Letícia Veras Costa Lotufo, docente do Departamento de Farmacologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB-USP) e integrante da coordenação do Programa Biota/Fapesp acaba de ser agraciada com o Prêmio “Mulheres na Farmacologia no Brasil – Edição 2024”, oferecido pela Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêutica Experimental (SBFTE). A pesquisadora venceu na Categoria Líder por sua “destacada trajetória científica e acadêmica” e sua “liderança em ações político-científicas em nível nacional e internacional em prol da educação, ciência e inovação no Brasil”. A cerimônia de premiação acontecerá durante o 56º Congresso Brasileiro da SBFTE, no dia 08/10/2024, em Balneário Camboriú.
Além do Programa Biota, Letícia Lotufo coordena o Laboratório de Farmacologia Marinha (ICB-USP), a área de Ciências Biológicas II da CAPES e a Rede ProspecMar – um consórcio de pesquisa em produtos naturais marinhos que engloba 13 diferentes instituições brasileiras. Atua, ainda, como membro titular da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (ACIESP). No passado, foi membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências (ABC), vice-presidente e diretora executiva da SBFTE, membro do conselho da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Farmacologia da Universidade Federal do Ceará.
A entrevista foi concedida à jornalista Eduarda Moreira, logo após o anúncio da premiação em 06 de agosto de 2024.
Qual o significado desse prêmio para a sua carreira?
Eu fico muito feliz com esse reconhecimento dos colegas da SBFTE. Esta Sociedade tem um papel muito importante na minha carreira, me proporcionou muito aprendizado e muitas oportunidades de estabelecer colaborações nacionais e internacionais. Eu comecei a frequentar os congressos da SBFTE – que eram realizados no âmbito da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE) – no meu segundo ano de faculdade. A farmacologia brasileira tem contribuído significativamente com a evolução da área, o que torna esse prêmio ainda mais especial.
Considero, também, particularmente importante por se tratar de um prêmio para mulheres. A SBFTE é uma sociedade onde as mulheres têm uma projeção muito marcante. Já tivemos várias presidentes!
Ainda assim, é importante colocar as coisas em perspectiva. O prêmio não é só meu, é de todos os meus alunos que abraçaram o meu amor pela ciência, e de todos aqueles que acreditaram e abriram as portas para colaborar com nosso grupo.
De que maneira prêmios como este, entregues à cientistas brasileiros, podem ajudar na popularização e valorização da ciência em nosso país?
Acho a iniciativa importantíssima e é um grande estímulo para as pesquisadoras. A SBFTE sabe disso e sempre investiu neste tipo de gratificação, concedendo várias premiações. Além disso, esses prêmios também aumentam a divulgação e trazem – para o público geral e, principalmente, para as futuras gerações – uma valorização da carreira, um maior reconhecimento.
Mas a gente ainda precisa de um trabalho muito maior para divulgar a ciência no sentido de salientar que tem ciência em tudo que está a nossa volta. A pessoa precisa saber que o celular que ela segura na mão é pura ciência…que a inteligência artificial, a aspirina, tudo tem ciência! A gente coloca a ciência como uma coisa desconectada do nosso dia a dia, e o nosso desafio é justamente trazer a ciência para tudo o que a gente faz. Isso vai ser o nosso divisor de águas para termos uma população que realmente valoriza a ciência.
Quais iniciativas de liderança político-científicas você destaca na sua carreira?
Desde cedo eu gosto de participar da gestão. Acho que faz parte da nossa contribuição como pesquisador. Já fui chefe de departamento, coordenadora de pós-graduação, participei da diretoria e conselho de sociedades científicas, agora estou na coordenação de área da CAPES e no BIOTA. Essa vivência de gestão dá uma visão muito diferente da ciência com seus desafios e oportunidades, especialmente em relação ao fomento.
Por que é importante que mulheres ocupem os espaços de tomada de decisão e participem cada vez mais de ações como estas?
As mulheres têm uma contribuição imensa na gestão. É importante ocupar espaços e dividir esse protagonismo. Temos que investir em ações que aumentem a equidade e a inclusão em todos os níveis da carreira. Não podemos “carregar o piano” e não contribuir na definição dos rumos da ciência no nosso país. Temos que ser ouvidas e ouvir, assim fazemos história!
Qual o seu conselho para mulheres que pretendem ampliar sua atuação político-científica e assumir posições de liderança?
Sejam vocês mesmas, lutem por aquilo que acreditam, ousem, participem. Cada pessoa tem uma história, escrevam a história de vocês do jeito que lhes convém, com muito amor, respeito e generosidade. Somos todas sujeitos da transformação que nos levará para um mundo melhor.