Scroll Top

Biodiversidade é indicador chave para saúde humana e de ecossistemas

Nas regiões neotropicais a perda da biodiversidade afeta diretamente a incidência e ocorrência de doenças infecciosas, como, por exemplo, a malária, a febre amarela e a febre maculosa. Para compreender melhor essa dinâmica é preciso aumentar o conhecimento sobre diferentes aspectos relacionados à biodiversidade e à capacidade dos ecossistemas de regulação de doenças infecciosas. Entre esses aspectos estão a diversidade de espécies de mosquitos em diferente ambientes, a propagação de diferentes vírus em florestas fragmentadas, o impacto do desmatamento na ocorrência de doenças como de febre maculosa e malária, entre outros. O artigo Biodiversidade e a interface com a saúde pública , publicado no número especial da Revista Biota Neotropica sobre os 60 anos da Fapesp, resume a contribuição do Programa Biota para pesquisa nesta área do conhecimento.

Para isso, o artigo faz uma análise histórica dos projetos de pesquisa sobre a temática realizados nos últimos 20 anos no âmbito do Programa Biota e traz, ainda, propostas da comunidade de pesquisadores para o incentivo à pesquisa na área. O artigo tem como autores os pesquisadores Adriano Pinter (Instituto Pasteur), Paula Ribeiro Prist (EcoHealth Alliance) e Mauro Toledo Marrelli (Faculdade de Saúde Pública/USP).

A abordagem desenvolvida para reconhecer, pesquisar e promover o saúde do ser humano, bem como de outros animais e o compartilhamento de um ambiente saudável tem sido chamado de One Health. O que é uma estratégia multidisciplinar que envolve especialistas em saúde humana, animal e ambiental, e outras disciplinas e setores relevantes. “Visto que o Estado de São Paulo já foi identificado como um local importante para o aparecimento de novas doenças infecciosas associadas à expansão da agricultura (e seu potencial para o desmatamento e a perda de biodiversidade), a abordagem One Health deve ser adotada como estratégia para evitar um alto risco futuro para a saúde pública”, explicam os autores, “descrever a biodiversidade do território para a fauna, flora e microorganismos, para identificar as áreas mais importantes para a preservação, reconhecer e propor novos corredores florestais estão entre os principais objetivos do Programa Biota/Fapesp, e isso está em consonância com a política de saúde pública para promover um Estado de saúde e bem-estar”.

Entre as pesquisas citadas pelos autores do estudo está a coordenada por Gabriel Zorello Laporta (FUABC) que avaliou aspectos pouco explorados sobre a dinâmica de transmissão de malária no Brasil, em particular aqueles relacionados a recentes assentamentos humanos. Outro projeto citado analisou os reservatórios de Hantavírus nos roedores, os casos de Síndrome Pulmonar por Hantavírus e suas relações com os determinantes ambientais. O resultado do trabalho indicou que os comportamentos de risco associados às colheitas agrícolas são determinantes no processo de infecção, além do aumento do número de roedores nesses ambientes.

Outras pesquisas analisadas também se debruçaram sobre as mudanças nas paisagens e o aumento da ocorrência de zoonoses, como, por exemplo, os fatores ecológicos associados ao surgimento e circulação da febre amarela no Brasil ou a avaliação da diversidade de mosquitos da cidade de São Paulo. “Compreender a diversidade de mosquitos em uma grande metrópole abre perspectivas para saber quais são as espécies locais que resistiram ao processo de urbanização e persistiram no processo de ambiente humano modificado e também a existência e o comportamento de espécies invasoras de mosquitos”, explicam os autores.

Para os autores, os próximos 10 anos devem ser dedicados a estudos que analisem a modificação da paisagem e do clima na relação com as doenças infecciosas e seus vetores: “tanto a supressão quanto a recuperação das florestas pode causar um situação desequilibrada entre os animais vertebrados e invertebrados e agentes patogênicos em potencial que podem produzir doenças e outros problemas para o ser humano. Estudar e determinar os hotspots locais onde, mais provavelmente, emergência ou reemergência de doenças os eventos podem acontecer deve ser uma prioridade”.

Sobre a Biota Neotropica Especial

Em comemoração aos 60 anos da FAPESP a Revista Biota Neotropica, publicada pelo Programa Biota/Fapesp, reúne artigos que analisam a contribuição da Fundação para a área de pesquisa em conservação, uso sustentável e restauração da biodiversidade. O número especial conta com 24 revisões temáticas originais disponíveis na página da revista (https://www.biotaneotropica.org.br) e do SciELO (https://www.scielo.br/j/bn/).

Segundo o editor-chefe da revista, Carlos Joly (IB/Unicamp), a proposta é destacar os avanços no conhecimento científico desde 1962 (data de fundação da Fapesp), “creio que esta é uma excelente oportunidade de sintetizarmos a enorme contribuição dada pela Fapesp para a grande área temática que a caracterização, conservação, restauração e uso sustentável da biodiversidade abrange. Evidentemente, destaque é dado aos projetos desenvolvidos no âmbito do Programa Biota, de 1999 até o presente”.

Desde seu lançamento em 2001 a Biota Neotropica segue a política de acesso livre, isto é, todos os artigos estão disponíveis em formato on-line sem custos para os leitores. E a partir de janeiro de 2022 os dados dos artigos aprovados começaram a ser publicados em repositórios públicos , em consonância com o processo de alinhamento às práticas da ciência aberta promovido pela Rede SciELO.

 

Posts relacionados