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Educação, divulgação e pesquisa se entrelaçam em Itanhaém

Atividades formativas, divulgação científica e lançamento de livro integram pesquisadores, professores, alunos e a bacia hidrográfica local

Divulgar as pesquisas acadêmicas, seja diretamente para o público, seja para trabalhos dentro de ambientes escolares, é um desafio que cada vez mais se coloca como essencial nas universidades. O caminho escolhido dentro do projeto “Estrutura e dinâmica de comunidades em rios e riachos costeiros da Mata Atlântica Bacia do Rio Itanhaém”, idealizado e coordenado pelo professor Antonio Camargo (Unesp Rio Claro) foi ter a Escola como foco: com um trabalho diretamente com os estudantes e outro de formação continuada de professores.

Foto: Ana Carolina Pacheco

A proposta de incluir um subprojeto voltado para a divulgação e educação veio, incialmente, como uma resposta à demanda obrigatória do PELD/CNPq. “Acho essa cobrança das agências de fomento algo muito positivo, algo que impulsiona os pesquisadores incorporar essas práticas nos seus projetos. No entanto, é muito difícil para o pesquisador fazer a pesquisa e divulgar e, para isso, as parcerias são fundamentais” comenta Antonio Camargo, “a meu ver, é preciso trabalhar em colaboração com pessoas que sabem fazer essa ponte entre as pesquisas e a área de educação e divulgação”. Neste caso, o subprojeto contou com a orientação de João Pedro Pezzato (Departamento de Educação/Unesp Rio Claro) e o trabalho das pesquisadoras Ana Carolina Pacheco e Tainá Vilela.
O trabalho com os estudantes foi realizado em uma escola de tempo integral, durante o horário de contra-turno, nas Oficinas de Meio Ambiente. “Nós trabalhamos com uma turma de cerca de 30 alunos, com idades entre 9 e 15 anos e optamos por fazer junto com eles o planejamento do trabalho daquele ano”, explica Pacheco. Entre as atividades escolhidas havia a proposta de sair da escola para interagir com os rios do entorno, conhecer a fauna local (especialmente os peixes), construir uma horta e assistir filmes em dias de chuvosos.
“Fomos criando um momento de aprendizagem com cada uma das atividades que eles solicitaram: usamos filmes que nos auxiliaram a discutir as relações deles com a natureza, saímos a campo com o objetivo de trocar conhecimentos, fizemos gincanas com o que tínhamos discutido e aulas práticas, por exemplo”, ressalta Pacheco. Para a pesquisadora, a troca de conhecimentos com os estudantes foi um dos pontos mais interessantes, “eles tinham muito conhecimento sobre os usos econômicos das plantas e nós fomos trazendo as características botânicas e ecológicas delas para a conversa”.

Foto: Ana Carolina Pacheco

Essa experiência resultou em uma exposição sobre macrófitas montada pelos próprios estudantes aos outros alunos da escola. “Foi muito interessante perceber como, rapidamente, os estudantes já se interligavam os diferentes conhecimentos na hora de apresentar a exposição e as imagens aos outros alunos da escola”, relata Pacheco.
Já o trabalho com os professores ocorreu em outra escola, mais urbana. A proposta foi de uma formação continuada centrada da escola, isto é, utilizando o próprio horário de planejamento coletivo dos professores como um momento de formação. “Tivemos alguns desafios como o tempo de planejamento que é bastante escasso para a criação de um projeto coletivo e interdisciplinar como gostaríamos que acontecesse e o contexto atual das escolas de desvalorização do trabalho docente e salas superlotas”, comenta Vilela, “ainda assim, procuramos fomentar vínculo desses professores pela temática e construir com eles alguns conhecimentos e trocas”. Os encontros envolveram o trabalho com materiais como revistas de divulgação científica, jornais locais, a exposição sobre macrófitas montada pelos alunos, palestras com pesquisadores do projeto e uma saída a campo para um novo olhar sobre a região, os rios locais e a compreensão da bacia hidrográfica.

“Uma das nossas experiências que pode auxiliar outros pesquisadores é a respeito dos apoios e parcerias necessários para o desenvolvimento de um trabalho de longo prazo”, ressalta Vilela, “nós tivemos o apoio da prefeitura de Itanhaém para chegar nas escolas e propor o nosso trabalho, e isso foi fundamental. Mas também ressaltamos que é preciso, sempre, o apoio dos gestores escolares – coordenação, supervisores. É muito difícil fazer um trabalho de longo prazo sem esse apoio”.

Foto: Ana Carolina Pacheco

O maior desafio, tanto com os estudante quanto com professores foi a respeito das visões sobre ciência e funcionamento da ciência. Aquela imagem de cientista solitário capaz de resolver todos os problemas isolado em seu laboratório foi bastante presente, assim como a ideia de conhecimento científico como algo pronto e acabado. Foi ao longo do trabalho que estudantes e professores foram tendo contato com diferentes materiais, situações e diálogos a respeito de ciência e processos científicos.
Pacheco e Vilela ressaltam que o desafio de interligar o conhecimento gerado na academia e os construídos nas escolas fez a equipe pensar na necessidade de um registro das experiências realizadas,“escolhemos publicar um livro exatamente para esse registro, não para que sirva como receita de trabalho, mas para fomentar outras experiências e possibilidades”.

 

 

ITANHAÉM: Características locais e ideias para trabalhar na escola
Ana Carolina Sales Pacheco, Tainá da Rosa Vilela ; Antonio Fernando Monteiro Camargo (coordenador); João Pedro Pezzato (supervisor). – São Carlos : editora Cubo, 2017.

Interessados em receber o livro em PDF podem entrar em contato pelos emails de Ana Carolina Pacheco e Tainá Vilela.

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