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Ácaro-rajado, praga comum no mamão, é encontrado no café e preocupa pesquisadores

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O ácaro rajado (Tetranychus urticae). Foto: Raphael Castilho.

Um estudo publicado na revista Acarologia por pesquisadores vinculados ao Programa Biota/Fapesp trouxe um alerta para produtores de café do Espírito Santo: o ácaro-rajado (Tetranychus urticae), tradicionalmente uma praga do mamão naquela região, causou danos expressivos em alguns cafezais da variedade Coffea canephora (o café conilon). A descoberta ocorreu em plantios consorciados com mamão no município de Boa Esperança, no norte do estado, onde os ácaros atacaram folhas jovens do café, provocando deformações, necrose e queda prematura.

“Em nosso projeto de pesquisa nós rodamos o Brasil todo coletando ácaros para conhecer melhor a diversidade desses organismos nos diferentes biomas. Um de nossos parceiros do Espírito Santo entrou em contato relatando o problema no café e nós fomos até o local para registar, já que este é o primeiro relato do ácaro-rajado atacando cafeeiros”, explica Raphael Castilho, do Departamento Entomologia e Acarologia da ESALQ/USP, um dos autores da publicação.

O Brasil é o maior produtor mundial de café, e o Espírito Santo lidera a produção da variedade conilon, responsável por cerca de 30% da safra nacional. Nessa região, é comum o cultivo em consórcio de café e mamão nos primeiros anos de implantação da lavoura, uma prática que visa o sombreamento dos pés de café durante seu crescimento ao mesmo tempo em que garante uma renda ao produtor enquanto o café ainda não está em plena produção. No entanto, a proximidade com os mamoeiros – hospedeiro preferencial do ácaro-rajado – pode ter facilitado a migração deles para os cafeeiros.

Alterações nas folhas jovens dos cafeeiros. Foto: Raphael Castilho.

Os pesquisadores observaram que os ácaros, em diferentes estágios de desenvolvimento, se concentravam no verso das folhas jovens de café, produzindo teias abundantes e causando malformação foliar (folhas retorcidas e deformadas), necrose (tecido foliar morto) e queda prematura de folhas, comprometendo o desenvolvimento das plantas. Em um dos locais analisados, cerca de 30% das plantas foram afetadas e o comportamento do ácaro-rajado no café chamou a atenção: enquanto em outras culturas ele costuma atacar folhas mais velhas, no café o ataque ocorreu em folhas jovens, um padrão incomum cuja razão precisa ser investigada.

Segundo os pesquisadores, o fato da espécie ser um dos principais problemas fitossanitários do mamão no Brasil, e de difícil controle, leva produtores a intensificar o uso de acaricidas, muitas vezes de forma excessiva ou indiscriminada. Isso pode ter levado à seleção de populações mais resistentes do ácaro-rajado que, por sua vez, migraram para o café. Ou, ainda, pode ter eliminado inimigos naturais do ácaro, agravando o problema. “Também não podemos descartar as mudanças climáticas como um fator importante. O ácaro-rajado gosta de ambientes com umidade mais baixa e temperaturas mais altas, e as mudanças climáticas podem estar impactando a região estudada exatamente nesse sentido”, destaca Raphael Castilho.

Opção de manejo envolve outras espécies de ácaros

As recomendações para quem possui o plantio consorciado é fazer o monitoramento frequente dos cafeeiros e também nos mamoeiros. No caso de presença do ácaro-rajado, o controle pode ser realizado com o uso de acaricidas apenas no mamoeiro, pois não existem registros no Mapa de acaricidas para o controle do ácaro-rajado em cafeeiros. Esse controle químico deve ser feito sempre em dosagens e quantidade de aplicações adequadas ao local, evitando o uso indiscriminado ou excessivo, além de rotacionar produtos com modos de ação diferentes.

Plantio consorciado de mamão e café. Foto: Raphael Castilho.

“Nos cafeeiros, e também nos mamoeiros, uma das opções que indicamos é o controle biológico utilizando espécies de ácaros predadores, que controlam eficientemente a população do ácaro-rajado”, explica Raphael Castilho, “as duas espécies mais utilizadas no Brasil são Neoseiulus californicus e Phytoseiulus macropilis, que já são produzidas comercialmente no país, e são registradas no Mapa para o controle do ácaro-rajado em qualquer cultura agrícola”.

O uso de ácaros predadores para o controle biológico é considerado uma forma eficiente e sustentável para o controle de pragas na agricultura. Ampliar o conhecimento da diversidade de ácaros predadores nos diferentes biomas brasileiros é o objetivo central da pesquisa que deu origem à descoberta retratada nesta matéria. A pesquisa mapeia e descreve as espécies encontradas e estabelece criações de laboratório com aquelas de maior potencial de aplicação na agricultura.

Acesse o artigo completo

Castilho R.C. et al. (2024), A pest out-of-place: two-spotted spider mite, Tetranychus urticae (Tetranychidae), on coffee plants. Acarologia 64(4): 1312-1316. https://doi.org/10.24349/v72j-1ago

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