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Rumo à COP30: oportunidade para unir biodiversidade e clima

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Em novembro de 2025, o Brasil sediará a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30) em Belém, no Pará. Este evento crucial reunirá líderes mundiais, cientistas, ONGs e a sociedade civil para discutir e propor ações em áreas como redução de gases de efeito estufa, adaptação climática, energias renováveis, justiça climática, financiamento para países em desenvolvimento e conservação da biodiversidade.

Instituições de todo o país estão se mobilizando para contribuir com o debate e participar da COP30. A FAPESP, por exemplo, está organizando uma série de conferências ao longo do primeiro semestre. A primeira delas, realizada em 28 de março, focou na integração da biodiversidade na agenda climática. O evento contou com a participação de treze especialistas de diversas áreas, incluindo pesquisadores, representantes governamentais e da sociedade civil.

Questão central do evento continua em aberto e os pesquisadores ligados ao Programa Biota estão convidados a enviar sugestões pelo e-mail contato@biota.org.br .

A questão central que norteou o debate foi: “Que produtos e discussões podemos levar à COP 30 que tenham impactos positivos?”. Jean Paul Metzger (IB/USP e coordenador do Programa Biota/Fapesp) enfatizou “a importância de integrar as temáticas da biodiversidade e das mudanças climáticas para aumentar a resiliência a eventos extremos, garantir a conservação da biodiversidade e promover benefícios socioambientais justos”.

Essa questão central continua em aberto e todos estão convidados a enviar sugestões pelo e-mail contato@biota.org.br .

A seguir, reunimos algumas das sugestões de produtos e discussões para a COP 30 indicadas pelos participantes ao longo do evento.

Considerar as emissões de incêndios em florestas

Para Ane Alencar (IPAM), a contabilização das emissões de gases de efeito estufa de incêndios em florestas tropicais, especialmente na Amazônia, é uma discussão urgente. Ela explica que essas emissões não são atualmente computadas nas estatísticas nacionais, pois o fogo é considerado natural. No entanto, na Amazônia, o fogo é resultado do manejo da paisagem para outros usos. “Os eventos climáticos extremos fazem a floresta ficar mais inflamável e é preciso considerar que o fogo é acelerador de mudanças e tem um efeito devastador muito potente”, explica a pesquisadora, que ainda destaca a COP 30 como uma oportunidade histórica para a discussão sobre os incêndios em florestas e para a integração das agendas climática e de biodiversidade, já que vai acontecer na Amazônia.

Ciência como base para a integração Clima-Biodiversidade

Simone Vieira (Nepam/Unicamp e coordenação do Programa Biota/Fapesp) analisou projetos financiados pela FAPESP e identificou que apenas oito iniciativas citam explicitamente as temáticas de biodiversidade e mudanças climáticas simultaneamente. “É preciso reforçar que as mudanças climáticas têm sido identificadas como fato principal de mudanças nas pesquisas realizadas no âmbito do Programa Biota”, explica Simone Vieira, que lança o desafio de organizar as informações que estão sendo geradas nos projetos de pesquisa para que possam ser discutidas durante a COP de forma integrada.

Um dos projetos citados acima é o Centro de Pesquisa em Biodiversidade e Mudanças do Clima, coordenado pela pesquisadora Patrícia Morellato (UNESP Rio Claro e coordenadora do CBioClima), que também participou do evento. A pesquisadora enfatizou a importância do financiamento para avançar nessa integração. Já Carlos Joly (IB/Unicamp e coordenação da Iniciativa Amazônia +10) sugeriu a organização de um workshop sobre a integração científica dessas agendas, envolvendo pesquisadores e membros das delegações diplomáticas brasileiras de Clima e de Biodiversidade.

Justiça Climática: diversidade e pluralidade nas discussões

A justiça climática exige que as políticas de mitigação e adaptação não apenas reduzam emissões, mas também combatam desigualdades históricas. “É essencial trazer a perspectiva da diversidade e da pluralidade para dentro das discussões sobre mudanças climáticas e biodiversidade”, indica Gabriela Di Giulio (FSP/USP e coordenação do Programa Biota).

