castástrofe para o ecossistema da Bacia do Rio Doce: “a quantidade de lama é impressionante, tanto as partículas em suspensão na água do rio, com uma concentração de ferro muito acima do normal, quanto acumulado nas margens e não há como retirar toda essa lama acumulada”. A lama nas águas impede a entrada de luz e interrompe todo o ciclo de vida nas águas, “o rio está com ausência quase total de organismos, seja fito e zooplâncton, bentos ou peixes, ele foi completamente lavado, muito além do que acontece no ciclo natural das chuvas e mesmo levando em conta que o Rio Doce tinha um alto grau de eutrofização. Em novembro de 2015 encontramos pouquíssimos organismos, apenas aqueles mais resistentes”.
E as previsões não são otimistas, Santos espera encontrar agora em março de 2016 um estado ainda mais crítico, por ser o final da estação de chuvas, “e temos o agravante de que as águas vão rio abaixo e o impacto no estuário e no mar pode estar ainda maior agora do que logo após o rompimento da barragem”.
Na página do GIAIA é possível encontrar o primeiro relatório de análises de metais pesados e de de organismos bentônicos: https://giaia.eco.br/gt-aguas/
E um relatório parcial do que foi pesquisado até o momento por todos os Grupos de Trabalho.
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Próxima coleta GIAIA: de 29/03 a 08/04
Grupo de Trabalho: Águas e Comunidades Aquáticas
Para solicitar amostras/colaborar: entrar em contato pelo e-mail giaia.riodoce@gmail.com e enviar plano de trabalho, protocolo de coleta e documento que firma parceria e garante a entrega dos resultados aos grupos.
Necessidades do GIAIA: pesquisas sobre peixes na região, dados anteriores/históricos sobre o Rio Doce.
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