Scroll Top

Estações Experimentais e a pesquisa e conservação da biodiversidade

As Estações Experimentais se configuram como áreas de uso múltiplo, privilegiadas para a pesquisa e conservação da biodiversidade no estado de São Paulo

As Estações Experimentais são consideradas áreas naturais protegidas no estado de São Paulo por meio do Sistema Estadual de Florestas, criado em 2006. Essas áreas são destinadas à realização de programas e atividades de pesquisas científicas e dispõe muitas vezes de importantes coleções de espécies florestais nativas e viveiro de mudas. São áreas compostas de uma diversidade de uso do solo que abrangem áreas de vegetação nativa, áreas com plantio de eucalipto e pinus, áreas de manejo, áreas experimentais, entre outras. Tradicionalmente, a pesquisas em recursos florestais têm predominado nestes espaços, entretanto, a pesquisa sobre a biodiversidade e, sobretudo, em relação às interações da biodiversidade neste mosaico de paisagens, são vertentes que poderiam ser mais exploradas. Outro aspecto urgente refere-se aos impactos do plantio e manejo de espécies não nativas – especialmente o eucalipto – em consórcio com nativas em áreas de reserva legal, uma possibilidade que foi aberta com o Novo Código Florestal

O Instituto e a Fundação Florestal (Secretaria do Meio Ambiente) são os órgãos responsáveis pela gestão da maior parte das áreas protegidas no Estado de São Paulo (veja a lista das áreas protegidas administradas pelo IF e seu mapa). Atualmente, 44% do total de áreas protegidas pelo Instituto Florestal está em Estações Experimentais. Algumas Estações Experimentais são administradas por outras instituições, como é o caso das Estações de Itatinga e Anhembi, administradas pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq).

“Nós caracterizamos as Estações Experimentais como de uso múltiplo”, explica Sílvio Ferraz, pesquisador do Departamento de Ciências Florestais e membro da comissão coordenadora das Estações Experimentais da Esalq. “Temos áreas de conservação, florestas que produzem e geram retorno financeiro, consórcios entre espécies florestais, apicultura, consórcios entre floresta e gado, visitação e produção de sementes, tanto de espécies nativas quanto de eucalipto”. E é o mosaico de vegetação e ocupações do solo que permite tais possibilidades.

Uso do solo na Estação Experimental de Itatinga. Imagem do Departamento de Ciências Florestais/Esalq/USP.

Atualmente, 26% das Estações Experimentais da Esalq são áreas de preservação permanente e reservas legais, e as outras áreas são utilizadas como áreas experimentais (onde se encontram instalados projetos de pesquisa e experimentações sobre o manejo florestal) e para ensino. Isto representa um leque de possibilidades para estudos em conservação, usos sustentável e restauração da biodiversidade.

Essas áreas “são espaços privilegiados para estudos de manejo e restauração florestal”, destaca Sílvio Ferraz. Esses estudos que servem como base para, por exemplo, planejar o manejo de áreas de conservação que permitam o extrativismo ou para compreender melhor a recuperação de áreas de reserva legal. Ou, ainda, o desenvolvimento de modelos de uso sustentável de áreas de reserva legal em propriedades rurais. Além de atividades de ensino, tanto em nível superior como para o ensino médio técnico agrícola e atividades de educação ambiental para escolas da região.

Sílvio Ferraz conta que “a Estação Experimental de Itatinga era da Companhia Ferroviária do estado e foi doada à Esalq entre as décadas de 1960 e 70, por interesse da própria universidade”. A vocação dessas áreas passou da produção para a conservação ambiental ao longo dos anos e com as alterações nas leis ambientais. “Temos talhões de eucalipto nos quais houve regeneração natural de espécies de cerrado e cerradão no sub-bosque, além de áreas de cerrado e mata ciliar em regeneração”, completa Ferraz. Essa heterogeneidade de ambientes abriga 27 espécies de mamíferos, incluindo a onça parda e o lobo guará e 129 de aves.

No momento, cerca de 150 projetos de pesquisa estão em andamento nas duas Estações coordenadas pela Esalq, incluindo as áreas de melhoramento genético de espécies florestais, silvicultura e manejo florestal, ecologia e tecnologia florestal.

Um destaque entre as pesquisas realizadas é o Programa de Monitoramento de Bacias Hidrográficas na Estação Experimental de Itatinga. Neste Programa de Monitoramento, a qualidade e a quantidade de água de 3 microbacias são monitoradas a cada dez minutos e o projeto busca avaliar o impacto do manejo do entorno na qualidade e quantidade de água monitorando tanto uma área com vegetação nativa quanto áreas com consórcio de plantio de eucalipto e árvores nativas. Para Sílvio Ferraz “a proposta visa estudar como plantar, usar, manejar e manter diferentes usos de áreas florestais garantindo a qualidade da água das microbacias”.

Posts relacionados