Dentro dessa temática, Jean Ometto (INPE) apresentou o Plano Clima, um guia da política climática brasileira até 2035, que está em sua terceira fase de consulta pública, voltada para os Planos Setoriais e Temáticos de Adaptação. “É muito importante que a comunidade, em particular a comunidade científica conheça os 16 planos setoriais, participe e dê opinião”, reforça o pesquisador. Na esfera Estadual, Marco Nalon (SEMIL) apresentou o Plano Estadual de Adaptação e Resiliência Climática como um exemplo bem sucedido de integração entre ciência, políticas públicas e participação popular por meio de consultas públicas.

Biodiversidade na inovação e no financiamento de ações

A taxonomia sustentável, um sistema de classificação para avaliar atividades econômicas sustentáveis, foi um dos temas de discussão. Patrícia Morellato defende a inclusão da biodiversidade nesse sistema: “entre os aspectos interessantes está o fato de que cada atividade precisa interligar dois Objetivos do Desenvolvimento Sustentável ao mesmo tempo, sem afetar negativamente nenhum outro. Só esse ponto já é um avanço nas relações entre Clima e Biodiversidade”, avalia a pesquisadora.

Pedro Brancalion (ESALQ/USP) também enfatizou a interligação entre clima e biodiversidade, apresentando uma avaliação de áreas de florestas restauradas realizada no projeto NewFor, vinculado ao Programa Biota. Ele observou que plantios diversificados e manejo voltado à restauração acumulam carbono e alta biodiversidade, diferentemente de monocultivos industriais. Nem sempre mais carbono significa mais biodiversidade, e essa nuance e a integração entre métricas de carbono e biodiversidade precisam ser incorporadas nas políticas e métricas para a COP 30”, ressalta o pesquisador. Pedro Brancalion também apontou a exclusão de florestas secundárias jovens nas metodologias de crédito de carbono, mencionando o desenvolvimento de novas metodologias que podem incluir essas áreas, dependendo de modelagem complexa e forte relação com a ciência.

Monitoramento da restauração de ecossistemas: uma necessidade urgente

O Brasil assumiu metas ambiciosas no Acordo de Paris, incluindo a redução das emissões líquidas de gases de efeito estufa de 59% a 67% até 2035, com o controle do desmatamento e a restauração florestal como estratégias principais. No entanto, Carlos Joly aponta a falta de um monitoramento eficaz para verificar o sucesso dessas iniciativas em âmbito nacional e cita o Estado de São Paulo como exemplo: “em função dos conhecimentos gerados pelos projetos de pesquisa do Biota nós temos uma lista de 80 espécies que devem ser plantadas na restauração florestal e como elas devem ser distribuídas e, com isso temos como monitorar e avaliar o que está sendo feito. Precisamos ampliar esse conhecimento para o restante do país”, reforça o pesquisador.

Pedro Brancalion complementa, sugerindo o uso de indicadores combinados de carbono estocado, métricas de biodiversidade e funções ecossistêmicas para monitorar projetos de restauração, além da criação de certificações híbridas que considerem créditos de carbono e biodiversidade para incentivar o financiamento.

Saúde como elo entre conservação e desenvolvimento

Luis Fernando Pinto (SOS Mata Atlântica) destacou a forte ligação entre clima, biodiversidade e saúde. Ele argumenta que a saúde pode unir essas agendas de duas formas: “os ecossistemas saudáveis, que minimizam o risco de doenças, zoonoses, pandemias e epidemias; e os sistemas alimentares – o que comemos faz diferença para nossa saúde. Isso está diretamente ligado ao que plantamos e ao que destruímos para plantar, criando uma agenda de dieta e sistemas alimentares que pode integrar clima, biodiversidade e saúde”.

Letícia Lotufo (ICB/USP e coordenação do Programa Biota) propõe que a inclusão da saúde na equação pode mudar a percepção de que investir em biodiversidade e clima se opõe ao desenvolvimento econômico: “Tratamos a ideia de investir em biodiversidade e clima como se estivesse em contraposição ao desenvolvimento econômico – historicamente sempre foi assim. Mas incluir a saúde nessa equação pode ser uma forma eficaz de mudar essa compreensão e de sensibilizar o público menos engajado ambientalmente na agenda da conservação ambiental”.

Assista ao evento na íntegra

Contribuições para a COP30: A Biodiversidade na Agenda Climática (manhã) – https://www.youtube.com/watch?v=ClMkFhLw9Gc

Contribuições para a COP30: A Biodiversidade na Agenda Climática (tarde) – https://www.youtube.com/watch?v=rcn9iQTnccE

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