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Preocupação à vista

A quinta Plenária da IPBES adia o início de três diagnósticos sobre o status da biodiversidade no planeta.

 

Participantes do “Stakeholder Day”, em março de 2017, em Bonn, Alemanha (c) IISD Reporting Services.

A quinta reunião anual da Plataforma Internacional sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) trouxe preocupação para os mais de 460 participantes presentes. Para dar conta de suas despesas, a IPBES aprovou em sua reunião anual ocorrida em Bonn, na Alemanha, em março deste ano, contenções orçamentárias de quase um terço para 2018. Também adiou três importantes relatórios de avaliação do status da biodiversidade.

Criado em parceria com quatro agências da ONU, a IPBES foi inspirado no Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão técnico de alcance global com mais de três décadas de atuação e que publica regularmente relatórios influentes nas decisões acerca das mudanças climáticas globais. Contudo, a abrangência do IPBES é bem mais ampla. Além de documentar as tendências da biodiversidade, também identifica instrumentos práticos de política para a proteção e uso sustentável de espécies e ecossistemas. Diferencia-se substancialmente do IPCC pois apoia a capacitação de governos e outros atores envolvidos na gestão da biodiversidade e serviços ecossistêmicos.

A plataforma já recrutou mais de 1300 especialistas voluntários em todo o mundo para realizar seus diagnósticos que incluem dois relatórios lançados em 2016 (um sobre polinizadores e outro sobre modelos e cenários sobre biodiversidade e serviços ecossistêmicos). Atualmente estão em andamento um diagnóstico global, quatro regionais e mais um sobre degradação e restauração do uso da terra.

O primeiro programa de trabalho da IPBES termina em 2018 e foi impulsionado por uma doação generosa do governo da Noruega de US$ 8,2 milhões do total de US$ 40,5 milhões necessários para o seu desenvolvimento. Outras 21 nações contribuiram com o restante dos recursos que viabilizou a execução dos trabalhos. Com a contribuição norueguesa chegando ao fim e doações futuras incertas, as negociações orçamentárias prevaleceram até a última noite em Bonn, dividindo delgados entre o quão conservador o orçamento operacional deveria ser.

Por fim, os delegados cortaram o orçamento deste ano em 8%, para US $ 8,7 milhões, e cortaram o orçamento de 2018 em 30%, para US $ 5 milhões. A economia adveio do adiamento de três diagnósticos pendentes: o primeiro sobre espécies invasoras, o segundo uso sustentável de espécies selvagens e o terceiro documento que se propõe a avaliar como diferentes culturas percebem, medem e valoram as contribuições da natureza para pessoas (sobre este tema leia mais aqui).

As nações em desenvolvimento argumentaram que o segundo e terceiro relatórios são particularmente importantes para suas realidades locais. O financiamento para capacitação e apoio político também tiveram suas rubricas alteradas. O que poderia, na visão de alguns presentes, representar uma perda maior do que propriamente atrasar o início de diagnósticos pendentes.

Para gestores da IPBES não se trata somente de uma crise financeira, mas também de falta de pessoal e tempo de voluntariado. Especialistas externos, funcionários do governo que nomeiam peritos e revisam rascunhos têm suas agendas sobrecarregadas com o excesso de trabalho do cotidiano para somar mais este compromisso.

A esperança para alavancar novamente a Plataforma Internacional reside nas diferenças que o trabalho da IPBES já trouxe e pode trazer para as pessoas. O Relatório de Polinização, lançado em 2016, foi amplamente acolhido por tomadores de decisão de todo mundo. Há relatos de que na França, Coreia do Sul e outras nações já se remetem ao Diagnóstico de Polinização para embasar políticas locais e planos de ação. Outro aspecto inovador da Plataforma é a inclusão da perspectiva de outros sistemas de conhecimento nos diagnósticos que foi tão positivamente aceita por povos indígenas e comunidades tradicionais. Um estudo de impactos está sendo providenciado pelos gestores para conhecer melhor os efeitos da IPBES para os países membros.

Embora esta nuvem de desânimo tenha avançado sobre a última reunião da IPBES, o que não se pode perder de vista é que a Plataforma ainda está no começo e que em seus quase cinco anos de existência, já congrega conquistas contundentes que não podem ser desprezadas.

Por Paula Drummond de Castro

 

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