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Pesquisadores e gestores públicos se reúnem para discutir coprodução de conhecimento

A articulação de conhecimentos entre atores distintos depende da criação de espaços não hierárquicos que acomodem diferentes tipos de conhecimentos, valores, expectativas e ritmos de trabalho

 

Pesquisadores e gestores públicos vinculados ao projeto Biota Síntese se reuniram, do dia 31 de julho a 2 de agosto, no Instituto Terra Luminous, em Juquitiba-SP, para discutir os caminhos possíveis para um bom processo de coprodução de conhecimento entre cientistas e tomadores de decisão. Uma das novidades do encontro foi a aplicação de uma dinâmica, desenvolvida pela equipe, que fez uso de uma ferramenta conhecida como metodologia Q, desenvolvida no campo da psicologia, que ajudou os integrantes a compartilharem suas visões e expectativas a respeito do processo de coprodução, e a partir daí identificar os maiores desafios e acordos necessários para tal processo.

O Biota Síntese tem como objetivo discutir e propor soluções baseadas na natureza capazes de contribuir para desafios socioambientais do Estado de São Paulo, construindo assim, subsídios para políticas públicas de interesse de diversas secretarias de estado. Para isso, o projeto, vinculado ao Programa Biota/Fapesp, foi construído conjuntamente por pesquisadores das universidades paulistas e gestores públicos das Secretarias de Infraestrutura e Meio Ambiente (SIMA – atual Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística – SEMIL), de Agricultura e Abastecimento e de Saúde.

Entre o início oficial do projeto, em fevereiro de 2022 e o momento atual, algumas parcerias com as secretarias ficaram fragilizadas e outras se fortaleceram, em parte, por conta da transição do governo estadual de 2022 para 2023. Outras parcerias, com algumas prefeituras paulistas também foram estabelecidas. Entretanto, os participantes vivenciaram muitos desafios relacionados às diferentes particularidades dos trabalhos normalmente realizados por gestores e pesquisadores, que difere em muitos aspectos, como objetivo, linguagem utilizada, demandas, tempo de produção e tipo de produtos gerados.

Coprodução como um processo de articulação de conhecimentos

O encontro foi proposto pelo núcleo de coprodução de políticas públicas do projeto, que tem como objetivo fazer essa meta-análise sobre os processos de coprodução desenvolvidos pelo projeto.

Diferentes metodologias para a articulação coprodução de conhecimentos foram aplicadas durante a reunião.
Foto: Renata Pardini

A primeira etapa do processo organizado pelas pesquisadoras Renata Pardini (IB/USP) e Patrícia Ruggiero (IB/USP), foi composta pela metodologia Q.  Nesta etapa, os participantes tiveram que ranquear 52 afirmações sobre diferentes aspectos e visões sobre coprodução em um tabuleiro com categorias que formam um gradiente entre “concordo muito” e “discordo muito”. Depois, cada um construiu uma explicação para suas escolhas, a partir de algumas perguntas norteadoras. Por fim, foi promovida uma discussão em grupo, guiada pelas mesmas perguntas norteadoras, em que os participantes puderam discutir sobre os desafios, os aspectos a serem valorizados e os alinhamentos necessários para conduzir um bom processo de coprodução.

Durante as discussões, foi destacada a importância de se entender a coprodução como um processo de articulação de conhecimentos e valores que deve ser feita sempre de forma coletiva e horizontal (não hierárquica). Para isso é preciso, por um lado, um real engajamento dos participantes, se envolvendo nas discussões e desenvolvimento de produtos comuns, sejam eles técnicos ou científicos, mas também é necessário identificar e respeitar diferentes ritmos de trabalho entre os atores envolvidos.

Justamente, para que haja esse engajamento, é importante que as instituições de pesquisa/ensino,  os órgãos de gestão  e as agências de fomento à pesquisa reconheçam o tempo necessário para o desenvolvimento desses trabalhos coletivos. Isso é especialmente importante para os pós-doutorandos que estão construindo sua carreira e são constantemente avaliados por sua publicação científica. Nesse sentido, foram levantadas soluções como: inclusão de ISBN nas publicações técnicas, emissão de certificados para planejamento e facilitação de encontros e reuniões e uma oficina sobre escrita de white papers – documentos abrangentes e confiáveis que apresentam informações, análises e soluções relacionadas a um determinado tópico, problema ou tecnologia.

A reunião de imersão da equipe, ou seja, todos reunidos em um único local por determinado período, foi muito importante para trocar informações sobre os diferentes núcleos do projeto – polinização e serviços ecossistêmicos em ambientes rurais; restauração de paisagens florestais e economia de base florestal; doenças zoonóticas e serviços ecossistêmicos urbanos – para discutir os melhores caminhos e integrá-los. Esse aspecto é particularmente importante para projetos, como o Biota Síntese, que têm pesquisadores alocados em diferentes cidades. O grupo ainda pode conhecer algumas das parcelas de amostragem do NewFor, outro projeto vinculado ao Programa Biota, que está estudando formas de colaborar com as informações sobre restauração florestal para o Biota Síntese.

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