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Bacia do Rio Doce: da avaliação dos impactos à busca por possibilidades de restauração

Em 2017 o Grupo Independente para Avaliação do Impacto Ambiental pretende consolidar as informações coletadas até agora e começar a buscar alternativas para o restauro da bacia, sempre tendo a pesquisa científica colaborativa e aberta como base

Em 5 de novembro de 2015 começa um dos maiores desastres ambientais do Brasil: o rompimento da barragem de rejeitos de mineração da empresa Samarco, no município de Mariana/MG. A lama invade a bacia do Rio Doce, se espalha pelas margens e ao longo do tempo se estende até o mar.

Coleta com rede de emalhar na calha do rio Doce próximo à cidade de Tumiritinga. Foram coletadas duas espécies exóticas, a piranha, (Pygocentrus nattereri) e a tilápia, (Tilapia rendali). Nesse local, a água apresenta uma menor turbidez, porém o leito do rio nesse trecho se apresenta bastante assoreado com rejeitos de lama da barragem de Fundão. (c) Giaia.

Logo após o desastre, um grupo de pesquisadores se reúne para montar uma força tarefa com o intuito de produzir um relatório independente de avaliação do impacto ambiental da bacia. Em 15 de dezembro de 2015, publicamos aqui no Biota Highlights a primeira chamada para colaborações com os trabalhos do GIAIA (Grupo Independente para Avaliação do Impacto Ambiental) . Desde então, temos acompanhado o trabalho do Grupo com o objetivo não apenas de divulgar os relatórios e informações produzidas mas, especialmente, de fomentar a construção de parcerias e redes de colaboração para a organização das coletas, análises dos materiais coletados, retomada do histórico de pesquisas na região e levantamento das necessidades de pesquisa para uma avaliação completa da bacia após o desastre.

De novembro de 2015 a janeiro de 2017 o grupo disponibilizou 20 relatórios de dados coletados e analisados de maneira independente – por pesquisadores que não tem ligação com nenhuma das empresas envolvidas no desastre e nem com as agências estatais reguladoras da situação. Análises da água, da comunidade bentônica, fito e zooplanctônica, de plantas aquáticas e da situação das comunidades ribeirinhas são o foco desses relatórios. Além disso foram realizadas coletas e avaliações da comunidade de peixes e há o constante acompanhamento das pesquisas realizadas por outros grupos na região para a troca de informações.

Para Dante Pavan, um dos idealizadores do Giaia, 2017 será um momento de consolidação dos trabalhos realizados e de continuidade das pesquisas, com uma atenção voltada ao futuro da região. “Vamos fazer um documento de consolidação do que fizemos até agora, procurando conectar as informações e análises dos diferentes grupos de trabalho e estudos específicos que realizamos”, afirma Pavan. “Além disso, queremos instalar o monitoramento automático da água e consolidar uma base de estudos do Giaia em Itapina, no município de Colatina”.

Após o rompimento da barragem de Fundão, o rejeito soterrou muitas espécies de plantas e a avaliação do Giaia sobre esses organismos indica perda da diversidade e habitat. O restabelecimento da comunidade de macrófitas aquáticas ocorre através do predomínio de uma espécie exótica invasora (Lírio do Brejo – Hedychium coronarium). (c) Giaia.

Além de ser um pólo para o monitoramento da bacia do Rio Doce, a base de estudos tem como objetivo a experimentação de técnicas para a restauração ecológica da região, também tendo como foco a busca por usos econômicos sustentáveis do ambiente. “O desastre de Mariana teve um impacto imenso, mas a forma como a economia local está organizada, em torno apenas da extração de minério, cria uma paisagem de degradação não apenas no sentido ambiental, mas também no econômico e social”, reflete Pavan, “é preciso criar alternativas sustentáveis de ganho econômico para a região e, para isso, precisamos pesquisar e experimentar técnicas de manejo diferentes e também técnicas de monitoramento, com a definição de indicadores de qualidade do ecossistema para avaliarmos se o manejo está funcionando”.

Para alcançar esses objetivos o grupo de pesquisadores está procurando novas fontes de financiamento. No final de 2015 o Giaia organizou uma chamada de financiamento coletivo por meio da internet e esses recursos é que têm mantido as pesquisas realizadas até o momento. “Vamos procurar fontes diferentes de financiamento, não podemos fechar as portas para nenhuma alternativa, mas estamos na dúvida se o financiamento coletivo terá tanta resposta neste momento, como teve em 2015, já que o desastre de Mariana não está tão presente na mídia como naquele momento. Ainda assim, achamos muito interessante que as pessoas participem e escolham diretamente as pesquisas que julguem relevantes financiar”, diz Pavan.

“É importante que continuemos a fazer ciência”, ressalta Pavan, “precisamos continuar a avaliar a bacia e construir alternativas econômicas tendo as pesquisas como base; utilizando a ciência para a compreensão das conexões entre os fatos e para a criação de novas possibilidades”.

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