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Conversa do mês – dezembro/2013 – ciclo de conferências Biota/Educação

Ao longo do ano de 2013, o Programa Biota/Fapesp organizou um ciclo com 8 conferências denominadas de “Biota Educação”. Organizadas tendo como referência os Biomas Brasileiros, as conferências tiveram como objetivo apresentar os conhecimentos existentes a respeito dos Biomas numa linguagem acessível para alunos e professores do Ensino Médio e interessados em geral. A Conversa do Mês é com a pesquisadora Vanderlan Bolzani, docente do Instituto de Química da Unesp de Araraquara, membro da coordenação do Programa e idealizadora deste ciclo de conferências.

1. Como surgiu a ideia de organizar um ciclo de conferências voltado para um público que não o acadêmico?

Vanderlan Bolzani – A ideia surgiu a partir de uma experiência anterior minha, ao longo do “Ano da Química”, em 2011. Um dia eu estava lendo um artigo sobre as dificuldades do ensino de ciências no país e pensei: por que não chamar os maiores cientistas que temos para falar sobre suas pesquisas diretamente para os jovens? Para o de ensino médio? Então nesse momento, na Sociedade Brasileira de Química, nós resolvemos fazer várias atividades. Uma delas foi sobre os últimos avanços da química no mundo, uma “Escola São Paulo de Ciência Avançada-FAPESP” dentro do rigor usual da academia para jovens cientistas. A outra atividade que me envolvi foi montar um ciclo de conferências, uma por mês aberta ao público. E foi um sucesso!

Então no início de 2012, quando começamos a pensar em fazer algo dentro do Programa Biota na área de educação, sugeri aos demais colegas da Coordenação Biota fazer algo semelhante ao ciclo montado durante o Ano da Química, conferências sobre vários assuntos, agora seriam sobre Biodiversidade. O Prof. Joly, sempre ousado e entusiasmado, acatou a ideia e sugeriu que as conferências fossem focadas nos biomas brasileiros. O ideal seria que fizéssemos em vários locais da cidade e do interior, para atingir um público maior, ou em grandes auditórios mas acabamos decidindo fazer um piloto no auditório da Fapesp mesmo. Acredito que o piloto foi muito bem aceito. Tenho recebido inúmeros emails de professores de ensino médio e de alunos solicitando ampliação e até dando sugestão para a continuidade.

No meu caso, acredito que também há uma motivação a mais para tais ações. Nós chegamos a um ponto da carreira acadêmica em que publicar os resultados das nossas pesquisas nas revistas continua sendo instigante e motivo de alegria mas, a minha felicidade já não passa somente por aí. Acredito que se cada um dos cientistas der uma pequena contribuição para melhorar o conhecimento de ciências para esses garotos, tenho quase certeza que ao longo do tempo podemos interceder e estabelecer uma nova cultura sobre ciência no país. Temos em nossas mãos material e talento para fazer com que os jovens enxerguem a ciência com outros olhos, e assim, entender o próprio meio em que vivem.

2. Como foi a preparação dos palestrantes convidados para conversar com o público escolhido?

Vanderlan Bolzani – Essa foi uma tarefa da Coordenação como um todo e do Prof. Joly, que deu a idéia dos ciclos por Biomas. Aliás, meus colegas de coordenação são fantásticos. Trabalhamos de forma harmoniosa e isto é fundamental para as coisas darem certo. O projeto do ciclo Biota-Educação foi encaminhado à Fapesp em meu nome. A verba solicitada foi concedida e nós tivemos apoio para trazer todos palestrantes, alguns de fora do estado, e organizar as conferências. A recomendação que ia na carta que fizemos é que as pessoas tivessem a noção que as conferências eram para professores e alunos do ensino médio. Que a linguagem deveria ser mais coloquial, mais simples. Alguns colegas com maestria conseguiram dar um show para os jovens, outros não. Mas não ficamos preocupados com as conferências de nível muito avançado porque as questões feitas pelos jovens eram muito interessantes, mesmo quando a conferência teve uma linguagem muito sofisticada, típica da academia.

3. E a decisão de organizar o ciclo de conferências tendo o conceito de Bioma como referência? Por que dessa escolha?

Vanderlan Bolzani –A ideia das conferências por biomas foi do Joly e foi acatada por toda a coordenação. Quando começamos a organizar os eventos nós tentamos trazer, junto com o ciclo de conferências, a exposição biomas brasileiros da Rio +20. Mas não conseguimos patrocinadores. Numa época de retração econômica, o valor era alto e acabamos não conseguindo. A exposição é lindíssima e de forma interativa tratava dos biomas e nós, sem a exposição, decidimos falar dos biomas, falar de paisagem, de ecologia, de química, de economia…

4. Como foi a participação de alunos e professores ao longo do ano?

Vanderlan Bolzani – As salas ficaram lotadas quase o ano inteiro, tinha muita gente lá que ia por pura curiosidade. Foi uma experiência muito bonita e rica para o Biota. Desde que foi criado o Biota sempre foi um programa de referência da “advance science”, e pensar em difusão do conhecimento é não tinha sido, até então, realizada. Foi gratificante e acho fundamental, pensando que grandes programas de Pesquisa no país tipo os INCTs (CNPq) e os CEPIDs (Fapesp) têm este componente como uma meta importante de avaliação de cada centro. Se você consegue transmitir um pouco de ciência à população, à sociedade em geral, aos jovens em particular, para que eles compreendam a importância da ciência no mundo atual, as pessoas podem começar e enxergar da ciência como um instrumento maravilhoso de descobrir o mundo. É uma forma de despertar a atenção e a curiosidade das pessoas para a importância de se conhecer o planeta terra em todas as dimensões. E também de fazer com que os professores compreendam que precisam estar sempre atentos às novidades que o conhecimento impõe a todo momento.

5. Existem planos para que esse ciclo de conferências continue em 2014. Quais são as novidades para o próximo ano?

Vanderlan Bolzani – Em 2014 nós teremos uma continuidade por mais um semestre. Investir em ações desta natureza contribui para a educação do país, cria exemplos que podem ser copiados. O Biota é um bom exemplo, veja o SISBIOTA-Cnpq. Desenvolvimento de temas sobre a biodiversidade é extremamente importantes não só do ponto de vista do olhar de cientista, mas para os jovens em formação e para a sociedade como um todo.

Em fevereiro a temática é sobre Serviços Ecossistêmicos, em março sobre polinização, em abril sobre a proteção aos recursos hídricos, maio sobre mudanças climáticas e, para finalizar, em junho, sobre os nutrientes nas florestas brasileiras. Veja que riqueza de assuntos de relevância econômica também para o Brasil que detêm uma das maiores biodiversidades do mundo.

[Mais informações sobre as datas, local e temáticas das conferências de 2014 poderão ser encontradas ao longo do ano no site do Programa Biota/Fapesp na sessão de eventos: http://www.biota.org.br/?page_id=32]

por Érica Speglich

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