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Impacto de construções na biodiversidade de áreas costeiras

Sombreamento por estruturas artificiais altera composição e funcionamento de costões rochosos

Alterar a quantidade de luz solar que incide em comunidades naturais leva a alterações em sua estrutura e funcionamento. E nas comunidades aquáticas, seja em água doce ou do mar, não é diferente. Uma questão que vem se evidenciando é o impacto dessas alterações a partir das construções humanas, que sombreiam os ambientes.
A construção de portos, por exemplo, causa grandes alterações já conhecidas e estudadas como a perda de habitat e biodiversidade, contaminação por substâncias tóxicas, introdução de espécies exóticas e perda da qualidade do ar e da água. O sombreamento causado por esse tipo de construção tem sido considerado como um importante distúrbio humano, afetando a estrutura e diversidade das comunidades, reduzindo a cobertura de macroalgas e interferindo a abundância global de alguns invertebrados.

Analisar o impacto do sombreamento por estruturas artificiais na biodiversidade de costões rochosos, com implicações para o manejo e gestão de regiões costeiras foi o foco de uma pesquisa recém publicada no Journal of Applied Ecology e parte integrante do projeto “Biodiversidade e funcionamento de um ecossistema costeiro subtropical: subsídios para uma gestão integrada”. A pesquisa foi realizada por André L. Pardal-Souza na UFABC/Centro de Ciências Naturais e Humanas, orientado pelos professores Gustavo Dias (UFABC/Centro de Ciências Naturais e Humanas) e Ronaldo Christofoletti (UNIFESP/Instituto do Mar), em parceria com o Prof. Stuart Jenkins (Bangor University – UK) e a Profa. Áurea Ciotti (CEBIMar/USP).

Área experimental sombreada. Foto: André Luiz Pardal-Souza

O estudo foi realizado em duas etapas: uma experimental na Baía do Araçá em São Sebastião/SP e outra observando áreas já sombreadas pela presença de construções humanas, como píeres e marinas. Na etapa experimental, uma pequena área foi coberta, simulando o sombreamento esperado pela proposta de expansão do Porto de São Sebastião. Uma segunda área foi coberta com material que permitia a entrada de luz e uma terceira permaneceu como controle, sem manipulação.
“O sombreamento manipulativo levou a uma perda de biodiversidade nos costões rochosos”, explica Ronaldo Christofoletti, “as macroalgas desapareceram e houve uma alteração da abundância de adultos de diferentes grupos animais nas áreas sombreadas”. Além disso, os processos de funcionamento do ecossistema foram alterados, como o recrutamento larval de ostras e cracas em áreas sombreadas.

Área experimental coberta porém sem sombreamento. Foto – André Luiz Pardal-Souza

“Os padrões que observamos durante o experimento foram os mesmos das áreas já sombreadas por anos pela presença de diferentes construções ao logo da costa” analisa Dias, “a biomassa e cobertura de macroalgas e o tamanho da maioria dos consumidores sedentários foram menores nas áreas sombreadas”.
Os resultados encontrados pelo grupo demonstram o forte impacto do sombreamento por estruturas artificiais sobre os padrões e processos que regulam a biodiversidade em costões rochosos e as conseqüências para o funcionamento do ecossistema costeiro, um impacto que tem sido subestimado nas análises das propostas de expansão portuária no sudeste do Brasil.
Como resultado final do artigo os pesquisadores não recomendam a expansão proposta por estruturas suspensas do porto de São Sebastião, já que o consequente sombreamento afetará negativamente a biodiversidade e o funcionamento do ecossistema da Baía de Araçá e áreas circundantes.

Referência:
Pardal-Souza, A. L., Dias, G. M., Jenkins, S. R., Ciotti, Á. M. and Christofoletti, R. A. (2016), Shading impacts by coastal infrastructure on biological communities from subtropical rocky shores. J Appl Ecol. doi:10.1111/1365-2664.12811

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