Acompanhando uma caminhada pela trilha do Pirapitanga, no Parque Estadual da Serra do Mar, Núcleo Santa Vírginia, na cidade de São Luiz do Paraitinga (SP) enquanto conversa com um botânico, monitores ambientais e um historiador. É assim que o espectador da produção Em Busca da Floresta se sentirá. Fruto de uma parceria entre Carlos Nunes, pesquisador do Programa Biota/Fapesp sobre polinização e reprodução de orquídeas da Mata Atlântica e Alberto Nasiasene, professor de história da rede municipal de Campinas e produtor de audiovisuais, o vídeo Em busca da Floresta aposta em uma relação entre cinema-verdade, documentários de natureza e divulgação científica.
O processo de criação do documentário poderia compor um outro roteiro que tem a escola e a questão ambiental como movimentadores: Nasiasene participou de cursos sobre o uso e produção de audiovisuais na educação, especialmente voltados para a educação ambiental. Neste processo, depara-se com a necessidade de aprofundamento sobre a Mata Atlântica e o encontro com Nunes, que começa a dar aulas na mesma escola. Desse encontro começa a planejamento do documentário e da expedição ao Núcleo Santa Virgínia, onde Nunes realiza sua pesquisa de doutorado.
“O processo todo foi fruto de dois anos de pesquisas”, salientam Nunes e Nasiasene, desde as conversas iniciais e o esboço das ideias para a captação de imagens e proposta estética passando pela fase de pesquisa prévia, a coleta de imagens, a reflexão e discussão sobre o trabalho e o processo de pós produção. “Do processo de pesquisa prévia surgiu um argumento que deu uma orientação teórica ao que nos propúnhamos fazer em termos de documentário, por exemplo, e esse argumento ainda será publicado em um livro”.
Documentar os bastidores da pesquisa de doutorado de Nunes, propor um diálogo entre os saberes da história e botânica e abordar discussões socioambientais foram alguns dos objetivos delineados para o documentário. “Não queríamos imprimir um espírito denuncista militante de movimento ecológico radical (tão comum em documentários sobre meio ambiente), por outro lado, também não queríamos fazer nada que fosse tão superficial que não questionasse nada, de forma equilibrada (mas com otimismo de perspectivas)” explicam Nunes e Nasiasene.
Outro ponto importante da produção diz respeito a uma discussão estética sobre como fazer documentários sobre o meio ambiente. A forma escolhida tem relações com a proposta de um “cinema verdade”. Neste tipo de proposta estética, as filmagens não são aleatórias e espontâneas e, ao mesmo tempo, não há um roteiro de diálogos, enquadramentos e cenas pré-construídas. Há um planejamento prévio de ações e temas a serem abordados, “o que se vê diante da câmera, mesmo que não seja a “realidade imaculada”, é o que realmente está acontecendo na medida em que se está filmando. Quando saímos a campo, já sabíamos o que iríamos fazer, mesmo que não soubéssemos o que iríamos encontrar pela frente”, completam Nunes e Nasiasene. Ainda dentro dessa proposta, não há um narrador onisciente, nem em terceira, nem em primeira pessoa, tão comum em vídeos sobre natureza, mas a opção por um coletivo de narradores que falam entre si, cada um a partir de seu próprio ponto de vista.
Para Nunes e Nasiasene é necessário desenvolver a consciência dos pesquisadores sobre o valor de registar a vivência cotidiana da pesquisa. Revelar para um público interessado tanto os temas de investigação quanto as metodologias do cotidiano do pesquisador transmite a experiência concreta da pesquisa. Para eles, compartilhar essas experiências pode ajudar na formação de novos cientistas e de uma imagem de ciência que se constrói em meio a contextos históricos e contradições da sociedade na qual se insere. A retomada de diários de campo seria uma das formas de documentação das ocorrências cotidianas e dos problemas intelectuais enfrentados pelos pesquisadores em suas pesquisas. “Pode parecer desnecessário diante do resultado final do trabalho de pesquisa publicado formalmente em artigos, dissertações, teses e livros. Mas não é”, afirma Nunes e Nasiasene, “tanto historiadores quanto os demais cientistas sociais e os outros pesquisadores da mesma área podem aproveitar as informações metodológicas e os conflitos teóricos, inclusive para discussões de procedimentos, metodologias e teorias”.
Em busca da floresta dialoga com outras produções de Nasiasene: Plantando o Saber (produzido a partir de um curso de no Museu da Imagem e do Som de Campinas), Mata de Santa Genebra (produzido com seus alunos) e outro, em fase de finalização, que pretende construir um diálogo entre a preservação da floresta e a agricultura florestal.
Ficha técnica
Em Busca da Floresta – http://www.youtube.com/watch?v=4EXab6YA9cM
Direção: Alberto Nasiasene
Roteiro: Alberto Nasiasene e Carlos Nunes
Câmera: Alberto Nasiasene
Still: Loretta Nasiasene
Participações especiais: Heitor Munaretti, Juliano Almeida, Loretta Nasiasene, Luciano Silva
Duração: 59 minutos
Produtora: Rota Mogiana
E-mails para contato: albertonasiasene@uol.com.br e cepnunes@gmail.com
O vídeo está publicado no YouTube (pode ser baixado livremente), mas também pode ser doado entrando-se em contato com o diretor e o botânico Carlos Nunes (co-roteirista). Licenciado sob o Creative Commons (ou seja, pode ser usado sem fins lucrativos desde que citada a fonte).
O conteúdo veiculado no vídeo fez parte, indireta (como motivação em produzir um audiovisual com conteúdo de educação ambiental), do projeto Mais Educação na escola (do MEC) em 2011 na Emef Raul Pila (Diretora em exercício em 2011: Maria Iara Prado; Orientador Pedagógico: Robson Alexandre Moraes; Coordenador do Mais Educação em 2011: Leônidas Pellegrini).